Durante pandemias, populações menos favorecidas, sem condições de se manterem e sem um sistema de saúde capaz de atender a todos, enfrentam, além da doença, a fome e o desemprego. Acontece hoje e aconteceu também em 1918. Segue a thread pra conhecer como foi 🧵 
Também na gripe espanhola o governo organizou auxílios emergenciais, assim como existiram iniciativas de irmandades religiosas, de igrejas, de organizações privadas e até de pessoas físicas.
Hoje, são imensas as filas nas portas da Caixa Econômica para acessar o auxílio emergencial. Mais uma vez, a população mais pobre é castigada pela pandemia e obrigada a se aglomerar na procura por a ajuda do governo.
Comentamos algumas das ações na thread sobre a carestia, como a venda de frangos com preços tabelados por parte do governo, ação organizada pelo corpo de bombeiros e causa de aglomerações e confusão.
Jornais e revistas da época celebravam várias dessas ações. Assim como hoje, caridade envolve prestígio.
Careta, O Malho e Fon-Fon, revistas normalmente recheadas de imagens de homens e mulheres brancos da elite nacional, agora precisam incluir os mais pobres no enquadramento de suas fotos, muitos deles negros e negras, vivendo os primeiros anos do pós-abolição da escravidão.
Este sem número de iniciativas e a quantidade de pessoas em busca de socorro nos revelam sobre a gravidade da situação calamitosa que se encontravam as populações mais pobres.
No início de outubro de 1918, padarias fecharam pela falta de empregados. Faltou pão. Também as galinhas sumiram do mercado. A Careta flagrou uma multidão tentando arrombar um depósito de galinhas no centro da cidade.
Uma das campanhas que mais reverberou na imprensa foi a de doação por parte da primeira-dama e esposa de W. Brás, chamada de Madame W. Brás. Ela e suas filhas recebiam doações e distribuiam os mantimentos no Palácio do Catete, gerando enormes filas na rua da sede do governo.
A esposa do Min. da Justiça Carlos Maximiliano também realizou campanhas de doação. É notável o número de crianças, a maioria negras e descalças, à espera das doações. Com o vírus da espanhola, assim como com o SARS-CoV-2, esse tipo de aglomeração é perigosíssimo para o contágio.
Outras ações foram realizadas pelo governo. A distribuição de caldos, pão e leite acontecia tanto na região central, nos subúrbios, nos quartéis e nas escolas da cidade. Assim como no passado, o descaso com os mais necessitados foi uma constante.
O jornal A Noite publicou durante duas semanas sobre a distribuição de gêneros alimentícios aos pobres de Madureira, sob determinação do Ministro da Justiça. A direção da ação foi do Capitão da Brigada Policial. Mais de 6 mil pessoas chegaram a ser atendidas por dia.
Irmandades religiosas também conduziam ações. Segundo o jornal A Noite, em apenas um dia, a Irmandade da Penha serviu a 628 pessoas caldo, carne e um pão.
Aglomerações ajudam a circular o vírus, o contágio cresce nos bairros de população mais carente. Hoje, enquanto a Lagoa (IDH: 0,959) tem 74 casos e 3 óbitos (letalidade: 4%), a Cidade de Deus (IDH: 0,751) tem 23 casos e 7 óbitos (30%). experience.arcgis.com/experience/38e…
Nos próximos dias, falaremos de algumas dessas ações fora do Rio de Janeiro. Veremos algumas das medidas conduzidas pelo governo e por diversas organizações sociais de algumas cidades e estados do Brasil.
De maneira geral, os auxílios prestados pelo governo em 1918 foram pífios e ainda geraram grandes aglomerações da população mais carente para ter acesso a comida, medicamentos e esmolas. Como você vê a organização dos atuais auxílios do governo? Eles são suficientes?
