Eu não acredito que as pessoas más já nasçam assim. Mas acredito que, se alimentados de informações e valores equivocados, todos nós podemos virar monstros.
Há uns 15 anos, as grandes empresas de tecnologia perceberam que podiam fidelizar os usuários de seus serviços personalizando a informação que entregavam.
Em outras palavras, enquanto ocultavam todo o resto, mimavam e viciavam os consumidores entregando apenas aquilo que quisessem consumir.
Essa fórmula, como alertou Eli Pariser há uma década, trancaria as pessoas em bolhas virtuais avessas à divergência. Tais bolhas funcionavam como câmaras de eco que apenas reforçariam o viés de confirmação.
Ali por 2010, já se imaginava que a humanidade se radicalizaria. E se entrincheiraria contra qualquer informação que confrontasse o que fosse consenso dentro de cada bolha.
É exatamente o que temos hoje. Em especial, no Brasil. Contra argumentos, não há mais fatos. E, de repente, uma nação pacífica está entregue a um governo fascista, que agenda churrasco para reforçar que não se importa com o que, na data agendada, contabilizará dez mil mortos.
É o que sequestra nossos familiares. Por mais que nos esforcemos para salvá-los das trevas, eles passam mais tempo com o olho grudado num espelho que vive a convencê-los de que, ao contrário da gente, quem tem razão é eles.
E de repente fica difícil amar mesmo nossos entes mais queridos. Relações são cortadas. E a sociedade adoece, literalmente adoece, do corpo e da mente. E sabota o melhor tratamento possível, pois aquele espelhinho segue apresentando ao indivíduo apenas o que o indivíduo quer ver.
É gravíssimo o que ocorre. A pandemia da estupidez já coleciona vítimas fatais. E na casa das dezenas de milhares. A prioridade é, claro, combater o vírus. Superado esse inimigo, é urgente que se combata o algoritmo.
É isso ou seguirmos marchando rumo ao erro que a geração dos nossos bisavós cometeu há um século. E que elevou a contagem de óbitos às dezenas de milhões.
Aquele ciclo vicioso só foi rompido quando aquela geração foi obrigada a sair de casa e encarar com os próprios olhos o que havia construído em campos de extermínio.
É o que precisamos: mostrar à atual geração o estrago que ela tem feito.
Algumas pessoas pediram esse texto para compartilhar em outras redes. Acho que dá para copiar daqui:
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