Hora do boeuf bourguignon, feito de acém com bacon, cebola, cogumelos e vinho tinto. Testando a mesma receita raiz usando duas técnicas diferentes.
A região da Borgonha é famosa por seus vinhos e pelo gado Charolais. Aí é paulada na cabeça do boi e direto pra panela com um Pinot-Noir, nenhuma surpresa eles terem um prato desse tipo na região, certo?
A construção do sabor do seu boeuf bourguignon, na modesta opinião deste elmo preto e branco, tem 3 alicerces:
1- não use carnes muito magras. 2- use vinho com a uva pinot-noir. 3- com a não observação dos dois pontos anteriores, vc vai ter muito trabalho pra pouco resultado.
Existem muitas receitas deste prato por aí mas não é qualquer uma que vai te dar a sensação de estar fumando um Gauloise na beira do Sena ou de sentir o aroma do metrô de Paris no verão com aquela mistura de cheiro de gente com queijo Reblochon.
Está receita é de Madame Eugénie Brazier. Pra quem não a conhece, apresento: a primeira mulher a conquistar 3 estrelas michelin, em seu restaurante de Lyon e a primeira pessoa na história a ter 6 estrelas, com seu segundo restaurante.
Paul Bocuse foi um de seus muitos discípulos e nas palavras dele: "...poucos nos marcaram de forma tão indelével no mundo da gastronomia quanto Mére Brazier, cujo legado, até hoje, é um dos pilares da gastronomia global." Ela certamente humilharia sua avó na cozinha.
Fiz a receita dela a risca e depois uma segunda tentativa usando outro método para incorporar a farinha no molho. O método dela à risca ficou simplesmente o melhor boeuf bourguignon que já provei. A próxima vez que for pra França deixarei um tablete de manteiga em seu túmulo.
A receita: 450g de acém (ou coxão mole. Vai de acém), 6 cebolas pequenas, 1 colher de sopa de farinha, 1 dente de alho, 1 garrafa de vinho tinto da Borgonha (pinot noir), 1 colher de purê de tomate, buquê garni, bacon gordo, sal, pimenta cogumelos e salsa.
É exatamente assim que está descrita neste livro e é mais do que suficiente para chegar num excelente resultado.
FICA CALMO. Não precisa colocar duas garrafas de vinho pra 900g de carne. Segura minha mão ensebada de bacon e vem comigo!
Cortei o acém em pedaços, temperei com sal e pimenta. Não fica limpando as gorduras pra não ser assombrado pelo fantasma de Mére Brazier.
Bacon. Não use um bacon magro. Já falei isso antes? É importante. Fogo brando pra derreter bem a gordura antes de dourar a carne. Demora. Vai devagar. Vai fumar um gauloise e volta. Reserva o bacon e deixa a gordura na panela.
Agora vc vai dourar a carne em pedaços na gordura do bacon. Aos poucos, sem encher a panela. Se for fazer bastante, doure aos poucos e reserve.
Entra a cebola, doura também. Deixei as cebolas em pedaços grandes ou inteiras mesmo. Depois voltam as carnes pra junto da cebola. Agora pra cada 450g de acém vai 1 colher de sopa de farinha de trigo que vai dourar junto de tudo por 1 minuto. Fogo alto. Esse é o pulo do gato.
Pra cada 450g de acém entra 1 dente de alho e 1 buquê garni. Se vc não sabe do que se trata esqueça...coloque folhas de louro, salsinha, tomilho fresco (usaria no mínimo esses 3). Uma colher de purê de tomate, sal, pimenta e cubra com um vinho tinto.(eu usaria uma uva Pinot Noir)
Vc pode deixar ferver no fogão e levar a panela ao forno a 160 graus tampada. Ou fogo baixo tampada no fogão mesmo. Pelo menos 2 horas cozinhando. No fina, depois de cozido, entram os cogumelos fatiados já dourados (que eu esqueci, sacre bleu!)
Esse lance de entrar com a farinha de trigo junto das carnes e da cebola em fogo alto deu um sabor incrível, pra mim foi a diferença, especialmente depois que testei outro método.
Depois refiz a receita com quantidades maiores... do mesmo jeito. Só que a farinha de trigo só entrou no final. Doura o bacon, reserva. Doura a carne, a cebola. Entram os aromáticos, vinho tinto...
BIBIBI BOBOBO...
Ai no final você pega a peneira fina... mergulha ela no vinho... entra com a farinha e passa o fouet.
E olha que funciona mesmo. Eu senti falta daquele jenê sequá (como se diz na Bahia) da farinha queimada mas esse método é mais adequado pra fazer essa receita em grande escala para refeições pantagruélicas.
E dessa vez eu não esqueci os cogumelos. Salsinha fresca por cima de tudo antes de servir!
A textura, sabor e a cor da primeira vez com a farinha tostada ficou demais PUTAQUEOSPARALHO.
Tenho certeza que vai ter uma galera que faz tabuada com os dedos que vai ficar confusa "UE MAS PERAI A FARINHA ENTRA DUAS VEZES NA RECEITA". Entra sim, duas vezes. É um bolo de carne, confia.
Lembrete pra quem fez Kumon: a receita leva 1 dente de alho e 6 cebolas pequenas por exemplo. Multiplique esses ingredientes pra cada 450g de carne. O vinho no entanto, basta cobrir a carne na panela, não use 4 garrafas de vinho pra 1,8 kg de carne.
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Fiz um feijão branco com caldo de frango, creme de leite , abobrinha, cenoura e tomilho...
Pessoalmente eu sou fã de manteiga mas optei por colocar tb um azeite pois vocês sabem que eu sou um democrata de berço e acho que todo mundo tem que participar.
Tem um jeito de se preparar vagem que eu vejo muita gente aqui servindo no dia de Ação de Graças e que as crianças adoram. É uma vagem refogada com alho.
Pra vc acertar o ponto da vagem e preservar uma textura nela, recomendo branquear ela primeiro. Esse processo vai preservar a textura ideal e a cor também. É uma fervura seguida de choque em água gelada que vc pode deixar pronto muito antes de servir.
Deixa a água ferver com alegria. Um tempo de referência pro cozimento seria de 2 a 3 minutos para a vagem mas recomendo ir provando.
Receita genérica de "FRANGO NA BIRITA COM O QUE TIVER EM CASA":
Eu gosto do peito assim com osso e tudo. Posso estar viajando na maionese mas minha impressão é que ele está mais fresco desse jeito. Cortei em iscas grandonas e temperei.
Panela de inox. Primeiro aquece a panela. Testa a temperatura com água. As gotas deslizam inteiras sobre a panela? Efeito Leidenfrost? Entra a gordura e o frango empanado na farinha de trigo.
Hoje passei mais de 20 minutos esperando o arrombado do Jhonatan andar 690 metros pra me buscar mas aparentemente a minha corrida não era digna de Vossa Uberescência e ele ficou parado esperando eu cancelar a corrida.
Por coincidência essa semana peguei um uber que disse no meio do caminho que iria pegar outro caminho melhor que o do aplicativo. Concordei e ele me disse pra ficar tranquilo pois ele tinha sido taxista por 15 anos em Fortaleza. Como sou curioso como um papagaio cinza africano,
perguntei se ele preferia dirigir o taxi ou trabalhar na uber. Ele disse que "preferia o uber pois não precisava pagar 700 reais mensais pela licensa do taxi. Uma licensa de taxi em Fortaleza saía 700 reais mensais o aluguel e vc podia comprar uma para trabalhar no aeroporto...
Volta e meia me marcam nesses videos de donas de casa americanas fazendo receitas tenebrosas compostas por ingredientes industrializados numa assadeira de alumínio descartável. Essas receitas entram na categoria "Dump and Bake" de receitas. Algumas pessoas tentam enfeitar...
e dizem que estão fazendo uma "casserole" mas a característica principal do Dump and Bake é ser construída com alimentos industrializados. Comida de pacote.
É uma trajetória comum de muitos países: com a industrialização surge a comida industrializada.
Discordo do argumento que alimento industrializado é sinônimo de porcaria. Massas e tomates italianos, conservas de portugal e espanha provam o contrário. O japão consome muita comida industrializada (cerca de 1/3 das calorias totais) mas talvez sejam comedidos com as porções.
Todo mundo em pé com a mão no peito para contemplar a Zacuscă que aprendi com meu amigo romeno (potencialmente um mercenário) ao som do Hino Nacional da Romênia.
A Zacuscă data do século XIII quando a Romênia esteve ocupada pelo Império Otomano. Todo lar tem sua receita e modo de fazer esse prato. Eu já provei antepastos de berinjela com praticamente os mesmos ingredientes e o que surpreende é que a Zacuscă é doce. Zero acidez e amargor.
Quando pedi a receita pro meu amigo romeno (mercenário?) ele disse "é difícil e demorado mas um homem viril como você vai conseguir". Traduzi o diálogo do Romenasco (idioma da Romênia) que tive com ele para facilitar pra vocês, plebeus e analfabetos da escumalha da sociedade.