Mellanie F. Dutra Profile picture
Biomédica, Neurocientista/Bioquímica, Pesquisadora, Professora e TEDx Speaker | Saúde e Ciências | Ela/Dela | 🇧🇷 | #DefendaoSUS

Aug 21, 2021, 33 tweets

Estudo 🇧🇷 avaliando a efetividade da CoronaVac em população idosa, durante a circulação da #Gama demonstra que:
🔹2 doses são necessárias para uma maior proteção
🔹>14 dias após a 2ª dose, vemos valores de efetividade maior especialmente na faixa etária de 70-74

Acompanha 👇🧶

O estudo é coordenado pelo @juliocroda que já comentei e sempre que posso exalto por aqui porque é uma pessoa inspiradora e que vem fazendo um trabalho muito necessário. Da mesma forma que o @otavio_ranzani , um querido amigo e pesquisador incrível!

O grupo vem publicando alguns artigos muito importantes, que tive o privilégio de comentar em momentos anteriores, como nesse fio:

O estudo contou com 22.177 participantes que contribuiram com 55.519 amostras/resultados de RT-qPCR. Ao lado, a tabela com as características da população estudada, dividida nos grupos:
🔹70-79 anos
🔹80-89 anos
🔹>90 anos

Os autores destacam, nos gráficos abaixo, o momentos em que iniciou a vacinação nas faixas etárias acima citadas, e mostra um comparativo, ao longo do tempo quanto a média de casos, admissões hospitalares e mortalidade por 100.000 pessoas

É notável a redução desses parâmetros após o início da vacinação e, possivelmente o momento posterior que vemos o início dessa queda, possa ser paralelo ao momento em que as coberturas vacinais pra essas faixas aumentam, bem como para a 2ª dose

Também observa-se, nesses períodos, as vacinas que foram aplicadas (acumulado) nessa população (cobertura em %) e as variantes que estavam em circulação, sendo a #Gama a mais predominante

Observando pelas faixas etárias, vemos que, >14 dias após a 2ª dose, para casos sintomáticos:
🔹70-74 anos: 59%
🔹75-79 anos: 56,2%
🔹>80 anos: ~33%

Os valores foram maiores quando analisamos a efetividade contra hospitalizações e óbitos, como falarei a seguir

>14 dias após a 2ª dose, para hospitalizações:
🔹70-74 anos: 77,6%
🔹75-79 anos: 66,6%
🔹>80 anos: ~39%

Sabemos que o processo de imunosenescência ocorre a medida que a idade avança, podendo em parte justificar os valores em >80 anos

>14 dias após a 2ª dose, para óbitos:
🔹70-74 anos: 84%
🔹75-79 anos: 78%
🔹>80 anos: ~45%

Mesmo com valores baixos vistos em >80, a vacina tem contribuído na ⬇️da mortalidade. Mas é importante aplicarmos a 3ª dose para, principalmente idosos >80 pra fortificar a proteção

Antes que venham culpar a vacina ou desmerecer a CoronaVac, devo lembra-los que essa redução da efetividade não é exclusiva dela.

E mesmo com essas efetividades mais baixas, vemos que, com uma grande cobertura, teve um impacto em reduzir a taxa de mortalidade, inclusive na pop. >80.

MAS, a medida que estamos aumentando cada vez mais a cobertura da população, chegando nas faixas etárias mais jovens do público-alvo, precisamos delinear nossa estratégia de quando e como funcionará a aplicação de uma 3ª dose, e para quais grupos

Nos 🇺🇸, que estão mais avançados que nós nessa cobertura da 2ª dose (52% vs. 24%), principalmente, vemos que já irá começar a aplicação de uma 3ª dose na população idosa e de pessoas com imunocomprometimento/imunossupressão

Mell, significa então que a CoronaVac falhou, é uma vacina ruim e temos que nos desesperar? NÃO.

Explico em detalhe sobre tudo isso aqui:

Mas sem avançar substancialmente na cobertura da 2ª dose, e tendo um monte de gente que não voltou para tomá-la, entramos na questão: temos ainda muitos suscetíveis sem D1 ou sem a D2. Podemos iniciar a D3 nas populações específicas? oglobo.globo.com/saude/medicina…

Bem na honestidade, a resposta deveria ser "sim, porque TEMOS IMUNIZANTES SUFICIENTES para seguir expandindo a vacinação e começar uma vacinação em populações específicas para fortificar as defesas".

Mas nossa resposta permanece no dilema, sofrendo da falta de estratégia

Mas a culpa é da vacina? Ou a culpa é mais complexa que isso? O que estamos fazendo, enquanto governo e sociedade, pra controlar a transmissão, que segue alta, enquanto as coisas seguem abrindo cada vez mais?

E não digo que as coisas não devem abrir. Mas para abrir, precisa de fiscalização e segurança. Abrir num cenário desfavorável só tornará tudo ainda mais complexo, e o problema vai bater na nossa porta, não importa o quanto a gente tente o ignorar.

Então assim, vamos dismistificar uma coisa: quando falamos em aberturas e nos posicionamos para algo seguro pra sociedade, não somos CONTRA isso. Mas pedimos que isso seja feito com responsabilidade. Países que fizeram isso tiveram retomadas economicas mais rápidas e melhores.

Outro ponto relevantíssimo: cobertura vacinal. Quanto maior a cobertura, expandindo ao máximo para toda a população-alvo, maior será a proteção que todos os grupos se beneficiarão. É um conceito dinâmico

Esses valores podem subir se avançarmos rapidamente para a cobertura de 2 doses de toda a população adulta/alvo dessa campanha de vacinação. Para falarmos de 3ª dose, é importantíssimo garantir essa aceleração, e cobrá-la de nossas autoridades.

Em resumo, os dados são muito importantes e somam-se ao que já sabemos: temos que ampliar a cobertura da D2, precisamos determinar quais populações devem receber uma D3 e quando e sobretudo, CONSCIENTIZAR as pessoas. Usem máscara, façam distanciamento. É nossa responsabilidade.

Não culpem a vacina, quando a culpa está na transmissão não controlada.
Não culpem a vacina, quando algumas questões residem em problemas na comunicação dos dados
Não culpem a vacina por ela não estar segurando a barra sozinha, quando nós não estamos fazendo nossa parte direito

E tudo isso não invalida em momento algum a discussão de uma terceira dose, falar abertamente se precisamos e quando deveríamos iniciá-la. Esse assunto foi tão politizado que eu fico 5h pra fazer um fio que eu faria em 15 min cuidando cada palavra que uso pra não haver distorção

Está certo isso? Está certo depois de mais de 1 ano de pandemia ter cidadão que se recusa a usar máscara? que aglomera, faz festa clandestina, que se acha invencível a ponto de não cogitar ficar doente ou adoecer alguém caso se infecte?

Caramba gente, só pode ser um genjutsu*

*Essa referencia somente minha comunidade otaku irá entender hahahaha

Mas enfim, troque "genjutsu" por ilusão coletiva das grandes.

Pessoal, quanto mais rápido entendermos que sairemos mais rápido disso se tomarmos o remedinho amargo que sabemos que funciona, mais cedo estaremos fazendo tudo que nos é caro e temos saudade/vontade. É bastante simples a lógica, somos uma sociedade, devemos agir como tal.

Outra coisa que aprendi com uma grande mulher chamada Marie Curie é: as coisas não devem ser temidas, e sim entendidas.

E aqui faço uma adaptação: não devemos nos desesperar. Devemos entender e com a razão, transformar nossa realidade.

Temos os meios, mas precisamos dos braços

E agora realmente pra terminar. TODAS as palmas do mundo para @juliocroda @otavio_ranzani todos os autores desse artigo, dos que vieram antes e de todos que ainda virão, brasileiros incansáveis trabalhando em prol da saúde, segurança e progresso da sociedade! Deixe seu like!

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