Thread by @apyus

Lá fora, era comum que os jornais fossem vendidos numa pequena caixa que, depositada uma moeda, permitia ao leitor retirar um exemplar.

Isso nunca veio ao Brasil. Por motivos óbvios: o brasileiro retiraria mais de um exemplar.

Trago essa trivialidade como exemplo de que não basta uma ideia ser boa, ela precisa considerar o contexto, o impacto que causará uma vez implementada, etc.

Eu já militei à esquerda e aquilo resultou num governo corrupto. Também já militei à direita e aquilo resultou em algo bem pior, um governo tirano.

Demorou 20 anos, mas aceitei que direita e esquerda são só duas torcidas organizadas. E torcida é algo que agride a razão.

Você não precisa torcer para Flamengo ou Corinthians para torcer pelo Brasil. Nem precisa integrar a Mancha Verde ou a Independente para torcer por Palmeiras ou SPFC.

Aliás, nem é preciso ser brasileiro para torcer pelo Brasil. Ou contra. Tenho vários amigos que, no 7 a 1, torceram pelo 7, pois queriam que o melhor vencesse, e hoje todos sabemos quem era o melhor.

Mas esse parêntese já está enorme.

Certamente quem colocou no papel o que seria progressismo, liberalismo, conservadorismo e o outros “ismos” o fez na melhor das intenções. E certamente atingiu algum resultado positivo. Mas, em menor ou maior grau, a coisa desandou em determinado momento.

Para mim, está claro que a administração pública, ou a condução da sociedade como um todo, não precisa ou deve ignorar o contexto para se ancorar em uma única lógica. Haverá o tempo de apertar a economia, e o de liberá-la, o de ir e vir, e o de ficar em casa, etc.

Para a torcida organizada, não interessa que o melhor vença, ou que o certo seja feito, mas que o time do coração derrote o adversário, e aquele torcedor durma se sentindo um campeão.

Aqui, contudo, estamos lidando com vidas, com histórias, com seres vivos e meio ambiente. Estamos lidando com povos.

Os anseios das torcidas organizadas são minúsculos diante disso tudo. São, para dizer o mínimo, egoístas.

Está cristalino que o mundo piorou muito desde que se deixou guiar pelas alas mais apaixonadas. Talvez houvesse essa necessidade. Agora, contudo, é preciso caminhar no sentido oposto: deixar as certezas no passado, e considerar cada dúvida antes de tomar decisões.

É isso ou a barbárie. E estamos cada dia mais perto desta.