O governo de SP está antecipando feriados para diminuir a circulação de pessoas. Na gripe espanhola o governo brasileiro também decretou feriados no RJ e SP, mas quem pediu foram os empresários. E os motivos foram outros. Segue a thread que a gente vai explicar como foi. 
As associações comerciais, que representavam os empresários do ramo do comércio, pediram feriados quando o número de mortes começou a aumentar, impactando o comércio da cidade.
Com medo da "hespanhola" ou caídos de cama, os cariocas esvaziaram as ruas da cidade. Com a queda brutal nos negócios, os empresários não tinham como pagar suas dívidas e pediam ao presidente Wenceslau Brás que decretasse moratória por 15 dias.
Moratória é uma prorrogação dos prazos das dívidas, principalmente contas do governo e pagamentos bancários. Como o presidente não decretou a moratória, a Associação Comercial do RJ passou a pressionar o governo por feriados nos dias 19, 21 e 22 de outubro.
Poucos dias antes, a mesma associação publicou uma nota nos jornaissobre suas impressões da gripe espanhola: benigna, taxa de mortalidade baixa, só morre quem têm comorbidades, a gripe se cura sozinha. Enfim, para os empresários, era só uma gripezinha…
O governo decretou o feriado. Bancos e casas comerciais fechadas de sábado (dia 19) até terça-feria (dia 22). Apenas farmácias e casas que vendiam alimentos podiam funcionar.
Os comerciantes ganharam alguns dias para pagar suas contas. Mas pressionaram o prefeito da cidade para liberar a abertura do comércio, o que aconteceu dia 22/10.
Os ministros do Supremo Tribunal Federal também trabalharam. Por dois motivos: como feriados eram da alçada do legislativo, não obedeceriam ao decreto do Executivo; e para dar um exemplo ao povo, seguir trabalhando em meio à tragédia.
Quem também não parou no dia 20/10 foi o Jockey Club, realizando suas corridas de cavalo e suas habituais apostas. Segundo o cronista de O Imparcial, o clube mais elitista da cidade fazia isso para “atenuar o pânico e a tristeza” que assolava a cidade.
Quando o feriado no Rio se encerrava, foi a vez das associações comerciais de Santos e São Paulo pressionarem o presidente W. Brás por um decreto que instituísse feriado entre os dias 26 e 31 de outubro de 1918 (6 dias), emendando ainda com o feriado de finados, em 2/11.
O presidente decretou então feriado nas duas principais cidades do estado de São Paulo. No dia seguinte, W. Brás recebeu um telegrama da Associação Comercial do RJ. Pediam que o feriado paulista valesse também para o Rio de Janeiro.
Mas muitas foram as reclamações quanto ao decreto do feriado. Nesta carta de um leitor publicada no jornal A Noite, a crítica é para o favorecimento em relação aos empresários de SP, que tiveram 8 dias de paralisação bancária, contra 4 no RJ.
Os feriados não tinham nada a ver com diminuir circulação de população. Os empresários queriam aumentar prazos para pagar suas dívidas. Mas, enquanto isso, queriam seguir funcionando.
Decretar feriados em 1918 revelou uma série de aspectos interessantes: os interesses dos empresários nos feriados, choques entre os poderes executivo e judiciário e o desrespeito ao próprio decreto por parte dos empresários do comércio.
A antecipação de feriados em SP nesta atual pandemia também poderá nos revelar posturas. Os interesses dos empresários no momento é evitar o lockdown, assim o governo de SP tenta evitar o desafio político de medidas mais drásticas de isolamento.
Impressionam as semelhanças de discursos de setores da classe dos empresários comerciais, defendendo seus interesses em primeiro lugar, mesmo diante da generalização da dor e da morte. correiobraziliense.com.br/app/noticia/br…
A prefeitura de São Paulo já articula essa relação. saude.estadao.com.br/noticias/geral…
Será que, ao longo do feriado, veremos também o comércio aberto em SP? Ou o grupo dos empresários comerciais forçando o fim da antecipação do feriado? Os discursos seguirão tendo essa assustadora semelhança? Não seria a hora de aprender um pouco com o passado?
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