Trecho do artigo "Paranoia ou Mistificação?", escrito por Monteiro Lobato e publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo em 20/12/1917. A crítica impiedosa à arte de Anita Malfatti gerou a cisão definitiva entre Monteiro Lobato e os modernistas ativos na Semana de 22.
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Pioneira do modernismo brasileiro, Anita Malfatti enfrentou todo tipo de obstáculo para poder expressar sua arte — das limitações físicas à coerção social. Portadora de uma deficiência congênita, teve de aprender a pintar com a mão esquerda...
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...e desenvolveu o hábito de manter seu braço direito permanentemente coberto para fugir de eventuais constrangimentos. Sua condição física e a morte prematura do pai acarretaram profundos impactos psicológicos e aos 13 anos Anita tentaria o suicídio.
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Foi a partir desse episódio que sua mãe, Betty, tratou de apresentá-la ao universo da arte. Jorge Krug, tio e padrinho de Anita, ajudou em sua formação artística, financiando seus estudos na Alemanha. Vivendo em Berlim, Anita se encantou pela arte de vanguarda.
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Teve contato com as obras de Van Gogh e Munch e sentiu-se atraída pelo expressionismo. Estudou na Academia de Belas Artes de Berlim e teve aulas com Fritz Burger e Lovis Corinth. Incorporou diversos elementos artísticos das vanguardas europeias na sua produção.
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Posteriormente, Anita viajou a Nova York, matriculando-se na Art Student's League e na Independent School of Art, sofrendo grande influência estética das novas correntes artísticas. Ao retornar ao Brasil, trouxe o ímpeto de ajudar a superar a rigidez da arte dos salões,...
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...abandonando os modelos tradicionais em busca de novos rumos. O ambiente artístico conservador da capital paulista, ainda fortemente atrelado aos cânones acadêmicos e à empáfia burguesa da "arte pompier", entretanto, tratariam de impor um freio às ambições da artista.
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Responsável pelas subvenções do Pensionato Artístico, o senador Freitas Valle negou-se a conceder uma bolsa de estudo para Anita. Por sua vez, o tio da pintora, chocado com os temas, torsões e cores berrantes das obras, cortou imediatamente o financiamento de seus estudos.
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Assustada com a reação, Anita limitou-se a expor suas obras para os conhecidos. Seus amigos, entretanto, a convenceram a fazer uma exposição individual. Em dezembro de 1917, Anita inaugurou a "Exposição de Pintura Moderna" em uma galeria do centro de São Paulo.
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Marco do desenvolvimento da arte moderna, a mostra englobava obras que se tornariam ícones da arte brasileira, tais como "O Farol", "O Homem Amarelo" e "A Boba". A pintora acreditava que a exposição ajudaria a ampliar a compreensão de sua arte e da estética das vanguardas.
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Ledo engano. Suas obras foram duramente criticadas e ridicularizadas pela maioria do público, sobretudo os representantes da elite conservadora de São Paulo. A exposição causou polêmica e reações destemperadas. Alguns visitantes chegaram a tentar destruir as obras.
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A crítica mais dura, entretanto, viria do escritor Monteiro Lobato. Em 20 de dezembro de 1917, Lobato dedicou um longo artigo no jornal O Estado de S. Paulo para discorrer sobre a mostra de Anita. O texto se tornaria conhecido pelo título "Paranoia ou Mistificação?".
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A crítica enérgica de Lobato descambou para o ataque. O escritor afirmou que existiam duas categorias distintas de artistas: uma composta dos que "vêem normalmente as coisas e em consequência disso fazem arte pura", tais como Praxíteles e Rembrandt.
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Anita, por sua vez, pertenceria à categoria dos artistas que "vêem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva", produtos do "cansaço e do sadismo".
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Lobato taxou as obras modernistas como advindas de "cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses" e afirmou que "a única diferença" das telas de Anita daquelas feitas nos manicômios, como terapia, é que a dos loucos é "arte sincera".
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O ataque aviltante de Lobato gerou uma reação de solidariedade à pintora. Artistas e intelectuais como Mário de Andrade e Oswald de Andrade saíram em sua defesa. Ao lado de Menotti Del Picchia e Tarsila do Amaral, formariam posteriormente o núcleo do "Grupo dos Cinco"...
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...que estabeleceria os referenciais teóricos da primeira geração modernista e influenciaria a Semana de Arte Moderna em 1922. Anita, entretanto, nunca se recuperou do ataque de Lobato. A artista chegou a parar de pintar por um tempo e entrou em depressão.
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Enquanto Tarsila e Di Cavalcanti radicalizariam a experimentação estética incorporando elementos do cubismo e surrealismo, Anita decidiu fazer aulas com Pedro Alexandrino e reorientou sua arte para um estilo mais convencional, evoluindo posteriormente rumo à estética naïf.
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