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Guido Cavalcante @doguido
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Quando falamos de espaço visual na arte, do que se trata? O artista Frank Stella vê a criação de espaço como o principal objetivo da arte. Não o de nos enlevar ou para decorar paredes.
Em seu livro "Working Space', Stella define “Mais do que nada, o objetivo da arte é criar um espaço que não esteja comprometido com decoração ou ilustração, um espaço onde os temas da pintura possam viver.”
Tome uma obra de Caravaggio, David com a Cabeça dde Golias, pintada em 1607/08 e ponha ao lado de uma obra de Frank Stella e observamos que a projeção do braço de David é descrita por Stella na sua abstração. Isso é "espaço" na arte. Para ambos artistas, é o mesmo problema.
Cézanne é considerado como o iniciador da arte moderna, devido ao seu foco em experimentar com a "aparência" do espaço físico e com o espaço da tela.
O que está pintado é uma entidade autônoma, sem vínculos com a natureza, embora seja a representação de como o artista está vendo a natureza.Uma pintura dramática, "Lac d'Annecy", concluído em 1896, dez anos antes de sua morte, é bastante impressionante em termos pictóricos.
A modulação vibrante dos reflexos no lago é quase palpável. Mas por que Cézanne introduz uma solidez “cubística” na superfície do lago? Devemos supor que o espaço para um pintor é o espaço físico que vê, sua sensação desse espaço e a atividade de definir o espaço na pintura.
Ele estava formulando um novo sentido de espaço, mostrando q o espaço ñ era um vazio no qual o objeto e os planos são separados ou existem em um sentido relativo. Seu espaço é cheio de essência, um espaço corpuscular preenchendo a distância entre o olho e os reflexos no lago
Seria possível supor que Cézanne tenha antecipando a visão de espaço alcançada por Einstein uma década depois?A principal lição da teoria do espaço e do tempo de Einstein é que não podemos confiar em nossos sentidos, de acordo com o que espaço e tempo ñ são quantidades relativas
Até Einstein, comprimentos e tempos eram considerados independentes de quem os observava. É como as coisas nos parecem devido à nossa incapacidade de perceber fenômenos que ocorrem a velocidades próximas à da luz. A visão direta engana, como Cezanne já sabia em 1905.
Vamos dar uma olhada na cena artística em Paris na virada do século XIX. Avant-garde foi o termo aplicado aos vários movimentos, que incluíam o impressionismo de Claude Monet. O Pontilhismo de Georges Seurat. O Fauvismo de Matisse
Avant-garde se tornou sinônimo de experimentalismo, porque os artistas foram influenciados por novos desenvolvimentos científicos e tecnológicos, como a geração de imagens por raios X, que sugeria a eliminação das barreiras entre o interior e o exterior.
Foram atraídos pela cinematografia, com sua múltipla exposição da imagem fotográfica em velocidade. E pelas mudanças radicais no espaço, tempo e velocidade com a introdução de telefones, automóveis e aviões.
É nessa atmosfera que desponta em Paris um jovem artista espanhol de 26 anos – Pablo Picasso!
Em meados de 1907, Picasso completou a que é considerada a primeira pintura do século XX, Les Demoiselles d'Avignon.
Esta obra se situa na fronteira entre o antigo e o novo.
É notavelmente transitória na figuração de máscara egípcia na demoiselle na extrema esquerda aos rostos selvagemente distorcidos e geometrizados na extrema direita
E para completar, Picasso encontrou com outro artista em Novembro de 1907 – Braque! Para se ter uma ideia da obsessão de Braque pelo espaço, ele se imaginava girando em torno de uma tela para sentir os espaços atrás e entre os objetos.Ele se referia a estes espaços por "táteis"
Braque levou a técnica de Cézanne à fins estonteantes. Ele cortou as distâncias afastadas em planos bidimensionais que, no final, são reagrupados para compor a imagem em si. O espaço tátil é espremido e a imagem é produzida sem um único ponto de perspectiva.
Picasso adotou imediatamente a versão de passagem de seu colega, à qual acrescentou a sua marca de genialidade. O cubismo havia nascido.
Em um sentido geral, podemos dizer que existe um cubismo que quer mostrar simultaneamente todos os lados dos objetos.
Picasso "Portrait of Ambroise Vollard, 1908
Há um cubismo que viola o espaço unificado da perspectiva simples, para mostrar cada objeto de seu ponto de vista canônico, independentemente da relação com outros
Picasso "Still Life with Chair-Caning"
E há um cubismo que rompe a superfície para revelar a essência dos objetos comuns ou das pessoas representadas.
Braque "Violino e Castiçal"
O Cubismo representa o tema simultaneamente. Esta propriedade intrínseca do cubismo é como uma "quarta dimensão". As três dimensões espaciais dão profundidade, enquanto a quarta é movimento no tempo. Falamos de um espaço-tempo de quatro dimensões, e não de espaço e tempo.
Uma excelente ilustração é o inovador Nude Descending a Staircase, de Marcel Duchamp, 1912, que também exibe o efeito de tecnologias emergentes. Nenhuma figura nua é evidente na pintura. O que vemos é o movimento. A mudança de posição no tempo é retratada em uma única imagem.
O fato de que não há nudez clara na tela de Duchamp nos alerta que algo ocorreu na arte. Longe de qualquer conexão com formas vivas ou desenhos da natureza, nós a vemos como uma verdadeira obra abstrata.

Duchamp jogando xadrez com Eve Babitz
O ano de 1911 foi o ponto de virada porque o artista russo Wassily Kandinsky produziu a primeira pintura não figurativa intitulada Improvisação. Duchamp e Kandinsky são às vezes colocados em um desdobramento do cubismo no qual a forma e a cor substituem objetos reconhecíveis.
Kandinsky substituiu a estabilidade formal por uma nuvem flutuante de formas frouxamente articuladas, um tema que caracteriza todo o seu trabalho
Um tratamento radicalmente diferente do espaço é encontrado em Salvador Dali. Sua pintura é outro exemplo de como o conceito de espaço estava sendo reconsiderado e explorado por artistas do século XX.
Em sua pintura mais famosa "A Persistência da Memória" (1931), Dali já explorou a desintegração dos objetos, como o relógio sob o céu surreal. Mas o espaço em si é clássico, apenas o relógio está sofrendo uma influência distorcida.
Na pintura posterior, no entanto, o próprio espaço está se desfazendo, revelando seus blocos constituintes e o vazio sob a superfície da água. O que talvez seja mais impressionante é como Dali demonstra q o movimento em direção à desintegração não se limitou a pinturas abstratas.
Uma resposta bem diferente é a de Jackson Pollock, que levou a abstração à sua conclusão lógica. Seus experimentos, de 1947 a 1951 em particular, concentraram-se puramente nas propriedades da tinta ao ser pingada ou atirada na tela sem pincéis ou facas de paleta
O dinamismo das formas whiplash, que refletem a intensidade das ações que as criaram, pode ser visto como uma extensão das formas flutuantes das abstrações de Kandinsky.
Hockney explorou o espaço a partir de vários pontos de vista. Nos anos 80, começou a fazer uso da tecnologia fotográfica para estender a imagem além dos limites da tela pintada.
O mais relevante para a representação do espaço é uma série de fotocolagens baseadas em instantâneos de uma cena.Essas obras tb estão diretamente ligadas ao Cubismo Sintético e à forma como o cubismo perguntava o que é realidade e o que é ilusão na natureza e na pintura?
À primeira vista, a técnica de Hockney parece um método arbitrário de juntar a imagem de uma cena que poderia ter sido filmada em uma única tomada. Hockney, no entanto, como os cubistas, descreve a abordagem como um meio de reavaliar a geometria da perspectiva renascentista.
Uma fotografia padrão da ponte do Brooklyn, à parte uma fotocollagem da mesma estrutura, revela várias distorções curvas dos elementos retos de uma forma muito não fotográfica.
Leonardo da Vinci foi quem definiu os termos "natural" e "artificial". A perspectiva natural é a geometria projetiva no olho do observador. Enquanto a perspectiva artificial é a transformação necessária para pintar uma réplica precisa de uma cena do mundo em uma tela plana.
Hockney está tentando descrever a informação em perspectiva natural em um plano de imagem bidimensional.
Hockney desafiou a abordagem renascentista da perspectiva e ele também fez o mesmo em renderizações de perspectiva invertida.
Os resultados são irreverentes. Cadeiras e mesas parecem espalhadas e idiossincráticas, como se cada uma estivesse fazendo uma piada de si mesma. Parte do poder dessa abordagem pde evocar um senso de identidade de objeto, já que temos a percepção de uma visão quadridimensional.
Espero que eu tenha mostrado como os artistas desde Cezanne até Hockney exploraram mais características do espaço visual do que fazemos em nossa limitada forma de ver o mundo.
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