Thread by @bbcbrasil

😷 ISOLAMENTO VERTICAL
O que é a ideia que ganhou o apoio de Trump e Bolsonaro em meio à pandemia do coronavírus? E por que ela é tão criticada pela maioria dos especialistas?
Explicamos com a ajuda da @Mariana_Sanches, correspondente da @bbcbrasil em Washington, neste FIO👇

Começando pelo começo: O isolamento vertical significaria isolar apenas os grupos vulneráveis, como os idosos, e deixar o resto da sociedade exposta ao vírus, para que a população adquira a chamada “imunidade de rebanho”. A ideia permitiria derrotar a pandemia sem parar o país.

E de onde veio essa ideia? Um dos pais do método é David Katz, diretor do Centro de Pesquisa em Prevenção Yale-Griffin. Ele se baseia em números da Coreia do Sul, onde o coronavírus matou 1% dos contaminados e foi contido graças à testagem massiva e rastreamento de infectados.

Manter a quarentena poderia fazer mais vítimas de pobreza, desemprego e violência do que do vírus em si, diz Katz. O médico epidemiologista John Ioannidis, codiretor do Centro de Inovação e Pesquisa da Universidade de Stanford, é outro defensor do argumento.

A teoria de Katz e Ioannidis foi música p/ os ouvidos de equipes econômicas que tentam fechar as contas públicas em meio à perspectiva de recessão. No 🇧🇷, ela ganhou adeptos na equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, em busca de uma saída mais suave p/ a crise da saúde.

Mas vamos à pergunta de 1 milhão de dólares: se a medida poderia conter a pandemia e conter a recessão econômica ao mesmo tempo, por que tantos especialistas são contrários a ela?

Bem, é porque não é tão simples assim.

Pra começar, há uma escassez de dados que suportem a conclusão. E, se os poucos dados nos quais Katz e Ioannidis se baseiam estiverem errados, isso poderia significar milhões de mortes a mais, e levar o mundo todo a um colapso completo de saúde.

De acordo com a última estimativa da OMS, seria necessário aumentar em ao menos 80 vezes o número de testes de laboratório para coronavírus ao redor do mundo para que fosse possível entender com precisão o alcance da pandemia e seu potencial de letalidade.

O próprio Ioannidis reconhece que "no pior cenário, se o novo coronavírus infectar 60% da população global e 1% das pessoas infectadas morrerem, isso se traduzirá em mais de 40 milhões de mortes em todo o mundo, correspondendo à pandemia de influenza de 1918".

Só que o “pior cenário” de Ioannidis não é necessariamente o “pior cenário” real: a taxa de letalidade não depende só dos quadros de saúde que o vírus pode produzir, mas da capacidade dos países de avaliar e tratar doentes. Na China, por ex, a taxa foi de 4%. Na Itália, de 9,8%.

Ou seja: não dá para fazer uma projeção estatística otimista para o mundo todo com base só em dados da Coreia do Sul, argumentam os críticos das ideias.

Um deles é Harry Crane, estatístico da Univ. Rutgers. P/ ele, o erro de Katz e Ioannidis foi se deixar levar pelo desejo de negar uma situação que pode causar desespero. "Sob grave incerteza, é instinto natural e bom senso esperar pelo melhor, mas se preparar para o pior", disse.

Mas ainda que o isolamento vertical fosse uma saída, há o problema de aplicá-lo em países como o Brasil, em que aprox 2 em casa 3 idosos vivem com alguém que não é seu cônjuge. Como garantir que pessoas autorizadas a circular não trariam o vírus p/ casa? bbc.com/portuguese/ger…

Algo semelhante chegou a ser tentado no Reino Unido, mas o governo do país recuou do plano nesta semana depois de indicativos de que seu sistema de saúde podia entrar em colapso. Mais nesta reportagem:
bbc.com/portuguese/int…

“Para um problema dinâmico e complexo, como o coronavírus, sempre queremos mais informação, mas temos que lidar com o que temos. Este não é um projeto de pesquisa acadêmica. É vida real, em tempo real" afirma Harry Crane. Leia a reportagem completa aqui:
bbc.com/portuguese/int…

E, se você prefere em vídeo, assista à explicação completa da @Mariana_Sanches aqui: