Pensar a História Profile picture
"Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade". Karl Marx

Feb 14, 2022, 23 tweets

Veículos pertencentes ao jornal Folha de S. Paulo são incendiados por opositores da ditadura militar brasileira em 1971. O ato foi uma reação à colaboração de Octávio Frias de Oliveira, proprietário da Folha de S. Paulo, com os órgãos de repressão do regime militar.

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Conforme apurado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), Octávio Frias de Oliveira foi um dos financiadores da Operação Bandeirantes (Oban) - aparelho de repressão do regime militar, responsável por capturar, torturar e assassinar os opositores da ditadura.

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O relatório da CNV também aponta que veículos pertencentes à Folha de S. Paulo eram utilizados para transportar opositores do regime militar até as dependências da Oban ou do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), onde eram então torturados e assassinados.

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Octávio Frias de Oliveira era amigo pessoal do delegado Sérgio Fleury, apontado junto com o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra como comandante das operações de repressão, tortura, execução e ocultamento de cadáveres de militantes contra a ditadura.

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O dono do Grupo Folha foi acusado de entregar funcionários aos órgãos repressores, empregar policiais infiltrados na redação dos seus jornais e contratar nomes ligados ao regime visando assegurar uma linha editorial subserviente aos interesses da ditadura.

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Publicado em 2014 por um colegiado de especialistas, após 3 anos de investigações, o relatório da Comissão da Verdade confirmou o que já havia sido apontado por um ex-agente da ditadura - o delegado Cláudio Guerra, autor do livro "Memórias de uma Guerra Suja".

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Ex-funcionário do Serviço Nacional de Informações (SNI), Cláudio Guerra afirmou em seu livro que viu inúmeras vezes o dono da Folha visitando as dependências do DOPS. O agente também confirmou que o publisher era amigo pessoal do torturador Sérgio Fleury.

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Também endossou as informações que haviam sido reveladas pela pesquisadora Beatriz Kushnir no livro "Cães de Guarda" e os depoimentos de militantes de esquerda torturados pelo regime, como Alípio Freire e Ivan Seixas,...

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...que afirmam ter visto em diversas oportunidades os carros da Folha sendo usados por agentes da repressão. As afinidades entre Frias e o oficialato transpareciam na bajulação editorial da Folha, que exaltava entusiasticamente a ditadura militar...

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...ao mesmo tempo em que celebrava a repressão e criminalizava a oposição ao regime, negando a existência de presos políticos e rotulando os opositores da ditadura como "assaltantes de bancos, sequestradores, ladrões, incendiários e assassinos".

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O apoio servil da Folha ao regime militar foi fartamente recompensado. Apadrinhada pela ditadura, a empresa passou a receber diversos incentivos financeiros e uma enxurrada de verbas governamentais em publicidade.

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Os investimentos permitiram a expansão e a renovação tecnológica do conglomerado. No fim da década de 60, a Folha já era um dos jornais de maior circulação paga do Brasil. Nos anos 70, o jornal não poupava elogios aos ditadores.

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Um um editorial de 1974, por exemplo, afirmava que o general Ernesto Geisel estava "construindo uma grande nação, próspera e coesa, generosa e justa”. Ainda mais constrangedoras eram as matérias enaltecendo a condução do Ministério da Fazenda por Delfim Neto...

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...durante o período do "milagre brasileiro", bem como as tentativas de relativizar o fechamento do congresso em 1977. Nos anos 80, a pressão pela redemocratização, a deterioração dos indicadores e o fracasso do projeto econômico apontavam para a inviabilização do regime.

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A Folha resolveu se adiantar à queda do regime, desvencilhando-se de sua imagem de apoiadora da ditadura e encampando a bandeira das Diretas Já. Também buscava simular a imagem de defensora da democracia ampliando o espaço concedido às lideranças progressistas.

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A Folha propunha a unidade das classes dominantes em torno de um novo projeto, igualmente calcado no liberalismo econômico, na defesa do modelo agroexportador e na submissão da agenda nacional ao capital estrangeiro, mas sob a aparência da institucionalidade democrática.

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Malgrado a nova fachada, a natureza antidemocrática da empresa continuou a transparecer em momentos-chave, como ocorreu quando o jornal se opôs ao fim do bipartidarismo, insistindo em um modelo político onde o poder fosse alternado entre a ARENA e MDB.

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A Folha também criticou fortemente a Constituição de 1988, por considerar que os novos direitos assegurados pela Carta Magna conduziriam o país "ao atraso econômico, por defender a autarquização e o estatismo".

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A Folha de S. Paulo detém há décadas o título de jornal de maior circulação do Brasil. O Grupo Folha é administrado pelo herdeiro de Octávio Frias de Oliveira, o bilionário Luiz Frias.

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Além da Folha, o grupo é dono do UOL, quatro editoras e gráficas e a empresa PagSeguro. O faturamento anual do conglomerado é de 2,7 bilhões de reais. Luiz Frias é um dos homens mais ricos do país, com uma fortuna estimada em 3 bilhões de dólares (15 bilhões de reais).

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Vez ou outra, a Folha continua revelando sua face reacionária, oculta sob o véu do discurso institucional de defesa da "imparcialidade", da "pluralidade" e do "apartidarismo" - como se viu no caso do editorial em que o jornal chamou o regime militar de "ditabranda"...

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...ou quando publicou em 1ª página uma ficha policial falsa de Dilma Rousseff. E assim como fez nos anos 80, continua simulando espírito cívico, encampando iniciativas vazias ("use amarelo pela democracia")...

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...enquanto publica editoriais insinuando a necessidade de união das forças políticas em torno da candidatura do protofascista Sérgio Moro, vendido como a solução para a corrosão dos pilares institucionais do sistema que ele mesmo atacou.

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