1/13 Como financiar os gastos necessários para combater a pandemia? Esse tema tem dividido economistas e está recheado de confusões e preconceitos. Na realidade, existem três formas de "financiar" os gastos ex-ante e quatro formas de lidar com as consequências do déficit ex-post.
2/13 O gasto público pode ser financiado de três maneiras: 1) emissão de moeda (BC compra títulos do tesouro); 2) emissão de títulos (tesouro pega "emprestado" do setor privado) ou 3) uso da conta única do Tesouro (moeda contábil q não está em circulação entra em circulação).
3/13 A emissão primária vira reservas bancárias, oq promove a redução dos juros interbancários. Caso não queira perder a efetividade da taxa Selic (q serve como rentabilidade mínima da economia), o BC terá q retirar o excesso de caixa dos bancos, usando operações compromissadas.
4/13 O BC tb pode reduzir a Selic, permitindo q parte do aumento da moeda continue em circulação. TB pode aumentar o compulsório, mas isso não é usado em períodos recessivos. Ou seja, a maioria da emissão monetária irá virar dívida de curto prazo (LFT usada nas compromissadas).
5/13 A emissão de dívida pelo Tesouro é mais simples e exige menos mudanças legais (a emissão primária é hj proibida no Brasil). No entanto, com a atual preferência pela liquidez, as taxas de juros de títulos longos estão altas, elevando o custo de financiamento da dívida nova.
6/13 O tesouro pode se financiar com dívida curta (LFT) ou gastar os recursos da Conta Única para não emitir nova dívida. Mas usar a CU vai aumentar as reservas bancárias da mesma forma q uma emissão primária, exigindo a utilização de compromissadas. Ou seja, dá qse tdo no mesmo!
7/13 Uma vez realizado o gasto, o déficit e a dívida sobem. Aí vem a questão: como controlar a trajetória da dívida? Existem 4 opções: 1) juros baixos; 2) aumento de receitas; 3) venda de ativos; 4) corte de gastos. É aqui q os economistas verdadeiramente se dividem!
8/13 Manter juros reais baixos é fundamental p/ controlar a dívida. P/ isso, não pode ter inflação alta. Alguns acham q + moeda = + dívida = + inflação. É um raciocínio monetarista atrasado e falso, tdo depende do momento da economia. No atual, pode ter juros e inflação baixas.
9/13 Aumentar receitas ajuda a controlar o déficit e a trajetória da dívida. Pode ser através de aumento de tributos (reforma tributária progressiva) ou de crescimento econômico. A retomada do crescimento é fundamental p/ recuperar receitas e o Estado joga papel decisivo aqui.
10/13 Vender ativos (reservas, empresas estatais e prédios públicos) p/ recolher dívida é outra forma. Se reduz o ativo e o passivo e o "tamanho" do Estado diminui. O mesmo vale para o corte de gastos (folha, previdência, etc), q reduz a participação do Estado na economia.
11/13 Os neoliberais não acreditam que seja possível manter juros baixos (acham q o aumento da dívida vai gerar inflação) nem q o Estado tem papel decisivo na retomada do crescimento. Por isso defendem a venda de ativos e o corte de gastos, p/ reduzir a dívida e o Estado.
12/13 Os "desenvolvimentistas" acham q o Estado tem papel central na retomada do crescimento e q a inflação não será um problema enquanto o desemprego e a capacidade ociosa estiverem altas. Preferem combinar reforma tributária, investimentos públicos (p/ crescer) e juros baixos.
13/13 O debate entre emitir moeda ou dívida serve para confundir. Tanto faz, todo gasto será financiado e a dívida vai subir. Oq nos separa é sobre oq fazer depois. Cortar gastos (inclusive sociais) e vender patrimônio ou crescer, tributar ricos e reduzir ganho dos rentistas?
