Espero que tenham tido paz na passagem de ontem para este Natal de 2021. Acredito que é o mais importante: paz de espírito neste momento. A partir daí, temos equilíbrio e tudo vai se encaixando. Farei um fio, como prometi, sobre o "jeito mineiro de fazer política". Será divertido
1) A forma é sempre mais importante que o conteúdo. Fazer uma crítica com delicadeza ofende menos. Ser direto e objetivo, apresentando claramente o erro ao criticado é motivo de grande mágoa e rancor guardado por décadas (dependendo da saúde do mineiro, pode durar muitas décadas)
2) Não denunciar publicamente. Mineiro gosta de denúncia, mas desconfia de quem denuncia. Para o mineiro, quem aparece tem algum interesse pessoal não explícito;
3) Política se faz no corredor. O que é público é sofrimento (velório, missa de 7º dia etc). A culpa católica (e lusitana) martela os brios e forja a moral mineira. O catolicismo mineiro é tão ferrenho quanto o “protestantismo” paulista (aquele, analisado por Max Weber);
4) Lazer, só no Rio de Janeiro ou Espírito Santo (pode ser New York ou, no caso de ser valadarense, Boston);
5) Sempre falar da mãe, do pai ou do avô, de quem terá herdado algo. Obviamente que há relação direta com o espírito de clã, atávico, fundado no papel da mulher como centro de toda família mineira;
6) O líder nunca se expõe e sempre deve aparecer como vítima, nunca como algoz. Esta é, talvez, a característica mais incompreendida pelos políticos de outros Estados brasileiros. Acreditam que é uma espécie de falsidade. Não é.
7) Tem a ver com a história da forma ser mais importante que o conteúdo e aquele sofrimento lusitano. Em MG, todo advogado deseja que seu cliente seja, sempre, réu. Deixar o outro se mostrar por inteiro, até esgotar seus trunfos, ajuda a defesa a se organizar e contra-atacar.
8) Ter boa relação com a maçonaria e com a igreja católica. Na dúvida, dizer que torce para o América. São as organizações pouco visíveis as mais poderosas em Minas Gerais;
9) Partido político é um detalhe. Em Minas, todos são “amigos”, têm algum parente próximo ou vai ter. Em Belo Horizonte, todos políticos se encontram nos mesmos restaurantes e cafés. Quando é algo sério, o encontro ocorre em residências e sítios;
10) Em Minas, o silêncio fala mais que a boca;
11) Nunca responder a qualquer crítica, nunca passar recibo de nada, nunca gargalhar. Afinal, quem critica quer aparecer; quem responde dá visibilidade à crítica; e quem gargalha não tem motivo algum para ser tão feliz. (FIM)
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Bom dia. Venho alertando para um certo oba-oba que envolve o campo progressista brasileiro (em especial, a base social-militante do lulismo, que vai além do PT) com a denúncia da PGR contra Bolsonaro et caterva. O fio é sobre isso: uma explicação sobre este alerta.
1) Quanto ao julgamento pelo STF, a grande imprensa ventilou a possibilidade de tudo ser finalizado ainda neste semestre. Considero um desatino típico da linha editorial sensacionalista em busca de likes. O mais provável é a sentença ser proferida em setembro ou outubro.
2) Se minhas projeções são razoáveis quanto ao calendário de julgamento, teremos um longo intervalo de 7 a 8 meses de muita turbulência pela frente. Já se esboçam algumas frentes da ofensiva bolsonarista: uma de massas e outra política, além da jurídica.
Bom dia. Postarei um fio sobre o "equilíbrio dinâmico" da política nacional. A fala de Hugo Motta sobre o ato terrorista de 8 de janeiro gerou grande agitação nas redes sociais. Contudo, a intenção não parece ter sido muito além disso: agitação. Vamos ao fio:
1) Vou começar com a "régua ideológica" da política brasileira. Para tanto, começo diferenciando esquerda de direita e ambas do extremismo. Esquerda é denominada a força (ou forças) política que luta pela igualdade social.
2) Já a direita enfatiza a diferença entre indivíduos (forte de fracos, inteligentes de pouco inteligentes, ambiciosos de indolentes) que eles classificam como base da "liberdade individual". Por aí, direita justifica a desigualdade social como fundada na diferença.
Bom dia. Inicio um fio sobre o livro de Leonardo Weller e Fernando Limongi, “Democracia Negociada”, que trata do período que vai do final da ditadura militar à queda de Dilma Rousseff. Lá vai:
1) O livro se constitui numa ilustração da encruzilhada que vive a sociologia brasileira. No século passado, grande parte da produção sociológica voltava-se para a leitura dos pares. Já no século 21, ficou patente que ser reconhecido pelos pares não bastava.
2) Dada a banalização da carreira, sociólogos passaram a buscar o grande público, cortar os excessos em citações, adotar títulos e capas chamativas, para além dos muros das universidades e think tanks muito especializados.
Bom dia. Prometi um fio sobre os atos terroristas de 8 de janeiro. E, também, sobre a origem de certo descaso popular em relação aos riscos à nossa democracia. Acredito que a fonte para as duas situações é a mesma. Lá vai:
1) Acredito que o ponto de convergência é o legado de 300 anos de escravidão no Brasil. De um lado, forjou uma elite nacional socialmente insensível e politicamente violenta, sem qualquer traço de cultura democrática
2) Nosso empresariado é autoritário e autocrático, como demonstram tantos estudos acadêmicos. Além de majoritariamente com pouca instrução, nosso empresariado desdenha eleições e procura se impor pelos escaninhos dos parlamentos e governos
Bom ida. Começo o fio sobre o futuro presidente do Senado, Davi Alcolumbre. Mais um que tem seu poder local pavimentado pelas emendas parlamentares, a base do poder do Centrão. Lá vai:
1) Alcolumbre tem 47 anos e nasceu em Macapá. Trabalhou no comércio da família. Se elegeu vereador pelo PDT em 2000. Foi secretário de obras do município e em 2002 foi eleito deputado federal, sendo reeleito por 2 vezes. Em 2006, foi para o DEM
2) Em 2014, conseguiu a proeza de se eleger senador pelo Amapá, até então, um quase-protetorado dos Sarney. Aí começa sua saga nacional. Em 2019 é eleito presidente do Senado Federal, se reelegendo em 2022.
Bom dia. Aqui vai o fio sobre Arthur Lira. Daqui um mês, Arthur Lira deixa a presidência da Câmara de Deputados. Ele foi mais um da sequência iniciada com Severino Cavalcanti que passou a assombrar o establishment desta casa parlamentar
1) Severino foi apenas um susto. Mas, logo depois, veio o bruxo que alteraria de vez não apenas a lógica de lideranças e poder na Câmara de Deputados, mas a relação com o governo federal: Eduardo Cunha.
2) Lira entra nesta sequência, dando mais um passo na direção da subversão da lógica entre os três poderes: avançou sobre os governos Bolsonaro e Lula, chantageou à céu aberto e enfrentou o STF.