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Quem me acompanhava desde o começo da crise, sabe que eu vinha fazendo umas atualizações de como estava pensando sobre o coronavírus.

Parei de fazer as atualizações porque me parece que o cenário ficou mais ou menos estável e fiquei com mais dúvidas.

Mas vale repetir...
... algumas coisas.

A primeira é que crescimento exponencial não é o termo adequado para falar em processos biológicos. A doença não iria pegar 100% da população. A imunidade de rebanho viria antes disso.
A dúvida é quando isso iria acontecer. Em 25% da população? Em 75%?

No início da crise, fechar fronteiras fazia todo o sentido, pois uma comunidade poderia se isolar totalmente até que a imunidade de rebanho fosse atingida onde o vírus estava circulando.
Porém, eu realmente não sei mais como isso vai acontecer, já que tem transmissão comunitária em todo lugar. Talvez isso ainda seja possível em Taiwan e na Nova Zelândia, mas isso vai requerer um esforço brutal: eles vão ter que permanecer isolados até a vacina.
Além disso, é curioso como as pessoas não percebem que as medidas mais rígidas (quarentena, lockdown) só funcionam por curtos períodos de tempo. Adotar essas medidas por períodos mais longos torna inevitável (tanto economicamente quanto psicologicamente) que as pessoas ...
... as burlem. Isso faz sentido apenas como parte de uma estratégia geral e urgente, não como um cenário indefinido -- o que aumenta ainda mais a tendência das pessoas em ignorar as regras.
Em todo caso, parece que acabamos todos no mesmo lugar: em cenário de semi-lockdown, o que não é suficiente para extinguir a doença, mas ao menos desacelera o processo de contaminação. O problema é: por quanto tempo?

Na prática, acho que não se entendeu direito o que estava...
... implícito na ideia de "achatamento da curva". O objetivo disso não é exatamente evitar o corona, mas evitar o colapso do sistema hospitalar.

É nesse ponto que o debate brasileiro fica mais maluco, porque algumas pessoas acham que as mortes são culpas de não termos tido um..
... lockdown total, mas as únicas mortes que o lockdown evitaria são as mortes pela falência do sistema hospitalar. As mortes pelo próprio corona eram esperadas nessa estratégia.

(Sei que é pesado dizer isso, mas não joguem pedra em mim: não foi eu que criei essa estratégia.)
Bom, mas essa é a parte que eu tenho dúvida: os países que adotaram essas medidas bem cedo (como o Canadá) e salvaram o sistema hospitalar com folga, irão ainda assim atingir a imunidade de rebanho?

Eu estou achando que não. Assim que começar a abrir, terá novas...
... ondas, já que a transmissão comunitária vai continuar ocorrendo (nem que seja em outros países). Ou seja, parece que um super-achamento da curva vai criar ondas (talvez menores) por vários meses.

E aí a questão da sustentabilidade das medidas fica ainda mais crítica.
Dito isso, acho razoável esperar que as próximas ondas sejam menores, já que alguns hábitos de distanciamento irão ficar arraigados e haverá menos pessoas para infectar (por causa da imunidade parcial).

Porém, me parece que o vírus veio mesmo para ficar por um bom tempo.
Se isso for verdade, as estratégias "intermediárias" de conseguir proteger o sistema hospitalar e a economia AO MESMO TEMPO serão as apostas vencedoras. Afinal, vai ser preciso sustentar uma variação moderada de distanciamento social por mais um ano.
Lembrando que distanciamento social não é quarentena. É usar a inteligência para manter a vida funcionando enquanto se minimiza as infecções (máscara, hábito de lavar as mãos, protocolos no sistema de saúde).
No fim das contas, acho que ainda em fevereiro, eu disse que a principal linha de defesa ia ser o sistema imunológico.

Há fortes indícios que a doença é pior em quem tem resistência à insulina. Ou seja, ótimo momento para perder peso, cortar carboidratos e ser mais ativo.
A principal lição diante de tudo isso é como quase ninguém consegue pensar com nuance. As mesmas pessoas que eram extremamente céticas há dois meses, agora estão com medo de morrer e acusando os outros de matarem seus parentes.

É tudo na base do 8 ou 80.
Ou seja, no fundo, o vírus revelou apenas duas coisas: a OMS é uma vacilona e as pessoas que já eram meio birutas enlouqueceram ainda mais com o lockdown.
Enfim, toquei em tantos assuntos paralelos que acho que preciso dar uma resumida: continuo achando que a taxa de letalidade vai ser pior que o influeza, mas não o suficiente para extinguir a humanidade como parecem querer alguns.

Vamos ter que usar a calma e a inteligência...
... para encarar mais algumas ondas disso. Provavelmente, vai se adicionar às malezas já existentes (dengue, zika, etc.).

É pesado, mas é a vida. Bola pra frente.
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