Pensar a História Profile picture
"Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade". Karl Marx

Mar 28, 2022, 26 tweets

O empresário Silvio Santos participa de uma reunião com o ditador João Figueiredo, último presidente do regime militar, em 1981. Foi durante essa reunião que o empresário ganhou dos militares a concessão de parte dos canais da extinta TV Tupi, embrião do SBT.

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Sílvio Santos é o nome artístico de Senor Abravanel, filho de um casal de imigrantes sefarditas otomanos. A família Abravanel é um dos mais antigos e destacados clãs judeus e já constava como uma das famílias mais importantes da Península Ibérica desde a Baixa Idade Média.

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Sílvio Santos é decaneto de Isaac Abravanel — o mais célebre patriarca da família, que alegava descender do bíblico Rei Davi. Estadista e fnancista, Isaac prestou serviços à coroa portuguesa e ajudou a financiar as Grandes Navegações e a colonização das Américas.

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Perseguidos após a promulgação do Decreto de Alhambra, os Abravanel se espalharam pelo mundo, mas o peso da origem nobre do sobrenome os acompanharia. Em Tessalônica, o sobrenome virou parte um adágio ladino indicativo de status: "basta dizer que meu nome é Abravanel".

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Sílvio Santos, entretanto, julgaria mais prudente escamotear a origem aristocrática da família sob um nome artístico popular - estratégia condizente com o mito do "self-made man", o homem humilde que perseverou e enriqueceu através do trabalho.

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Popularizou-se a narrativa de que Sílvio Santos trabalhava como camelô e que a partir disso iniciou sua fortuna — uma versão local do "mito da garagem" associado aos bilionários do Vale do Silício, exaltado por liberais ávidos por autenticar a mitologia meritocrática.

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A realidade é bem mais prosaica. Após trabalhar na loja do pai, Sílvio se formou em contabilidade e ingressou na Rádio Mauá por indicação de um amigo, Celso Teixeira. Passou pelas rádios Tupi, Continental e Nacional e fundou um serviço de propaganda nas barcas de Niterói.

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Em 1958, assumiu o comando do Baú da Felicidade — exótico "título de capitalização" criado por Manuel de Nóbrega, em que os clientes resgatavam os valores investidos sem correção monetária, na forma de mercadorias vendidas por preços superiores ao valor de mercado.

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Nos anos 60, o apresentador já era dono de um banco, empresa de publicidade, companhia de seguros, construtora e uma rede de concessionárias de veículos. Em 1961, Sílvio Santos estreou sua carreira na televisão, apresentando um programa na TV Paulista.

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Nas décadas seguintes, o apresentador passaria por Globo, Tupi e Record, tornando-se uma das personalidades mais conhecidas do país. Paralelamente à consolidação de sua carreira televisiva, Sílvio Santos construiu uma relação próxima com a cúpula da ditadura militar.

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Tratava-se de uma parceria de benefício mútuo: o apresentador oferecia apoio aos militares em troca de favores comerciais e apadrinhamento. Durante o governo Médici, Sílvio Santos obteve a concessão de um gigantesco latifúndio na região do Araguaia a preços subsidiados.

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A aquisição da área de 70 mil hectares de mata pantaneira foi subvencionada pela Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM). Os antigos proprietários da fazenda eram usineiros acusados de invadir terras indígenas.

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O próprio Sílvio Santos detalhou a transação no livro "A fantástica história de Sílvio Santos", de Arlindo Silva, explicando que passou a focar no agronegócio como forma de diminuir o custo dos impostos.

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Isso porque a ditadura militar concedia isenção de impostos para criação de gado — empresas sediadas no Brasil tinham direito à redução de 50% da tributação caso seus projetos agropecuários fossem aprovados pela SUDAM.

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O regime militar financiou 75% do projeto e Sílvio Santos iniciou a derrubada da mata nativa para transformá-la em pasto, onde eram criadas 10 mil cabeças de gado. A região do latifúndio de Sílvio Santos está hoje entre as áreas mais desmatadas do Centro-Oeste do Brasil.

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Além da Fazenda Tamakavy, o empresário incorporou duas agropecuárias, ampliando o latifúndio para quase 100 mil hectares. Uma CPI sobre invasão e grilagem na região chegou a ser aberta em 1979, mas, por pressão do regime militar, não houve responsabilização.

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A proximidade com a ditadura também foi essencial para que Sílvio Santos criasse sua rede de televisão. Em 1975, recebeu de Geisel a outorga do canal 11 do Rio de Janeiro. Em 1981, João Figueiredo concedeu ao empresário o canal 4 de São Paulo - a TVS.

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Surgiu assim o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), que se tornaria a 2ª maior rede de TV do Brasil, com faturamento anual superior a 1,1 bilhão de reais. Sílvio Santos retribuiu a ajuda concedendo amplo espaço para a cobertura positiva da ditadura em sua programação.

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O apresentador chegou a criar o laudatório programa A Semana do Presidente, destinado a criar uma imagem positiva dos generais-ditadores. Após a redemocratização, Sílvio Santos ensaiou seu ingresso formal na política, filiando-se ao PFL e candidatando-se a prefeito de SP.

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Em 1989, Sílvio Santos decidiu concorrer à Presidência da República pelo nanico PMB, mas foi impedido graças a uma ação de Eduardo Cunha, que entrou com pedido de impugnação da candidatura por irregularidades na legenda. Segundo o TSE, o apresentador é filiado ao DEM.

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A venda de espaço publicitário no SBT ampliou exponencialmente o patrimônio de Sílvio Santos, tornando-o um dos homens mais ricos do Brasil. Além do SBT, o Grupo Sílvio Santos compreende mais de 30 empresas, do setor imobiliário à agropecuária.

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O faturamento anual do grupo é de quase 3 bilhões de reais. O montante era maior quando o conglomerado detinha a propriedade do Banco PanAmericano. Em 2010, fraudes contábeis operadas pelo banco causaram um rombo de 2,5 bilhões de reais no Fundo Garantidor de Créditos.

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O banco contabilizava como suas as carteiras de crédito repassadas a outras instituições, falsificando seu balanço patrimonial. O PanAmericano foi vendido para o BTG Pactual, fundado por Paulo Guedes e investigado por venda fraudulenta de ações na Operação Conclave.

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Em 2019, o Grupo Sílvio Santos foi acusado pelo delator Adir Assad de lavar milhões de reais em dinheiro sujo proveniente de contratos fraudados de patrocínio esportivo através da Tele Sena. Os promotores da Lava Jato, entretanto, não ofereceram denúncia.

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O genro de Sílvio Santos, Fábio Faria (atual Ministro das Comunicações de Bolsonaro), e sua filha, Patrícia Abravanel, também foram recentemente implicados em escândalos. Fábio apareceu vinculado ao caso da "Farra das Passagens" da Assembleia Legislativa do RN.

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Já Patrícia foi citada em uma investigação da Lava Jato, por ocasião da delação premiada do executivo Ricardo Saud, da J&F. Nenhuma das investigações levou à abertura de processo criminal.

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