Não raro, pessoas muito técnicas, imbuídas de boa-fé, dão respostas herméticas a perguntas abrangentes e veem sua intenção original distorcida. A entrevista no podcast da @ilustrissima , c/ a Dra Rita Barradas Barata, corre risco de virar exemplo crasso. Explico no fio
Antes, pra evitar mal maior, reproduzo literalmente a resposta da cientista ao ser indagada pelo repórter se ela concorda com a fala de Bolsonaro sobre haver uma histeria em relação ao #coronavirus . Vejam o que diz a dra Rita:
"A posição do Bolsonaro não dá nem pra discutir porque ele é uma pessoa que não tem nenhuma formação (técnica) e ele não acredita em ciência. Então, obviamente ele está usando isso pra fazer o jogo de cena que ele faz com qualquer outra coisa. Não é isso que estou dizendo...
... O que estou dizendo é que temos uma doença pandêmica que afeta o mundo inteiro e que representa risco alto para pessoas acima de 60 anos (...) A minha dúvida é se as estratégias usadas para conter o problema estão apropriadas ou não (...) temos, sim, que ter os recursos...
... necessários pra atender todo mundo, pra evitar que as pessoas morram, pois o fato de a pessoa ficar doente não pode ser uma sentença de morte. Ela tem que ter a chance de ser cuidada e se recuperar. De maneira nenhuma estou endossando a posição do presidente (...)"
Legal, agora você já sabe que a pesquisadora não endossa a visão ilógica do maníaco em Brasília. Podemos, então, focar no conteúdo da entrevista, que, apesar de ter passagens excelentes e informativas, apresenta, no mínimo, uma lacuna gravíssima
A pesquisadora afirma reconhecer a gravidade do problema e que o doentes merecem a chance de serem cuidados e se recuperarem, no entanto, diz também não entender a mobilização mundial em torno do corona, sendo que há doenças mais graves. A matemática dessa análise não fecha
Conforme a imensa maioria dos especialistas afirma, SEM O ISOLAMENTO, O SISTEMA DE SAÚDE COLAPSA. Ou: sem o distanciamento social HORIZONTAL, criticado pela cientista, os pacientes não serão cuidados e tratados, como ela, por sinal, gostaria. NÃO VAI TER LEITO, simples assim
O erro da pesquisadora parece ter sido dissociar uma coisa da outra. Ela afirma, por ex, que, devido ao isolamento, vamo conviver por mais tempo com a doença. Ou entendi algo muito errado, ou a ideia é justamente essa! É assim, com + tempo, que daremos conta de atender os doentes
Fenômeno curioso na pandemia atual é que temos lido e escutado análises assustadoras de estatísticos sem background em epidemiologia e infectologia, com ênfase excessiva na curva exponencial baseada na análise bruta dos números, deixando de lado variáveis médicas e sociais, como
a evolução dos tratamentos, a imunização "natural" de parte da população, o desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas. Agora, a Dra Rita Barradas Barata deixa de lado a matemática e parece mirar quase que exclusivamente nos pormenores clínicos e fisiológicos da doença
Há ainda, outro ponto essencial: o gap entre o tempo da ciência, onde o debate é fundamental e inerente, e o da política pública, ainda mais em situação emergencial como uma pandemia global. Tempo é escasso e não dá pra ter 100% de certeza pra tomar as decisões
É preciso agir com base no melhor conjunto possível de informações científicas disponíveis. Os exemplos atuais mais consistentes vêm do lockdown bem-sucedido na China e da merda feita na Itália, onde o isolamento foi subestimado e há quase 10 mil mortos em 30 dias
O cenário em outros países e suas opções para o isolamento devem, é claro, ser analisados, mas não como baliza imediata para a tomada de decisão. É preciso todo cuidado com o uso político da discussão técnica, pois, nas redes, o debate ideológico, tende a atropelar o científico
Isso é ainda mais grave no Brasil, onde o governo central intencionalmente estimula a produção de ignorância cultural, colocando a vida dos brasileiros, cada vez mais confusos com orientações tão distintas, em risco. Em resumo, #FiquemEmCasa e #CienciaÉaResposta
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Neste "capítulo", focamos no dia a dia dos agricultores familiares que vivem na #Floresta Nacional do #Tapajós e na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, onde #cientistas trabalham lado a lado com #ribeirinhos no desenvolvimento de tecnologias alternativas ao fogo na agricultura
Estas populações dependem do que plantam para sobreviver e utilizam pequenas #queimadas controladas no preparo do solo. Sem suporte técnico do Estado, pressionados por desmatadores e por um #clima cada vez mais seco, eles ainda se veem acusados pelo governo federal
Da próxima vez que o gov federal mentir sobre a responsabilidade pelos incêndios na #Amazônia, envie o nosso mapa. Difícil negar a realidade quando ela aparece sobreposta em camadas de dados na mesma visualização: #FOGO e #DESMATAMENTO tem relação direta: cortinadefumaca.ambiental.media
Ontem, na ONU, Bolsonaro culpou os pequenos produtores rurais das populações tradicionais amazônicas e do #Pantanal pelas queimadas nas duas regiões, mas isso não é verdade. O time da @ambientalmedia passou 6 meses investigando os dados de fogo e desmatamento na #Amazônia
Não “só” a divulgação de multas ambientais agora está submetida ao vice-presidente Mourão. Uma série de publicações no DOU nos últimos dias esvazia ainda mais a atuação do Ibama, limita o Conselho Nacional da Amazônia ao Executivo e cria aberrações. Links da boiada passando
PORTARIA Nº 1.369, de 16 de junho, institui um núcleo de instrução de processos ambientais e proíbe a divulgação de multas ambientais ainda não julgadas. É um ataque à transparência e à conservação ao mesmo tempo in.gov.br/en/web/dou/-/p…
RESOLUÇÃO Nº 1, de 17 de junho, sobre o Conselho Nacional da Amazônia, limitando os membros ao poder Executivo federal, que poderão convidar outras pessoas, como prefeitos e governadores da Amazônia Legal, mas estes ñ terão direito a voto in.gov.br/en/web/dou/-/r…
URGENTE: Indígenas das etnias Tiriyó, Katxuyana, Txikiyana, Wayana e Aparai, moradores de TIs entre norte do Pará e fronteira c Amapá, pedem socorro. A região só é acessível por avião, já há 19 indígenas c #covid19 e ali há povos recém-contatados e isolados. Etnocídio em curso
O esvaziamento dos órgãos ambientais e a validação da ilegalidade patrocinadas por Salles e Bolsonaro atuando na disseminação da #covid19 no interior da #Amazônia: recebo de fonte a DENÚNCIA de que um piloto de balsa na região de Santarém desafiou ordem dos fiscais do @ICMBio
A balsa transporta passageiros entre as localidades do Baixo Tapajós, onde existem algumas Unidades de Conservação, como a Floresta Nacional (Flona) Tapajós. Só que uma portaria do MMA do final de março fechou todas as UCs do país. Questionado pelos fiscais, o homem deu de ombros
Disse que seu barco está regularizado pela Marinha e que NÃO RECONHECE A AUTORIDADE DO ICMBio. O saldo é trágico: a embarcação teria sido o veículo para a contaminação de 20 pessoas apenas na comunidade de Prainha, que fica na Flona Tapajós, sendo que um dos ribeirinhos já morreu
A conclusão do maior estudo feito até aqui com a #cloroquina, recém publicado no Journal @TheLancet : “Em resumo, este estudo (...) de pacientes com COVID-19 que necessitaram de hospitalização constatou que o uso de um regime contendo hidroxicloroquina ou cloroquina +
com ou sem macrolídeo*) foi associado a nenhuma evidência de benefício, mas, em vez disso, foi associado a um aumento no risco de arritmias e a um maior risco de morte hospitalar (...) +
Os resultados sugerem que esses medicamentos não devem ser utilizados fora dos ensaios clínicos e é necessária a confirmação urgente dos ensaios clínicos randomizados.”
*macrolídeo é o grupo de antibióticos ao qual pertence a azitromicina