Em outubro de 2011, Orlando Silva, Ministro do Esporte dos governos petistas, pediu demissão do cargo, capitulando diante da pressão da mídia, que há anos exigia sua cabeça. Ele havia sido acusado de gastar R$ 8,30 no cartão corporativo para comprar uma tapioca.
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Filiado ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Orlando Silva é baiano, mas fez carreira política em SP, onde foi eleito deputado. Foi o primeiro negro a assumir a presidência da UNE e organizou a luta estudantil contra o sucateamento das universidades no governo FHC.
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Em 2006, aceitou o convite de Lula para assumir o Ministério do Esporte. Durante sua gestão, Orlando Silva realizou mais de 6.000 obras de infraestrutura esportiva e coordenou a realização dos Jogos Pan-Americanos e Parapan-Americanos de 2007.
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Foi responsável por instituir o Bolsa Atleta, maior programa de apoio direto a atletas de alto rendimento do mundo. Também criou programas como o "Esporte e Lazer das Cidades" e implementou a Lei de Incentivo ao Esporte, uma reivindicação de 40 anos do setor.
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Em 2008, Orlando Silva tornou-se alvo de acusações após a imprensa identificar uso irregular de seu cartão corporativo. O ministro utilizou o cartão para pagar R$ 8,30 na compra de uma tapioca em um estabelecimento de Brasília.
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O gasto é considerado irregular, pois os cartões só podem ser utilizados para bancar despesas fora de Brasília. O ministro atribuiu o gasto a um equívoco na hora de pagar e já havia ressarcido o valor antes mesmo da informação vazar para a imprensa. De nada adiantou.
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Orlando Silva foi alvo de diversas reportagens em tom alarmista no Jornal Nacional, que chamou o caso de "escândalo da farra dos cartões corporativos". Pit bulls dos jornalões exigiam a cabeça do ministro e até o PSTU engrossou o caldo do denuncismo.
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Por vários meses, comentaristas dos jornais, revistas e telejornais insistiram no "escândalo", insuflando uma verdadeira devassa nos gastos do cartão corporativo do ministro na esperança de encontrar alguma outra irregularidade - em vão.
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A histeria foi tanta que, mesmo sem indícios de irregularidades, Orlando Silva decidiu arcar com a despesa integral do cartão corporativo, pagando do seu bolso 31 mil reais.
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Com a persistência da mídia em abordar o assunto, o ministro decidiu pedir demissão da pasta para preservar o governo. Montou-se até mesmo uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o "escândalo". O relatório final da CPI isentou o ministro de culpa.
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O ministério público sequer abriu investigação, por falta de materialidade da denúncia. Em 2012, Orlando Silva foi inocentado pela Comissão de Ética por falta de provas.
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Por sua vez, o policial João Dias, que havia ganhado amplo espaço na imprensa após acusar o ex-ministro de cobrar propina, reconheceu que não possuía quaisquer provas contra Orlando Silva.
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A suposta "farra dos cartões corporativos", entretanto, tornou-se argumento usual nos ataques da imprensa que alegavam existir um completo descontrole dos gastos no governo petista.
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Quando Michel Temer assumiu a presidência após o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, a revista IstoÉ saudou o novo governo em uma matéria intitulada "A Farra Acabou", apostando que ele "disciplinaria o uso dos cartões corporativos".
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Desde então, os gastos com cartões corporativos tem crescido de forma desenfreada ano a ano. Os gastos dispararam sobretudo durante o governo Bolsonaro.
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Em 2019, Bolsonaro gastou 41 mil reais por dia no cartão corporativo, totalizando 14 milhões de reais no ano. Diante dos questionamentos, o presidente utilizou-se de um decreto de segurança nacional de 1967, instituído na ditadura, para impor sigilo sobre os gastos.
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Em janeiro de 2021, um levantamento de dados feito pelo jornal Metrópole mostrou que o governo federal gastou 15,6 milhões de reais apenas com leite condensado. É dinheiro suficiente para comprar 1,9 milhões de tapiocas como a que derrubou o ministro Orlando Silva.
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Dessa vez, entretanto, a julgar pelo comportamento condescendente da imprensa, os gastos parecem aceitáveis.
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