Leo Siqueira Profile picture
Economista EESP-FGV | Mestrado Economia Barcelona School of Economics | Doutorando Economia | Visiting Yale

Nov 11, 21 tweets

ESCALA 6 X 1

“Leo, você deveria apoiar o projeto da Deputada Erika Hilton do PSOL, que acaba com a escala 6x1 e implementa a escala 4x3…”

É verdade, como deputado seria mais fácil apoiar esse projeto.

Mas, como economista, eu sou obrigado a falar das consequências disso...🧵

Porque, veja, você pode escolher o que quiser, mas não pode evitar as consequências das suas escolhas.

Pois bem. Se reduzimos a escala de 6x1 para 4x3, isso resulta numa redução da força de trabalho de 33%.

Certo? Sim, issso é incontestável.

Agora, se a força de trabalho diminui em 33%, mas os salários são mantidos, o custo do trabalho aumenta para as empresas.

No curto prazo, isso pode parecer vantajoso para alguns, mas há consequências inevitáveis para todos.

Quem paga por isso?

Bem, quando o custo do trabalho aumenta, 3 coisas podem acontecer:

1. As empresas podem repassar o custo aumentando os preços. Nesse caso, todos os consumidores pagam a conta dessa inflação.

2. As empresas buscam alternativas como o trabalho informal para cortar custos. Nesse caso, quem paga são os trabalhadores estando na informalidade.

3. As empresas podem contratar menos e até substituir gente por máquina. Quem paga também são os trabalhadores com menos empregos.

“Ah, eu não acredito que isso aconteça...”

Ok! Não precisa acreditar em mim; basta olhar os dados.

As empresas que utilizam a escala 6x1 geralmente estão no setor de serviços, onde a informalidade é alta.

Só para ter uma ideia, na construção civil, 60% dos trabalhadores são informais;

No comércio, esse número é de 40%.

Veja o caso das empregadas domésticas.

Em 2013, o Governo Dilma aprovou a PEC das domésticas, que jurava que aumentaria os direitos das empregadas domésticas.

Passados 10 anos, a informalidade que era de 68% passou para 75% e não houve aumento do número de contratações.

E o pior, não houve aumento de renda. Como já esperado pelos céticos, não pelos populistas.

Agora vamos ver outra pesquisa.

Uma tese de um aluno do Phd em Economia olhou como a reforma portuguesa que reduziu as horas de 44 para 40 horas em 1996, na caneta, impactou o emprego, a produção e a produtividade das empresas.

O resultado?

Com o aumento do custo do trabalho, as empresas afetadas reduziram suas vendas e diminuíram as contratações.

Outra pesquisa olhou 25 países desenvolvidos.

E mostra que a redução de 1% nas horas de trabalho de forma artificial aumentou a automação em 1%.

Ainda assim, é natural que os trabalhadores queiram menos horas de trabalho.

E é exatamente por isso que eu defendo que todo trabalhador tenha o direito de negociar diretamente com seu empregador, recebendo um salário-mínimo por hora trabalhada.

Nos Estados Unidos é assim. O salário mínimo é de US$ 7,25 por hora trabalhada.

Trabalha mais, ganha mais; trabalha menos, ganha menos. Simples!

“Ah, você é contra a redução das horas trabalhadas?”

Negativo. O que estou alertando é que fica fácil políticos pagarem de heróis sendo que quem paga o preço dessas escolhas não são eles.

São os trabalhadores que verão seus empregos ameaçados, seus salários corroídos pela inflação e suas funções substituídas por máquinas.

Se realmente queremos uma redução de horas trabalhadas de forma sustentável, temos que olhar para como outros países conseguiram isso.

E não foi através da caneta ou de populismo de políticos.

Foi investindo em tecnologia, máquinas e equipamentos. Acabando com a burocracia das empresas. Foi aumentando a produtividade.

Com as pessoas produzindo mais, elas podem descansar mais e terem salários altos.

Mas, se a maioria ainda insistir, está bem.

É como dizer a um nutricionista que quer comer 6 mil calorias por dia sem engordar. Um profissional que concorda com isso está enganando você.

Assim como na política.

Enganar as pessoas com palavras bonitas é fácil. Mas enfrentar a realidade com responsabilidade e coragem, isso sim exige compromisso.

E é justamente pela abundância de populistas e a escassez de líderes corajosos que nosso país continua pobre.

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