eduardo souza Profile picture
a realidade se constrói com imagens | designer, ilustrador, professor e pesquisador | aviso: til é aspa irônica

Jan 3, 2022, 10 tweets

“encanto” é um filme sobre a manutenção de poder de uma oligarquia burguesa periférica

segue o fio 🧶 #encanto #disney

antes de tudo, o elemento mais curioso é "o milagre" da família, às vezes também referido como "a magia". desde sempre, marx apontou o caráter fetichista do capital, sua capacidade de mistificação e magia. ou seja, a magia da família madrigal é o capital, o que os torna burgueses

interessante o fato de o filme basear toda sua construção de mundo em um país da américa latina, um território historicamente explorado e alvo de imperialismo estadunidense. no filme, a família é retratada claramente como uma burguesia dependente

ora, nesse contexto, o que significa a busca pelo seu "dom" individual? franz fanon pode nos responder que “a burguesia colonialista introduziu a golpes de pilão, no espírito do colonizado, a ideia de uma sociedade de indivíduos, onde cada qual se encerra na sua subjectividade”

a individualidade, o "dom" é uma ferramenta de colonização abraçada pela intelectualidade colonizada. aqui, o filme mostra como a burguesia colonizada atua em relação ao seu povo, retratado como uma massa amorfa, atávica e inteiramente dependente do capital da família madrigal

assim, o filme se demonstra o que realmente é: um exemplar primoroso do capitalismo tardio, que tem como objetivo "reformar" os valores coloniais – representados pela "casita".

isso se dá por meio da dita "inclusão" daqueles "sem dom", sem mencionar que o "dom" foi expropriado pelo próprio sistema de exploração capitalista. mas a "magia" não muda de mão e essa jornada consiste simplesmente na manutenção de poder nas mesmas mão burguesas.

espero que gostem da análise! embora a abordagem mais óbvia de análise fosse a psicanalítica, acho que essa sociológica é mais provocadora

qualquer coisa, manda as ideia aí e, se não gostar, chora

o que eu acho interessante de ver com um filme como esse é a força (?) da superfície: embora o arco do filme e vários de seus elementos sejam altamente perniciosos, o modo como nos relacionamos com as coisas é brutalmente pela aparência (como elas aparecem)

como diria nosso amigo flusser, é tudo uma questão de design

revistarecorte.com.br/artigos/decodi…

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