Doutor Prepúcio Profile picture
Entusiasta do rango. Invento moda mas não mijo em cerca elétrica. Fudido na economia, cuzão nos costumes. Reencarnação de Ofélia Anunciato.

Sep 28, 2022, 24 tweets

Hora do boeuf bourguignon, feito de acém com bacon, cebola, cogumelos e vinho tinto. Testando a mesma receita raiz usando duas técnicas diferentes.

A região da Borgonha é famosa por seus vinhos e pelo gado Charolais. Aí é paulada na cabeça do boi e direto pra panela com um Pinot-Noir, nenhuma surpresa eles terem um prato desse tipo na região, certo?

A construção do sabor do seu boeuf bourguignon, na modesta opinião deste elmo preto e branco, tem 3 alicerces:

1- não use carnes muito magras.
2- use vinho com a uva pinot-noir.
3- com a não observação dos dois pontos anteriores, vc vai ter muito trabalho pra pouco resultado.

Existem muitas receitas deste prato por aí mas não é qualquer uma que vai te dar a sensação de estar fumando um Gauloise na beira do Sena ou de sentir o aroma do metrô de Paris no verão com aquela mistura de cheiro de gente com queijo Reblochon.

Está receita é de Madame Eugénie Brazier. Pra quem não a conhece, apresento: a primeira mulher a conquistar 3 estrelas michelin, em seu restaurante de Lyon e a primeira pessoa na história a ter 6 estrelas, com seu segundo restaurante.

Paul Bocuse foi um de seus muitos discípulos e nas palavras dele: "...poucos nos marcaram de forma tão indelével no mundo da gastronomia quanto Mére Brazier, cujo legado, até hoje, é um dos pilares da gastronomia global." Ela certamente humilharia sua avó na cozinha.

Fiz a receita dela a risca e depois uma segunda tentativa usando outro método para incorporar a farinha no molho. O método dela à risca ficou simplesmente o melhor boeuf bourguignon que já provei. A próxima vez que for pra França deixarei um tablete de manteiga em seu túmulo.

A receita: 450g de acém (ou coxão mole. Vai de acém), 6 cebolas pequenas, 1 colher de sopa de farinha, 1 dente de alho, 1 garrafa de vinho tinto da Borgonha (pinot noir), 1 colher de purê de tomate, buquê garni, bacon gordo, sal, pimenta cogumelos e salsa.

É exatamente assim que está descrita neste livro e é mais do que suficiente para chegar num excelente resultado.
FICA CALMO. Não precisa colocar duas garrafas de vinho pra 900g de carne. Segura minha mão ensebada de bacon e vem comigo!

Cortei o acém em pedaços, temperei com sal e pimenta. Não fica limpando as gorduras pra não ser assombrado pelo fantasma de Mére Brazier.

Bacon. Não use um bacon magro. Já falei isso antes? É importante. Fogo brando pra derreter bem a gordura antes de dourar a carne. Demora. Vai devagar. Vai fumar um gauloise e volta. Reserva o bacon e deixa a gordura na panela.

Agora vc vai dourar a carne em pedaços na gordura do bacon. Aos poucos, sem encher a panela. Se for fazer bastante, doure aos poucos e reserve.

Entra a cebola, doura também. Deixei as cebolas em pedaços grandes ou inteiras mesmo. Depois voltam as carnes pra junto da cebola. Agora pra cada 450g de acém vai 1 colher de sopa de farinha de trigo que vai dourar junto de tudo por 1 minuto. Fogo alto. Esse é o pulo do gato.

Pra cada 450g de acém entra 1 dente de alho e 1 buquê garni. Se vc não sabe do que se trata esqueça...coloque folhas de louro, salsinha, tomilho fresco (usaria no mínimo esses 3). Uma colher de purê de tomate, sal, pimenta e cubra com um vinho tinto.(eu usaria uma uva Pinot Noir)

Vc pode deixar ferver no fogão e levar a panela ao forno a 160 graus tampada. Ou fogo baixo tampada no fogão mesmo. Pelo menos 2 horas cozinhando. No fina, depois de cozido, entram os cogumelos fatiados já dourados (que eu esqueci, sacre bleu!)

Esse lance de entrar com a farinha de trigo junto das carnes e da cebola em fogo alto deu um sabor incrível, pra mim foi a diferença, especialmente depois que testei outro método.

Depois refiz a receita com quantidades maiores... do mesmo jeito. Só que a farinha de trigo só entrou no final. Doura o bacon, reserva. Doura a carne, a cebola. Entram os aromáticos, vinho tinto...

BIBIBI BOBOBO...

Ai no final você pega a peneira fina... mergulha ela no vinho... entra com a farinha e passa o fouet.

E olha que funciona mesmo. Eu senti falta daquele jenê sequá (como se diz na Bahia) da farinha queimada mas esse método é mais adequado pra fazer essa receita em grande escala para refeições pantagruélicas.

E dessa vez eu não esqueci os cogumelos. Salsinha fresca por cima de tudo antes de servir!

A textura, sabor e a cor da primeira vez com a farinha tostada ficou demais PUTAQUEOSPARALHO.

Tenho certeza que vai ter uma galera que faz tabuada com os dedos que vai ficar confusa "UE MAS PERAI A FARINHA ENTRA DUAS VEZES NA RECEITA". Entra sim, duas vezes. É um bolo de carne, confia.

Lembrete pra quem fez Kumon: a receita leva 1 dente de alho e 6 cebolas pequenas por exemplo. Multiplique esses ingredientes pra cada 450g de carne. O vinho no entanto, basta cobrir a carne na panela, não use 4 garrafas de vinho pra 1,8 kg de carne.

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