Pensar a História Profile picture
"Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade". Karl Marx

Feb 16, 2022, 15 tweets

Você já deve ter se deparado com um comentário desse tipo na sua TL. De um tempinho pra cá, a militância do PCB resolveu ressuscitar Ferreira Gullar, em especial o seu poema sobre o aniversário do partido.

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As páginas do PCB, e em especial sua ala juvenil (UJC), foram ainda mais longe no esforço de reabilitação da figura do poeta, exaltando sua memória...

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...apresentando-o como um verdadeiro militante valoroso da causa comunista, vinculando-o ao esforço da "construção do poder popular no rumo do socialismo". Muitos "militantes" formados por "agitação revolucionária" de YouTube e TikTok embarcaram na onda e copiaram a UJC.

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A exaltação de Gullar demonstra desconhecimento histórico ou absoluta falta de comprometimento com o ideário socialista. Afinal, Gullar se filiou ao PCB nos anos 60, mas seguiu o mesmo caminho de ex-pecebistas infames como Olavo de Carvalho, Carlos Lacerda e Roberto Freire.

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Tornou-se um anticomunista exaltado e sustentava que o socialismo havia fracassado. Atacava Cuba como uma ditadura horrenda e louvava a capacidade criativa do capitalismo, comparando os empresários aos intelectuais, artistas e poetas.

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Em uma entrevista à Veja, disse que somente malucos ainda acreditavam no socialismo e asseverou que os governos socialistas só tinham servido para criar ditaduras e matar pessoas.

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O anticomunismo exaltado de Ferreira Gullar e seus ataques à esquerda lhe granjearam amplo espaço na grande imprensa. Ganhou colunas da Folha de S. Paulo e em outros jornais para exercer o passatempo preferido de todo (ex-)pecebista: falar mal do Lula e do PT.

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Ferreira Gullar tornou-se um dos mais incisivos articulistas do antipetismo. Em artigos recheados de demofobia e elitismo, atacou os pobres, chamando-os de vendidos, rotulou Lula como analfabeto e ignorante e insuflou a narrativa moralista da "corrupção desenfreada".

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Em 2010, defendeu com afinco a candidatura de José Serra, a quem descreveu como "homem público, de todos conhecido por seu desempenho ao longo das décadas e por capacidade realizadora comprovada" e reduziu Dilma a uma "marionete de Lula".

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Assim como o resto do PCB, Ferreira Gullar exaltou os protestos de junho de 2013, que definiu como "expressão espontânea de parte da classe média contra o lamentável quadro político do país", "os sucessivos escândalos e a sombra da impunidade".

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Em 2014, apoiou com entusiasmo a candidatura de Aécio Neves, afirmando que "a saída do PT do poder seria uma revolução para o Brasil". "Alguém tem que substituir o PT, chega de PT", bradou.

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As declarações de ódio hidrofóbico ao PT feitas pelo ex-comunista motivaram o reconhecimento de seu status de intelectual em organizações ligadas à "nova" direita, como o Instituto Liberal de São Paulo.

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Também turbinaram o discurso anticomunista e antipetista, fartamente divulgado por páginas bolsonaristas antes, durante e após a eleição de 2018.

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Ferreira Gullar morreu em 2016 e, ao que parece, deixou muitas saudades nos liberais, bolsonaristas, anticomunistas e na juventude do PCB.

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Vocês ficam aí fazendo piada, vão acabar ofendendo a UJC que fez esse lindo trabalho gráfico pra homenagear o poeteiro.

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