1) Uma quarentena precisa de uma estratégia de testagem, senão apenas ganha tempo: retarda a disseminação do vírus no momento, mas, quando liberada, a infecção ocorrerá do mesmo jeito. É preciso entender a lógica da doença, p/ que a quarentena seja UMA DAS FASES do combate. 🔽
2) A peculiaridade da Peste Chinesa (e sua maior força) é a seguinte: ela pode ficar assintomática em boa parte das pessoas, porém continua transmissível. É como se, numa guerra, qualquer um pudesse ser um "agente secreto" do inimigo, transmitindo a doença sem aparentar.
3) A estratégia precisaria, então, mudar de foco: não apenas separar os velhos e os sintomáticos, mas encontrar os ASSINTOMÁTICOS. São esses que devem ser detectados e isolados, pois poderão levar a doença a outros sem que saibam (inclusive aos velhos que estiverem separados).
4) A quarentena poderia ser feita para imobilizar o cenário (manter o terreno atual sem outras evoluções) e, durante esse tempo, descobrem-se os focos da doença, que são especialmente os assintomáticos -- serão necessárias campanhas de testagem semelhantes às de vacinação.
5) Deixar os assintomáticos sem ter consciência da doença apenas vai permitir a existência de uma ponta solta na transmissibilidade: a doença continuará sendo transmitida para outros assintomáticos e para os grupos de risco -- sem que ninguém saiba.
6) Ao mesmo tempo, é impossível fazer todos os testes de uma vez; não se pode parar o país todo. Então é necessário usar o método ensinado por Aristóteles há muitos séculos: dividir um grande problema em pequenos probleminhas e ir resolvendo um de cada vez.
7) Não sou especialista, mas talvez se possa pensar em quarentenas localizadas, dividindo o país em regiões, microrregiões, zonas -- fazemos isso com as eleições; podemos tentar fazer com a testagem. Isso evitaria a parada total e permitiria a organização do combate.
8) A testagem poderia começar, em cada zona, pelos grupos de maior risco: aqueles que viajaram, os que estiveram em festas de carnaval, etc. Descobertos os infectados, são isolados para que não espalhem mais a doença. Recuperados e tratados, podem voltar à ativa.
9) Aliada às precauções que já estamos tomando, a quarentena DELIMITADA e COMBINADA COM TESTAGEM ampla pode ir controlando a epidemia e ordenando a população para o desenvolvimento gradual da imunidade geral (herd immunity).
10) São idéias baseadas nas experiências de países menores. Somos um país grande e, por isso, precisaríamos dividir o território para conquistá-lo. Mas parar tudo não dá e, sem testagem, poderá ser infrutífero, causando ainda mais problemas de outra ordem.
11) Não é possível deixar as pessoas em quarentena por um ano e meio, até surgir uma vacina. Também é inviável isolar apenas os idosos por esse tempo todo, pois eles também têm vida. Logo, é preciso usar a quarentena COM PROPÓSITO: descobrir os infectados.
12) Isso foi demonstrado no povoado italiano de Vo’, na região do Vêneto: uma quarentena de 15 dias com testagem dos 3.300 habitantes descobriu 542 infectados, 50 a 60% deles assintomáticos. Todos foram isolados e a doença não se expandiu.
theguardian.com/commentisfree/…
theguardian.com/commentisfree/…
13) O imunologista Trevor Bedford @trvrb, do Fred Hutchinson Cancer Research Center, de Seattle (EUA), tem demonstrado que é justamente a grande quantidade de casos assintomáticos e não documentados que facilita a disseminação da doença:
14) O período entre a infecção e a manifestação dos sintomas é a janela de tempo em que a disseminação da doença ocorre de forma mais incontrolável. Bedford @trvrb traz evidências a respeito:
15) A proposta de Trevor Bedford @trvrb é instaurar uma campanha ampla de testes. Quanto mais cedo a doença for testada, mais rápido é possível isolar o infectado e evitar novas infecções:
16) Bedford @trvrb apresenta os dados da Coréia do Sul como exemplo e traz os gráficos que evidenciam que o país conseguiu atrasar a disseminação da doença e equilibrar o número de infecções e recuperações por causa da testagem ampla e preventiva:
17) O epidemiologista Marc Lipsitch @mlipsitch, Diretor do Center for Communicable Disease Dynamics de Harvard @CCDD_HSPH, concorda com a proposta, mas lembra que precisa ser implementada o quanto antes, para a infecção não se descontrolar precocemente:
18) Kai Kupferschmidt @kakape, biólogo molecular pela Universidade de Bonn, Alemanha, e articulista da Science, está dizendo a mesma coisa: quarentena combinada com testes massivos e isolamento dos infectados, ESPECIALMENTE ASSINTOMÁTICOS.
sciencemag.org/news/2020/03/m…
sciencemag.org/news/2020/03/m…
19) Intuitivamente, essa tem sido a ação interna dos governos: o @gen_heleno está em isolamento, mesmo assintomático; outros membros da comitiva presidencial também; o médico David Uip, em SP, também. Por quê? Para não transmitirem, ainda que assintomáticos. É o mesmo princípio.
20) Ok, somos um país grande. Isso teria de ser feito por fases, é claro, trabalhando especialmente os territórios críticos, mas também defendendo aqueles em que a doença menos chegou, para preservá-los. Seria estratégia de guerra.
21) Talvez seja uma alternativa, colhida da experiência de outros países, para contermos a disseminação sem paralisar tudo, o que prejudicaria o trabalho, especialmente dos mais pobres. Deixo aqui para discussão de quem sabe mais.
22) E não esqueçamos das brechas que servem como principal porta de entrada: OS AEROPORTOS!
Nesses é que os testes devem ser aplicados com rigor. Não é o que se faz para evitar atentados? Mesmo raciocínio: barrar na porta de entrada.
Nesses é que os testes devem ser aplicados com rigor. Não é o que se faz para evitar atentados? Mesmo raciocínio: barrar na porta de entrada.
23) Falaram-me que o tweet nº 16 foi tornado indisponível pelo Twitter. Não imagino por que motivo, então segue o print, pois é importante: 
