AINDA SOBRE O 7 DE SETEMBRO
Tenho conversado com muita gente sobre o que nos aguarda dia 7. É difícil fazer uma análise fria: descartar uma tentativa de ruptura é ignorar o que Bolsonaro e seus apoiadores vêm dizendo abertamente; falar em golpe, por outro lado, soa alarmista 👇
Não tenho respostas prontas nem bola de cristal, então quero pensar alto com vocês. Para organizar o pensamento, vamos falar de algumas premissas.
1. Bolsonaro sabe que será difícil vencer as eleições. Por mais que diga que as pesquisas são enviesadas, seu círculo mais próximo👇
...sabe que derrotar Lula exigirá uma conjunção de fatores econômicos e políticos quase impossíveis a essa altura.
A carta da fraude eleitoral será usada sistematicamente até ano que vem, mas a derrota do voto impresso esvaziou esse discurso. O bolsonarismo já mudou de assunto👇
2. A única forma de Bolsonaro vender a narrativa de que segue popular é pelas ruas. Passeatas, motociatas em lugares estratégicos, fotos grandiosas para colocar na parede do gabinete. Não tem valor estatístico, mas tem poder imagético. Grandes aglomerações dão força à narrativa👇
...e ajudam o presidente a "melar" as eleições do ano que vem, diante do provável resultado desfavorável.
Por isso mesmo, essas manifestações vêm sendo tratadas como a última cartada de Bolsonaro. Isso explica o inédito grau de organização, mobilização e dinheiro envolvidos 👇
Percebam que, ao contrário de outras manifestações, tratadas pelo bolsonarismo como "espontâneas", dessa vez o presidente faz questão de convocar seus apoiadores publica e reiteradamente.
Sinal de desespero, mas também de confiança de que algo grande poderá acontecer no dia 7 👇
Agora, o que Bolsonaro deseja que aconteça nas ruas? Apesar de dizer que serão manifestações "patrióticas e ordeiras", parece claro que ele aposta em algum grau de violência e confusão.
Ora, o dia 7 não pode ser "mais do mesmo", pra cair rapidamente no esquecimento público 👇
Manifestações ordeiras dão ótimas fotos, mas não geram grandes fatos políticos. É diferente dos protestos "fora Dilma" de 2015-16, em que a Paulista verde-amarela foi o empurrão pro Congresso desembarcar de vez da base governista. Neste caso, o povo nas ruas dificilmente levará👇
...a uma mudança de comportamento da Câmara (que já está alinhado), do Senado (que já está distante) ou do STF (que virou o conveniente inimigo da pátria).
Então é razoável dizer que Bolsonaro quer violência. Primeiro, porque é uma ótima maneira de continuar polarizando 👇
...entre esquerda arruaceira e direita pacífica. Claro que a agressão tem que partir de comunistas infiltrados. Lembram-se de que a 1a reação à invasão do Capitólio era a de que havia esquerdistas causando tumulto intencional? Pois é.
Forjar um tumulto de esquerda é facílimo 👇
...bastando que algum bolsonarista/P2 vestido de camisa vermelha agrida um cidadão de bem. Já vimos essa história e não podemos descartá-la.
Segundo: a violência é o melhor pretexto para Bolsonaro invocar o infame art. 142, mediante uma situação induzida de descontrole social 👇
...que justifique alguma forma de estado de exceção. Isso é prato cheio para que os bolsonaristas consigam aquilo que pregam há algum tempo: suspensão dos poderes constitucionais e "intervenção militar com Bolsonaro no poder". Juridicamente patético, mas politicamente possível 👇
...lembrando que autogolpe tem precedentes na Am. do Sul e que incitação presidencial de violência contra instituições, idem.
Terceiro: como bem pontuou @CECLynch, não podemos descartar a hipótese da martirização, repetindo a narrativa que levou Bolsonaro à presidência em 18👇
...ou seja, Bolsonaro, absolutamente exposto em um carro de som na Av. Paulista, pode ser vítima de mais um atentado político. Independentemente de quem o cometa, poderá servir de justificativa para uma tomada autoritária de poder, provavelmente com uma conflagração violenta 👇
Enfim: as movimentações para o 7/9 são preocupantes. PMs aderindo em massa à "grande contrarrevolução patriótica" bolsonarista, assim como caminhoneiros, evangélicos, ruralistas e uma classe média ainda alinhada ao presidente.
Estamos diante de um tensionamento inédito👇
...das instituições democráticas na Nova República, ativamente induzido pelo presidente.
Pode não dar em nada, mas ainda acho cedo para pensarmos no "day after". O dia 7 só acabará quando todo mundo voltar pra casa.
Até lá, tudo pode dar errado. Espero não ter razão nessa.
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