Mellanie F. Dutra Profile picture
Biomédica, Neurocientista/Bioquímica, Pesquisadora, Professora e TEDx Speaker | Saúde e Ciências | Ela/Dela | 🇧🇷 | #DefendaoSUS

Sep 21, 2021, 22 tweets

Muitas pessoas leram conteúdos sobre, ou tem medo de que as vacinas possam gerar variantes do vírus da COVID-19 mais resistentes. Mas é possível isso acontecer por causa das vacinas?

A resposta é não 🙂 mas se tu quer alguns porquês (e torço pra que sim), siga o fio! 🧶👇

Vamos ir pensando juntos: antes de iniciarmos os porquês, precisamos relembrar aspectos da resposta imunológica contra o vírus.

Temos os anticorpos (AC) que spodem se ligar tão completa e firmemente às partículas de vírus que sua proteína Spike não é capaz de cumprir seu papel

Ainda, os anticorpos ligados a um patógeno como este também acionam outras células do sistema imunológico para atacar e limpar todo o complexo anticorpo-alvo; é como se essas moléculas ligassem vários bat-sinais no local que estiverem ligadas ao agente a ser eliminado

Além dos anticorpos, temos as células, como as células T, que buscam por células infectadas por um agente infeccioso, como um vírus, no corpo. Ao localizá-las, iniciam o processo de eliminação, antes que a célula libere particulas virais no organismo

E é justamente graças a apresentação de pequenas porções do vírus para essas células, que elas aprendem a reconhecê-lo. É como se essas células apresentadoras entregassem um dossiê sobre como reconhecer rápido, de forma específica e potente qualquer traço do agente infeccioso!

Bem, como o vírus poderia tentar contornar isso? mudando sua proteína de superfície (a Spike) para tentar ser menos reconhecido pelo nosso sistema de defesa. E ele pode fazer isso infectando mais pessoas (ou seja, com a transmissão elevada). Só que existe um fino balanço nisso.

A proteína ainda precisa ser parecida o suficiente com a versão anterior para poder seguir entrando na célula.

Isso não é tão fácil pro vírus. Existem inúmeras maneiras de se ligar a um determinado alvo, e toda a função dessa resposta é estar pronta para todos os tipos de alvos

Então eis o balanço: é preciso mudar (por mutações) muito a proteína pra escapar das defesas, mas também produziria definitivamente um coronavírus que não poderia infectar células humanas da maneira que evoluiu completamente para fazer isso.

Encontrar uma rota de infecção completamente nova é (mutacionalmente) extremamente caro e complexo, e não algo que pode ser feito "na hora".

Mas isso pode ser alcançado. Com incontáveis mutações e variantes em cima de variantes. O que propicia isso é O AUMENTO DA TRANSMISSÃO.

E qual o efeito das vacinas sobre a transmissão? REDUÇÃO!

Explico muitos mecanismos aqui, a partir de uma revisão incrível pelo grupo da dra. @VirusesImmunity

Quanto mais chances você der ao coronavírus de se reproduzir, mais mutações ele explorará. Seu sistema de revisão para reprodução é muito bom, mas não perfeito, e é daí que vêm as mutações. É um jogo de números e chances o tempo todo. science.org/content/blog-p…

O vírus não está pensando em como escapar da imunidade induzida pela vacina; é jogar coisas aleatoriamente contra cada parede disponível em todas as direções disponíveis, e o que quer que fique preso tem a chance de continuar jogando mais um pouco

Uma pessoa não vacinada precisa montar uma resposta do zero em seu organismo, fora o risco que a doença traz, em vez de ter uma pronta e preparada como alguém que foi vacinado. Quanto mais essas infecções duram dentro do corpo humano, mais apostas o vírus pode colocar na mesa

Portanto, uma forma importante de reduzir as chances de um mutante desagradável aparecer é simplesmente impedir que o vírus se reproduza tanto. Reduza o número de pessoas infectadas. Quando infecta pessoas, reduza a quantidade de tempo que passa se reproduzindo dentro do corpo

Essas contra-medidas são exatamente o que um programa de vacinação em massa faz. Menos pessoas são infectadas e, quando o são, o curso da doença tende, na grande maioria dos casos, a ser mais curto e brando.

Em um preprint publicado recentemente, os autores analisaram mais de 1,8 milhão de genomas de coronavírus de infecções em todo o mundo e compararam esse conjunto de dados com sequências específicas de infecção em pacientes vacinados. medrxiv.org/content/10.110…

O que eles descobriram? As sequências genômicas dos pacientes infectados, mas que previamente foram vacinados, são significativamente menos diversas do que o que é visto na natureza. Ou seja, as 💉 estão restringindo as vias de escape evolutivas e antigênicas acessíveis ao vírus

Concluindo, existem, muitos motivos, tanto em nível populacional, quanto individual, para esperar que a vacinação diminuirá fortemente as chances de uma cepa de coronavírus mais perigosa se estabelecer.

Se tivéssemos campanhas de vacinação amplas e em massa pelo mundo mais precocemente, e pudéssemos implantá-los de forma rápida e ampla o suficiente, é possível que nunca teríamos visto a variante Delta surgir. E isso traz uma discussão relevante sobre acesso a vacina

Discuto isso aqui a partir de uma fala do @DrTedros da @WHO

Se ampliarmos a vacinação AGORA, evitaremos que variantes piores sejam capazes de se formar. Muitas das mensagens que tu pode ler afirmando que "vacinas causam variantes piores" são desinformativas e extremamente perigosas. Não se deixe levar. Busque por evidências científicas!

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