Mellanie F. Dutra Profile picture
Biomédica, Neurocientista/Bioquímica, Pesquisadora, Professora e TEDx Speaker | Saúde e Ciências | Ela/Dela | 🇧🇷 | #DefendaoSUS

Sep 8, 2021, 36 tweets

Preprint com alguns dados da neutralização de anticorpos de recuperados e vacinados contra a variante de interesse (VOI) #Mu

Devo me preocupar? O que os dados significam?

Vou abordar também outras variantes, como a #Delta neste fio

E aí, vai perder de ler? 🧐 Acompanha! 👇🧶

Hoje vi muitas análises comentando sobre o preprint abaixo, trazendo alguns dados importantes, mas com um tom alarmista, o que pode fazer com que a gente entenda de forma equivocada algumas coisas. Então, vamos entender juntos!
biorxiv.org/content/10.110…

Se tu quiser saber mais sobre a #Mu comentei sobre ela nesse fio:

Estima-se que o surgimento da #Mu tenha ocorrido na Colômbia 🇨🇴 tendo sido isolada pela primeira vez em Janeiro/21, conforme mostrado na setinha azul, no gráfico abaixo. A 🇨🇴teve uma forte onda a partir de março, momento em que a #Gama foi muito presente em circulação

Em Maio, já observamos que a #Mu cresceu em predominância, superando outras variantes. Atualmente, vemos a presença forte da #Mu segundo dados de Agosto (9-23/08) pelo site covariants.org/per-country

Abaixo, o artigo traz no material suplementar algumas mutações presentes na VOI #Mu e, em vermelho, tomei a liberdade de circular algumas mutações que estão presentes em outras variantes, como as #VOCs #Alfa #Beta #Delta e #Gama e em algumas VOI

E sabemos que algumas mutações podem estar relacionadas com impactos na atividade neutralizante de anticorpos (AC). Um exemplo é a conhecida E484K, que nos impressionou bastante quando conhecemos a #Beta

Analisando a neutralização de AC de 8 pessoas recuperadas de COVID-19 usando pseudovírus ("imitam" o vírus com as mutações encontradas na variante que queremos estudar), vimos que a #Mu gera um impacto significativo (12,4x segundo o estudo).

Nos demos mal, Mel? Não, calma

Ainda, os autores mostraram o impacto em amostras de vacinados com a vacina da Pfizer, mostrando também um impacto pela variante #Mu de 7,6x.

Nos demos mal, Mel? Não, calma, vou explicar esse e o último tuíte nos próximos abaixo:

@sailorrooscout (que faz tudo no Twitter em termos de comunicação na COVID-19), comenta muito bem que resultados com pseudovírus podem variar por conta das limitações técnicas. Estudos com o vírus vivo nos dão resposta melhores.

E o que eles dizem?

Em outro estudo, com vírus vivo, vimos que amostras de pessoas vacinadas neutralizaram de forma eficiente a VOI #Mu com um impacto de ~ 2 vezes, bem diferente do visto no preprint (12,4x). Ou seja, a #Mu impacta? Sim, mas mais do que outras variantes? Não

icpcovid.com/sites/default/…

Gente, é claro que é importante monitorar a #Mu. Ela e todas as outras VOC e VOI. Mas temos que ter muita cautela na interpretação e dados e de como apresentamos eles, trazendo algumas análises e interpretações.

Estamos vendo uma expansão lenta da #Mu na América do Sul, enquanto a #Delta ganha um pouco mais de aceleração.

É bastante provável que, mesmo a #Mu tendo essa evasão significativa, a transmissibilidade da #Delta suplanta isso. Ela ganhou espaço muito rápido e pela sua alta transmissibilidade, dificilmente a #Mu se sobressairia.

Nos dados do PHE 🇬🇧 não vemos também, até o momento, um crescimento acelerado considerando outras variantes presentes nesse cenário.

Fato é que outras variantes vão surgir, se não controlarmos a transmissão mais ativa e efetivamente. O surgimento de variantes está atrelado a alta transmissão do vírus. Sabemos disso.

E sabemos que vacinação em massa + uso de máscaras e distanciamento funcionam.

[Fio em construção]

A #Delta tem características que ajudam a entender como ela ficou tão prevalente. Ela tem uma alta infectividade (comparada com a B.1.617.1 outra variante emergente da Índia🇮🇳). Ainda, infecções com #Delta não aumenta tempo de hospitalização comparado com variantes não-#Delta

Então, temos um misto de coisas: uma evasão da resposta imunológica, mas que não a torna insensível às defesas formadas pelas vacinas, por exemplo, somado a adaptações que propiciam com que ela entre de forma mais eficiente na célula e se replique (gerando muitos novos vírus)

Ou seja, uma combinação de evasão da resposta + aumento da transmissibilidade podem ser um dos fatores que tornaram a #Delta uma variante que ganhou muita presença no 🌎🌍🌏

Porém, as vacinas seguem protegendo, muito bem obrigada!

Mas se a transmissão seguir alta, sem controle efetivo, o risco de surgimento de novas variantes com adaptações maiores pode ocorrer. Essas mutações ocorrem de forma aleatória, mas aumentando sua frequência, é possível que vejamos a reunião de fatores-chave mais frequente também,

Esses últimos dados da #Delta tirei desse artigo aqui nature.com/articles/s4158…

Mas existiria um limite para essas adaptações? Existiria um limite de scape imunológico que variantes do vírus poderiam atingir? Isso é incerto. Segundo alguns especialistas, tudo vai depender do caminho evolutivo que essas (e outras) variantes rumarem.

Algumas pistas sobre o caminho futuro do SARS-CoV-2 podem vir de coronavírus com uma história muito mais longa em humanos: aqueles que causam resfriados comuns. Estudos revelam que mesmo mudanças significativas como uma evasão levaram um tempo para ocorrer science.org/content/articl…

Os pesquisadores compararam a capacidade do soro humano obtido em diferentes momentos nas últimas décadas de bloquear o vírus isolado ao mesmo tempo (229E) ou posteriormente. O vírus evidentemente evoluiu para escapar da imunidade humana, mas demorou 10 anos ou mais.

Talvez a barreira para uma fuga completa de nossas respostas de anticorpos seja bastante alta e requeira um período maior de evolução. Mas se mantivermos transmissões altas, poderemos estar perigosamente acelerando isso.

Algumas VOCs só podem ser possíveis se o vírus atingir uma combinação muito rara e vencedora de mutações. Pode ser necessário replicar um número astronômico de vezes para chegar lá. Mas e com todos esses milhões de pessoas infectadas? ele pode muito bem encontrar essa combinação

Não podemos e nem devemos cair no erro de subestimar a evolução viral. Não podemos nos enganar achando que, por a situação não estar piorando, ela não pode ainda piorar. Ela só não piorará se a controlarmos, estamos fazendo isso direito? Todo mundo está fazendo sua parte?

Vou trazer uma frase desse último link que me deixou reflexiva: “Muitos ainda veem #Alfa e #Delta como sendo o pior que as coisas podem ficar. Seria sensato considerá-los como passos em uma possível trajetória que pode desafiar ainda mais nossa resposta de saúde pública.”

O jogo só acaba quando acaba. Não podemos nos dar o luxo de cantar vitória precoce. Conscientizem pessoas ao seu redor a usar máscara, a fazer o distanciamento sempre que possível. Quer sair, se encontrar com alguém? Ambiente ventilado, todos de máscara, mantendo certa distancia

Quer se exercitar ao ar livre? faz de máscara, tem opções muito boas para isso. Precisa ir numa loja, num local fechado com pessoas circulando? Redobre os cuidados, máscaras com boa proteção como PFF2 são suas aliadas nisso. Higienize bem as mãos sempre.

Gente, ninguém está pedindo para todos ficarem enclausurados e deixarem de viver, trabalhar, ganhar seu ganhapão e botar comida na mesa. Se tivéssemos um Estado alinhado com um enfrentamento adequado, todos teríamos mais condições de ficar em casa. Mas não é o que temos.

Mas ao mesmo tempo isso não pode ser entendido como "ok não há o que fazer". HÁ SIM! E tu sabe disso, meu bem amado. E tudo isso funciona, funciona MUITO em reduzir tua exposição e a de outros! Então por que não fazer? Quem ganha o quê não fazendo o que funciona?

Enfim, sem me estender mais: vacinem-se. Conscientizem as pessoas pra voltar pra segunda dose, pra terceira dose se forem dos grupos indicados. Usem máscara, façam distanciamento.

Se cuidem e nos cuidem para sairmos dessa logo. Beijocas

Outro tuíte:

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