Rudá Ricci Profile picture
Sociólogo, trabalho com educação e gestão participativa. Presido o Instituto Cultiva

Dec 25, 2021, 12 tweets

Espero que tenham tido paz na passagem de ontem para este Natal de 2021. Acredito que é o mais importante: paz de espírito neste momento. A partir daí, temos equilíbrio e tudo vai se encaixando. Farei um fio, como prometi, sobre o "jeito mineiro de fazer política". Será divertido

1) A forma é sempre mais importante que o conteúdo. Fazer uma crítica com delicadeza ofende menos. Ser direto e objetivo, apresentando claramente o erro ao criticado é motivo de grande mágoa e rancor guardado por décadas (dependendo da saúde do mineiro, pode durar muitas décadas)

2) Não denunciar publicamente. Mineiro gosta de denúncia, mas desconfia de quem denuncia. Para o mineiro, quem aparece tem algum interesse pessoal não explícito;

3) Política se faz no corredor. O que é público é sofrimento (velório, missa de 7º dia etc). A culpa católica (e lusitana) martela os brios e forja a moral mineira. O catolicismo mineiro é tão ferrenho quanto o “protestantismo” paulista (aquele, analisado por Max Weber);

4) Lazer, só no Rio de Janeiro ou Espírito Santo (pode ser New York ou, no caso de ser valadarense, Boston);

5) Sempre falar da mãe, do pai ou do avô, de quem terá herdado algo. Obviamente que há relação direta com o espírito de clã, atávico, fundado no papel da mulher como centro de toda família mineira;

6) O líder nunca se expõe e sempre deve aparecer como vítima, nunca como algoz. Esta é, talvez, a característica mais incompreendida pelos políticos de outros Estados brasileiros. Acreditam que é uma espécie de falsidade. Não é.

7) Tem a ver com a história da forma ser mais importante que o conteúdo e aquele sofrimento lusitano. Em MG, todo advogado deseja que seu cliente seja, sempre, réu. Deixar o outro se mostrar por inteiro, até esgotar seus trunfos, ajuda a defesa a se organizar e contra-atacar.

8) Ter boa relação com a maçonaria e com a igreja católica. Na dúvida, dizer que torce para o América. São as organizações pouco visíveis as mais poderosas em Minas Gerais;

9) Partido político é um detalhe. Em Minas, todos são “amigos”, têm algum parente próximo ou vai ter. Em Belo Horizonte, todos políticos se encontram nos mesmos restaurantes e cafés. Quando é algo sério, o encontro ocorre em residências e sítios;

10) Em Minas, o silêncio fala mais que a boca;

11) Nunca responder a qualquer crítica, nunca passar recibo de nada, nunca gargalhar. Afinal, quem critica quer aparecer; quem responde dá visibilidade à crítica; e quem gargalha não tem motivo algum para ser tão feliz. (FIM)

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