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A história de hoje é sobre isolamento, um reflexo do momento que estamos vivendo.

Uma das maiores histórias de sobrevivência que temos notícia.

Vamos lá:

Tudo começa em 1978, com um grupo de geólogos russos sobrevoando a Sibéria fazendo pesquisa.
Para quem não sabe, Sibéria é uma região russa gigantesca que guarda gigantescas reservas de petróleo.

É uma região absolutamente inóspita, de difícil sobrevivência e, por isso mesmo, pouco povoada.

Os geólogos sobrevoavam a região para escolher um local para instalar uma base.
E, no meio desse voo, quando estavam distantes 200 km do povoamento mais próximo, eles avistaram uma misteriosa clareira.

Resolveram pousar ali perto para descobrir o que era aquilo e se depararam com uma descoberta desconcertante: uma cabana.
O teto da cabana estava coberto por folhas e restos de floresta, e somente uma janela deixava entrar alguma luz.

Na hora eles perceberam o tamanho do mistério, porque dados do governo soviético davam como certo o despovoamento daquela área.

Foi quando, da cabana, saiu um velho.
Ali, naquele momento, dois mundo se encontravam.

O velhinho, desconfiado, só olhava o grupo de cientistas, que se pôs a explicar:

- Viemos em pesquisa, estamos procurando petróleo e demos com a sua cabana. Viemos de muito longe.

Diante disso, ele falou:

- Sendo assim, entrem.
Dentro da cabana, mais miséria. O chão era coberto de cascas de batata, restos de pinha e musgos. Os móveis eram absolutamente rústicos e não havia qualquer sinal de modernidade. Havia, isso sim, muitos livros e papeis, como se houvesse ali um grande estudioso.
Enquanto o homem conversava com os cientistas, apareceram duas mulheres assustadas, que diziam que a presença daquela gente era punição divina por causa de seus pecados.

Foi quando o velho homem começou a explicar as coisas todas...
Ele se chamava Karl Lykov e era um velho crente da Igreja Ortodoxa Russa.

Vou parar rapidinho para explicar:

Em 1652, o patriarca Nikon, da Igreja Ortodoxa Russa, resolveu inserir na igreja uma série de alterações que abrandavam a rigidez dos costumes.
Uma parte dos fieis não aceitou a mudança e passaram a se chamar "velhos crentes".

Eles eram extremamente rígidos em seus hábitos e cotidianos, e a diferença entre os fieis de Nikon e os Velhos crentes só fez aumentar com o tempo.

E, na época da Revolução Russa a coisa piorou.
A perseguição bolchevique contra os Velhos crentes era extremamente violenta.

Foi assim que, em 1936, o nosso já conhecido Karp Lykov viu seu irmão ser brutalmente assassinado - e ele mesmo não foi morto por pura sorte.

Com a repressão crescendo, o que Karp resolve fazer?
Isso mesmo, pegou a esposa, Akulina, e se embrenhou na Sibéria. Eles fugiram com seus livros religiosos, algumas sementes e ferramentas, e o pouco que conseguiram carregar.

E, cada vez mais, iam mais e mais longe, sempre que sentiam que a humanidade se aproximava.
Foi assim que eles foram parar 200 km de distância do humano mais próximo.

Eles não tomaram conhecimento da 2ª Guerra Mundial, não sabiam das bombas atômicas americanas no Japão, nem da chegada do homem à lua, além de todas as outras coisas que, hoje, qualquer pessoa sabe.
Durante todos esses anos, Karp e Akulina tiveram quatro filhos: Savin, Dmitriy, Natalia e Agafia.

A vida deles se limitava a cuidar da terra e estudar a bíblia.

No tempo quente eles se alimentavam com caça e batatas, quando tinham sorte. No inverno, com sementes e raizes.
Akulina havia morrido de fome em 1961, o que revela a faceta terrível da sobrevivência em isolamento da família.

Agora, imagina o que não deve ter passado pela cabeça dos Lykov, amedrontados e perdidos, tendo que enfrentar o mundo pela primeira vez em 42 anos.
Os filhos de Karp Lykov provaram pão pela primeira vez, além de toda a espécie de alimentos que nem imaginavam existir.

No acampamento base dos geólogos, assistiram tevê e ficaram hipnotizados, para, logo depois, cair em choro e reza, achando ter cometido algum pecado.
E quando explicaram a eles sobre satélites, somente então entenderam o que eram as estrelas rápidas e coloridas que amedrontavam a todos nas noites claras.

A vivência primitiva, apesar de horrenda, era a única que tinham, por isso decidiram não sair dali.
Mas eles passaram a receber auxílio do governo.

Conseguiram substituir as ferramentas de 1936, velhas e quebradas, que não tinham como serem reparadas ou trocadas por novas.
E também esqueceram os anos de fome, das vezes que tiveram que decidir se comiam o que havia resistido às pragas e aos animais selvagens ou se deixavam algumas sementes para cultivar no ano seguinte.

Das ocasiões em que comeram o couro dos sapatos.

Mas tudo isso cobrou um preço
Apesar do governo soviético dizer que não se deveu ao contato com a civilização, 3 dos 5 integrantes da família morreram em 1981 por causa de diferentes doenças.

Dmitry e Natalia desenvolveram infecção nos rins - devido à limitada dieta que levaram por anos.
Savin não resistiu a uma pneumonia causada por uma infecção, já que não tinha recebido vacinas e também era desprovido de qualquer espécie de anticorpos.

Por sua vez, Karp morreu em 1988 de causas desconhecidas, mas se presume que seu organismo se sobrecarregou com as novidades.
Hoje, a única Lykov ainda viva é Agáfia, que mora na mesma casa onde nasceu, ainda relativamente isolada de tudo e todos.

Segundo cálculos, ela deve ter cerca de 70 anos e se recusa a conhecer a civilização. Prefere viver como sempre, ao lado dos túmulos da família
Inclusive, se vocês quiserem, tem um documentário patrocinado pelo Governo Russo sobre a história, que permite conhecer de forma bem real como era a vida dos Lykov.

Fim, e segue o link.

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