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Na #BioThread de hoje eu vou comentar um pouco sobre um efeito conhecido como “efeito cascata” na perda de biodiversidade.

Segue o fio desse #CientistaDeTwitter pra entender como o declínio de uma espécie ou população pode impactar outras espécies.
Quando a gente fala de perda de biodiversidade, sempre lembramos de catástrofes ou grandes problemas ambientais, como o #fato do aquecimento global e mudanças climáticas.
Mas existem alguns impactos que são originados por declínios de outros grupos, e que são os efeitos de cascata, ou melhor, “efeito dominó”.
Foi publicado um estudo no início deste ano, na revista Science, discutindo o impacto causado pela perda na diversidade de anfíbios pelo fungo Batrachochythrium dendrobatidis (Bd), e suas consequências para a biodiversidade de serpentes.
Os autores se basearam na grande mortalidade de anfíbios no Parque Nacional “G. D. Omar Torríjos Herrera”, no Panamá, e causada pelo fungo quitrídeo (Bd), que foi primeiramente registrado em 2004 neste parque.
Essa mortalidade massiva é considerada uma Epizootia, que consiste no surto de determinada doença em uma ou mais espécies de animais, e que é um termo análogo a epidemia,que é o termo usado especificamente para humanos.

Um exemplo de Epizootia é a Febre Amarela em primatas.
No estudo de Elise Zipkin, e seus colaboradores, os autores avaliaram alguns atributos da comunidade de serpentes do parque, como a riqueza de espécies, as taxas de ocorrência, e até mesmo alguns atributos corpóreos das serpentes, e como esses atributos mudaram após a Epizootia.
Uma das colaboradoras foi Karen Lips, que é uma das principais referências sobre a quitridiomicose (doença causada pelo fungo Bd).

Inclusive ela foi uma das pesquisadoras que organizou o monitoramento deste parque nacional desde 1998, que possibilitou esse estudo.
Com isso, esses autores buscaram entender como a epizootia de Bd afetou as diferentes espécies de serpentes deste parque.

Uma ideia genial, pois antes as pesquisas focavam em extinções de espécies de serpentes, desconsiderando perdas locais, acontecendo ao nível de populações.
Muitas serpentes são difíceis de se registrar, seja por serem muito boas em se camuflar, ou mesmo por viverem escondidas.

Pra você ter uma ideia, um terço das espécies de serpentes que eles registraram nesse monitoramento (que durou 13 anos) só foram vistas uma ÚNICA vez!
Então...

Nem preciso dizer o quanto esses monitoramentos deveriam ser incentivados e investidos aqui no Brasil.

Mas a realidade, infelizmente, é outra!
Eles observaram que as serpentes que se alimentam basicamente de anfíbios, são as mais afetadas pelo declínio destes.

Um exemplo é Sibon argus, que difere das demais de seu gênero, por se alimentar basicamente de desovas de anuros e oligoquetos.
Ela foi uma das espécies que foi registrada com menor frequência depois do “aparecimento” da quitridiomicose.

Além disso, essa serpente é uma verdadeira maravilha, não é mesmo?
Por outro lado, comparando os registros de antes e depois da Epizootia no parque, algumas espécies foram mais frequentes, como é o caso da Eyelash Viper (Bothriechis schlegelii).

Algo que pode explicar isso é o fato dela ser generalista, ou seja, come animais de outros grupos.
Eles também pontuam que esses distúrbios ecológicos tornam as comunidades mais homogêneas, ou seja, com menos diversidade.

Ainda comentam que os efeitos de cascata também geram uma rede de impactos que podem até mesmo chegar em nós, seres humanos.
A perda na biodiversidade de serpentes, por sua vez, pode impactar espécies de aves de rapina e alguns mamíferos que são predadores desses animais, além de afetar outras cadeias tróficas, posteriormente.
Viu só como toda a vida está interconectada?

E que a extinção ou declínio de um grupo interfere em outros animais?

Outra coisa importante a se mencionar, é a necessidade de monitorar a nossa fauna e flora, e entender de que forma nós a impactamos.

Fico por aqui! Até a próxima!
+INFO:
Lips, K.R. et al. (2006). PNAS, 103(9), 3165–3170. doi.org/10.1643/CH-10-…
Crawford, A.J. et al. (2010). PNAS, 107(31), 13777–13782. doi.org/10.1073/pnas.0…
Ray, J.M. et al. (2012). Copeia, 2012(2), 197–202. doi.org/10.1073/pnas.0…
Aqui está o artigo comentado nessa #BioThread:

science.sciencemag.org/content/367/64…
Na primeira foto, é uma Serpente-Quilhada-de-Pryer (Hebius pryeri) predando um sapo Kajika (Buegeria japonica), nas Ilhas Léquias (Ryukyu Islands), no Japão.
Essa foto foi tirada por Ken Smith, e mostra como a serpente norte-americana Copperhead (Agkistrodon contortrix) se camufla muito bem.
Foto de Brad Wilson, em El Valle, Panamá.
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