Sempre que eu vejo em algum lugar esse PAPO BRABO de que a urnas eletrônicas são fáceis de fraudar, que voto impresso / em papel é mais seguro etc, lembro de um causo maravilhoso da inesquecível ELEIÇÃO DE 1989.
SEGUE O FIO
O Brasil estava numa FISSURA danada em 1989. Em um frenesi democrático, surgiram vários candidatos. Entre eles, até o SILVIO SANTOS, que surgiu já com as cédulas impressas, virou favorito e acabou impugnado. Um bafafá daqueles, mas essa história conto outra hora.
Entre os concorrentes, algumas figuras importantes. Ulysses Guimarães, relator da Constituição, estava lá, bem como Brizola, Maluf, Mário Covas etc. E, é claro, sempre tocava o jingle LULA LÁ BRILHA UMA ESTRELA anunciando o candidato que (dizem) era o mais bonito de todos.
Outros candidatos, menos cotados, sumiram no esquecimento. Tinha, por ex, o MARRONZINHO, que propunha encarcerar criminosos perigosos em um transatlântico (sim). A LÍVIA MARIA, que queria ser a primeira presidente mulher do Brasil (Dilma Rousseff era uma desconhecida na época)
Foi nessa eleição que surgiu ENÉAS e o seu PRONA, que hoje muita gente cultua (e cultuavam na época também, deus me livre). E tinha o EUDES MATTAR (sempre lembro dele), um arquiteto que fundou o nanico PLP e nunca mais concorreu a nada hmgazetaonline.redegazeta.com.br/_conteudo/2014…
(Aliás, ERA UMA de tirar uma horinha para contar histórias dos esquecidíssimos CANDIDATOS A VICE-PRESIDENTE em 1989 - até porque vice virou um troço horrivelmente importante hoje em dia, com Temers e Mourões podem comprovar. Mas isso eu faço outra hora também)
Enfim. No fim das contas, eram 22 candidatos à Presidência da República. Tudo isso numa simplória cédula de papel, que reproduzo aqui
(A cédula estar marcada com um voto para Eudes Mattar não é coincidência, claro. Preste atenção que é importante para a história)
Enfim, chegou o 15 de novembro de 1989, 1o turno das eleições presidenciais. Com tanto papel, tanta urna de lona e tanta margem para erros e recontagens, a apuração demorou tanto que o 2o turno (Lula x Collor) começou antes da contagem acabar. E várias urnas foram impugnadas.
Uma dessas urnas, em Esperantina (PI), chamou a atenção do país. A cidade era notório reduto petista no Piauí, estado com 20% de analfabetos à época. Em uma das seções, Lula venceu de lavada, com quase 200 votos. Até aí, tudo bem. Mas o segundo colocado era... Eudes Mattar???
Depois de horas coçando a cabeça, a ficha do pessoal caiu.
Lula, durante toda a campanha, usou o fato de seu nome ser o primeiro da cédula como uma vantagem, para facilitar o voto dos analfabetos. "Marca a cruz no primeiro quadradinho", dizia sua campanha...
O que aconteceu, então, na seção eleitoral da pequena Esperantina?
O mesário, seja por erro ou má fé, entregou a cédula DE CABEÇA PARA BAIXO para analfabetos - e eles, que tinham decorado que Lula era o 1o quadrado, acabaram marcando X no último, do desconhecido Eudes Mattar.
Não lembro mais se a urna foi impugnada. Seja como for, FICADICA:
Malandragem em eleição não falta. Tem gente que entrega cédula de cabeça para baixo. Tem gente que inventa urna que imprime comprovante. E tem candidato que denuncia fraude, mas só se ele perder a eleição...
(Demorei muitos anos para encontrar uma referência online dessa história, mas enfim achei. Dá para ler, no link, a edição do Jornal do Brasil de 16 de novembro de 1989 - onde a gloriosa história da urna de Esperantina aparece em uma nota na página 3)
Adendo final. Eudes Mattar teve uns 162 mil votos ao todo - menos de 0,25%, mas suficiente para ficar à frente de Fernando Gabeira (PV), por ex. Quantos desses votos foram consequência de uma cédula de cabeça para baixo e um eleitor de Lula que não sabia ler? Jamais saberemos.
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O Grêmio, embora profundamente brasileiro, é também a mais pura alma do futebol sul-americano. É fato, não adianta. Nenhum outro clube no Brasil é assim. Nenhum outro clube brasileiro é SUL-AMERICANO do jeito que o Grêmio é. Nesse universo simbólico, somos soberanos.
Depois de duas derrotas (uma delas esperada, a outra constrangedora), o Grêmio passou a precisar de uma sequência daquelas para classificar. O horror que caiu sobre o RS, claro, dificultou tudo.
Nem sempre a chave gira. Pois, desta vez, girou. O Sul-americano do Grêmio aflorou.
Primeiro, uma jornada épica em La Plata, com gol dos guris. Depois, um partidaço emocionante, goleando The Strongest em um Couto Pereira que parecia Olímpico. E agora essa vitória contra o Huachipato, metade na bola, metade na raça em um POTREIRO louco. Quanto ENREDO, por deus.
Mais de 24h depois, ainda tem gente se mordendo porque exaltei a grandeza do Grêmio, demonstrada uma vez mais ontem.
A questão é que nada disso faz a menor diferença. O Grêmio tem uma grandeza que não é momentânea: é histórica. Não tem burburinho em rede social que abale isso.
Grêmio não virou gigante continental em 5, 10 ou 20 anos. Não nasceu em 1983.
Grêmio é 1o estrangeiro a vencer na Bombonera. Venceu a seleção uruguaia em 1911. É um dos 1os a vencer o Nacional no Uruguai (1949) - após o jogo, foram recebido de volta em POA como heróis.
Grêmio é 1o time gaúcho a vencer um time de SP. O 1o não-carioca a jogar (e vencer) no Maracanã. É um dos primeiros do Brasil a organizar turnês na América Latina - e talvez o que tenha feito isso em mais oportunidades.
Esse fim de semana assisti Dias Perfeitos no cinema e olha, fazia tempo que um filme não mexia tanto comigo. Me senti irmanado pelo elogio à beleza do banal que ele traz e, ao mesmo tempo, provocado a refletir em vários aspectos. Que filme bonito.
A atuação de Koji Yakusho como Hirayama, homem de meia idade que vive sozinho e trabalha limpando banheiros públicos em Tóquio, é uma das coisas mais incríveis que vi em muito tempo. Fala muito pouco, e não precisa: a conexão é noutra camada, muito mais sensorial e profunda.
O tema central do filme é muito caro para mim: a beleza do banal enquanto espaço de exaltação do humano e (por que não?) de resistência. Hirayama limpa latrinas, mas não é um homem infeliz. Sua rotina por vezes é pesada, mas ele encontrou espaços de beleza, e neles se faz pleno.
Acho importante que todo mundo que defende a democracia tenha isso muito claro:
O Brasil entrou na era do terrorismo doméstico.
O que aconteceu não foi obra de uns aloprados, somente. Foi perpretado por uma organização criminosa de extrema-direita, que continua ativa e de pé.
O que a gente viu foi a linha de frente dos loucos da praça. Há uma organização que encomendou, financiou, sustentou, disseminou informações. Contaminou setores do poder público. E que não é, necessariamente, formada apenas por brasileiros.
Não há motivo para pensar que acabou.
O golpe de 8/Jan não foi a primeira tentativa. Lembrem de 7/set/2021. Lembrem da tentativa descarada de roubar a eleição. Da bomba que só não explodiu num aeroporto porque o motorista viu que algo estava errado.
Não acho que 8/Jan será a última insurreição golpista que veremos.
A trajetória de Constantino é um testemunho de como sempre se pode cair mais fundo. No velho Orkut, ele era o Spamtantino, o cara que pedia a privatjzação dos tubarões. Hoje, é um entusiasta do golpismo e chaveirinho de miliciano. Uma espiral descendente rumo ao nadir.
Constantino ganhou espaço na ausência de nomes de centro-direita no colunismo dos anos Lula. Foi quando virou o "trovão da razão" na Veja, por ex. Sempre com a capacidade e honestida intelectual de um bugio atacando com as próprias fezes. Mas e daí? Era contra o Petê, né.
Foi meio que o mesmo fenômeno do Olavo 💀, que virou Upaguru na ausência de pensadores decentes de direita. Esses caras foram escolhas editoriais em período de vacas magras. Que a direita BR atual seja xucra, burra e intelectualmente desonesta tem ligação direta com isso.
Ótimo ouvir o Xandão dizendo que os golpistas "não são civilizados". Não são mesmo.
Acho que uma lição que a gente pode tirar de domingo é: não se pode tratar esse pessoal como se entendessem qualquer linguagem ou código civilizado. Não entendem. Eles só entendem punição, mesmo.
A gente tem essa tendência de achar que os caras não vão ousar o absurdo. Que até eles entendem que tudo tem limite.
Não. Esse pessoal caga e mija nos Três Poderes. Esse pessoal rasga um Di Cavalcanti. Esse pessoal bate em cavalo.
Esse pessoal não merece NENHUMA consideração.
É uma lição importante, porque não vai faltar senhorinha chorosa e tiozinho de mimimi. Não vai faltar gente querendo que aliviem a mão, em nome da "pacificação" do País.
Não tem paz com essa gente. A gente viu o que fazem quando pegamos leve com eles.