Thread by @bbcbrasil

A MATEMÁTICA DAS UTIs
As UTIs abrigam os pacientes graves que precisam de monitoramento 24h e uso de respiradores e monitores cardíacos.

Quais são os 3 desafios que o Brasil precisa superar p/ conseguir atender a todos que precisarão delas durante uma pandemia? Vem no FIO👇

Para começar, estima-se que entre 5% e 15% de infectados pelo coronavírus desenvolvam quadros que vão para a UTI. A porcentagem é pequena, mas a dimensão da crise pode tornar os números absolutos grandes. E há também os pacientes que podem precisar dos leitos por outras condições

Um levantamento recém-publicado pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib) calcula que o Brasil tem 48.848 leitos de UTI (22,8 mil no SUS e 23 mil na rede privada). São cerca de 20 leitos por 100 mil habitantes.

Esse índice é considerado satisfatório nos padrões da OMS, que recomenda de 10 a 30 camas de terapia intensiva para cada 100 mil habitantes. No Brasil, esse estoque relativamente alto se deve às altas taxas de violência urbana e letalidade no trânsito.

Em entrevista no dia 28/03, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e seu secretário-executivo, João Gabbardo, disseram que 15 mil leitos adicionais estão sendo estruturados, junto à compra de mais 17 mil respiradores.

Mas será que esse total de leitos será suficiente para atender à demanda crescente da atual pandemia? Isso dependerá de alguns fatores:

1. DIFERENÇAS REGIONAIS
A rede privada tem +- 49 leitos por 100 mil habitantes e o SUS tem 14. E o Sudeste tem 24 mil, ou 60% do total. Embora seja a mais populosa, a região tem proporção maior de leitos (27/ 100 mil habitantes) em relação à região Norte (9/ 100 mil habitantes).

2. Nº DE PROFISSIONAIS
A crise deve exigir um número grande de profissionais de saúde altamente especializados para gerir as UTIs. E a contaminação pelo vírus pode impedir que essas pessoas trabalhem: até 31/03, apenas no Estado de SP, foram mais de 600 profissionais afastados.

3. ACHATAR A CURVA
A gestão de leitos e recrutamento de profissionais só adiantará, segundo os médicos consultados pela @bbcbrasil, se conseguirmos evitar que uma quantidade enorme de pacientes se infecte ao mesmo tempo e precise de tratamento médico simultaneamente.

POR EXEMPLO: uma nota técnica do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps) calcula que, em um cenário em que 20% da população seja infectada pelo coronavírus e 5% desses infectados necessitem de UTI por 5 dias, grande parte da rede teria sua capacidade esgotada.

Segundo o mesmo estudo, porém, essa situação pode ser amenizada se o ritmo de infecções for mais lento.
➡ Se 20% da população for infectada ao longo de 18 meses, em vez de 12 meses, cairia consideravelmente o número de redes com a capacidade de leitos esgotada.

❗Mas o contrário também vale: se 20% da população for infectada em 6 meses, praticamente todo o país teria superlotação de UTIs.

Em um cenário como esse, médicos seriam obrigados a fazer escolhas de quais pacientes receberão o atendimento, a partir da probabilidade de cura.

"Tudo depende de achatarmos a curva", conclui o médico Hugo Urbano. "Se deixarmos o vírus livre, chegaremos ao colapso e vamos perder vidas que poderiam ser poupadas e que nos ajudariam a reconstruir o país mais tarde."

Leia a reportagem da @PaulaIdoeta: bbc.com/portuguese/bra…