Como muitos já estão acompanhando, há uma verdadeira rebelião popular em curso no Chile. O país que era o exemplo sul-americano de estabilidade e modernidade explodiu.
Quero contar um pouco de como estão as coisas por aqui desde o início da rebelião.
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A saúde pública também é paga. Não existe um SUS. Os hospitais públicos são caóticos, todos os anos morrem milhares de pessoas nas filas de espera.
Os direitos trabalhistas foram destruídos pela ditadura. A jornada de trabalho é de 45 horas, as férias são de 15 dias, os trabalhadores têm meia hora de almoço.
Uma das heranças mais nefastas da ditadura é o sistema de aposentadorias. Todo o sistema é privado.
Nos últimos anos milhões de chilenos saíram às ruas de forma pacífica contra as AFPs e defendendo a volta de um sistema público de aposentadorias (como o nosso INSS).
A situação do principal povo originário, os mapuches, é dramática.
Na semana passada, então, o governo decidiu aumentar o preço da passagem. Um trabalhador ou uma trabalhadora que toma dois metrôs por dia pode chegar a gastar em um mês, 1/6 do salário mínimo.
Na sexta-feira (18) o governo militarizou completamente as estações, diante das convocatórias massivas dos estudantes.
Em todos os bairros começaram os protestos e confrontos com a polícia. De noite, a coisa já tinha se generalizado.
Na noite de sexta-feira, diante de uma enorme rebelião popular, o governo anuncia...
A noite de sexta foi de conflitos e barricadas. Não sabíamos como iria amanhecer o dia seguinte. A presença das Forças Armadas seguramente intimidaria os manifestantes, pensava o governo. Nada mais equivocado.
Sobre os saques, há cenas muito interessantes.
O processo é totalmente espontâneo e sem direção.
Os vídeos da brutalidade policial e do exército circulam sem parar. Ontem, a cidade de Valparaíso, uma das mais combativas do país, foi completamente ocupada por tropas do...
Hoje o dia amanheceu relativamente tranquilo. Alguns ônibus circulavam por Santiago. O aeroporto, no entanto, não funcionou. Muitos voos foram...
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Um novo fenômeno começou a aparecer. Grupos armados de traficantes ou relacionados com a própria polícia começam a assustar as populações mais combativas, atacar feiras e outros pequenos negócios.
Enquanto escrevo essas linhas, escuto gritos, tiros e bombas ao lado de fora do lugar onde estou.
(Nos últimos minutos o governo anunciou que já subiu para 7 o número de mortos, que vai aumentar a repressão e ampliar o estado de Emergência para mais regiões).”