Você sabia que existem Baiacus de água doce que ocorrem no Brasil?
Hoje vou falar um pouquinho sobre os peixinhos que eu estudo.
Segue o fio!
Ao contrário do que muitos pensam, existem peixes da família Tetraodontidae (tetra= quatro/ odonto= dente) em rios brasileiros. A hipótese mais aceita atualmente é que esses animais entraram no continente através de transgressões marinhas, 15-20 ma atrás, durante o Mioceno+
Isso ocorreu com outros animais também, um exemplo que eu gosto muito de usar são as arraias, parentes dos tubarões que se adaptaram muito bem a água doce. No Brasil nós temos a família Potamotrygonidae, comportando mais de 30 espécies de arraias de agua doce.
Baiacus são conhecidos pela capacidade de se inflarem quando submetidos a situação de estresse, isso se dá pelo estômago altamente modificado deles, que pode se encher de água ou de ar, aumentando o volume corporal como forma de defesa.
Outra característica marcante desses peixes é a presença de neurotoxinas, Tetrodotoxina e Saxitoxina, encontradas em seus tecidos. Apesar disso, sua carne é apreciada, ocasionando vários casos de envenenamentos todos os anos ao redor do mundo.
Atualmente existem cerca 190 espécies descritas em 19 gêneros. Mas nosso foco aqui é o gênero Colomesus, descrito por Gill em 1884. Existem 3 espécies nesse gênero, C. asellus, C. tocantinensis e C. psittacus.
O C. asellus é o mais comum, popularmente conhecido como baiacu-amazônico, espécie pequena, raramente passa dos 8 cm. Sendo encontrado na bacia amazônica, nos rios Capim e Tocantins (Brasil), Orinoco (Venezuela), Essequibo (Venezuela e Guiana), Capim e Tocantins (Brasil).
O Colomesus tocantinensis, endêmico do Rio Tocantins, é uma espécie descrita recentemente. Ele foi separado de C. asellus em 2013 com base osteologia e biologia molecular, é bem complicado distinguir uma espécie da outra+
alguns trabalhos encontram diferenças sutis morfologicamente, porém mesmo essas diferenças podem variar de acordo com a região. Em alguns casos eu só tenho certeza da espécie quando vejo o encéfalo do bicho.
📷Pedro Henrique Marinho
Por fim, temos o primo mais distante, C. psittacus. Esse possui padrões diferentes, é maior, mais robusto. Ele ocorre tanto ambientes de água doce, estuarinos até mesmo em regiões marinhas, limitados as áreas de até 40 metros de profundidade
📷@TatoFianna
distribuindo-se do Golfo de Paria (Venezuela) até o estado do Pará (Brasil), sendo abundante nos estuários da bacia amazônica. Esse é maiorzinho, podendo chegar a 30cm.
No meu projeto de iniciação científica, estou analisando e comparando os encéfalos dessas 3 espécies, buscando compreender melhor o desenvolvimento encefálico de Teleósteos e relacioná-los com o ambiente.
Os C. asellus e tocantinensis são bem pequenos, logo é de se esperar que seus encéfalos sejam pequenos, mas não deixam de ser lindos. O sistema nervoso central é algo fascinante.
📷Encéfalo de C. asellus, visão dorsal / Pedro Henrique Marinho
Infelizmente ainda não coloquei as mãos em um C. psittacus, pois eles não ocorrem aqui no Tocantins, então tenho que esperar vir de outras coleções. Devido a pandemia tive uns atrasos, mas logo eles vão chegar.
Mais pra frente eu irei falar mais dos resultados do projeto no meu perfil (@baiacool_), caso você tenha interesse é só me seguir. Além disso no meu TCC estarei trabalhando com outro gênero mais conhecido, só não vou dar spoiler XD.
Referências: (SZPILMAN, 2002; NELSON, 2006; CAMARGO & MAIA, 2008; AMARAL et. al., 2013; FRICKE et. al., 2020).
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