O Brasil falha na estratégia de isolar casos, seguir contatos com quarentena e identificação precoce de sintomas para isolamento individual, incluindo isolamento central.
Da para tentar algo mais? Existe alguma outra estratégia?
Que tal a estratégia CCC do Japão?
A estratégia de contenção japonesa teve resultado bastante razoável, menor linha do gráfico. O que foi feito? Estratégia Pensada em superdisseminação. Os 3 Cs que preocupam são: 1. Close contacts (pessoas próximas); 2. Crowds (locais lotados); 3. Closed spaces (locais fechados).
Esta estratégia não é uma alternativa ao distanciamento físico ou ao isolamento de casos e quarentena de contatos. É algo a mais, e que pode ser feito já que os itens anteriores não funcionaram bem no Brasil.
Como fazer CCC funcionar?
Primeiro conceitos básicos de superdisseminadores.
Não são pessoas com superpoderes ou supervírus, são situações de alto risco.
Por que isso importa?
Além do já conhecido R0, outra medida de disseminação viral é o coeficiente de dispersão. Com um coeficiente baixo poucas pessoas espalham muito o vírus e muitas não espalham nada. Isso forma núcleo com altíssima transmissão e locais onde não já virus.
Vários vírus no exemplo:
Como o coeficiente do SARSCOV2 é baixo, sua transmissão está propensa a clusters, que acontecem mais nas situações CCC. Um exemplo abaixo, para um mesmo R0 de 2 um surto pode explodir começando com 2 casos de k=1, mas podem ser necessários média de 10 casos de k=0.2.
Qual a importância prática disso?
Ao invés de transmitir um por um para todos os contatos, esta dispersão faz com que os surtos aconteçam de forma explosiva e espalhada. Explode em Milão mas não em Roma, em NYC, mas não em Houston, e em lugares específicos
Os lugares onde isso acontece são as combinações CCC:
Lugares fechados, com muitas pessoas muito próximas. Os 3 Cs, principalmente de forma prolongada (Cruzeiros por exemplo, explodem). Quanto menos Cs por menos tempo menor o risco.
Isso explica o surto em boates na Coréia, o Cluster em shopping center na China e o risco de academias. Mas também explica muito mais e explica os próximos riscos do Brasil: 1. Favelas: lotado, pessoas proximas, alguns ambientes fechados
Mas o risco está onde não vemos. 2. Termos problemas iguais aos de Cingapura, onde dormitórios de trabalhadores de baixa renda viraram os maiores clusters do pais.
5. Ambientes fechados como escolas internas e batalhões de polícia também estão no grupo de alto risco CCC:
Já que implementar testes, isolamento individual, quarentena central, #ContactTracing e etc não foi prioridade, será que ao menos CCCs e prevenção de clusters consegue ficar acima da briga política brasileira?
Ao menos em SP a piora da situação da covid-19 esta ficando bastante clara. Aumento consistente nas internações chegando ao maior numero de *novas* internações desde Outubro.
Os números sao muito menores que nos piores momentos de 20 e 21, mas o que importa é a direção.
Nesta intensidade de aumento, mais de 30% em 2 semanas, o impacto pode se tornar importante.
Ano passado quando esta tendência foi identificada muitos chamaram de fake news, durou duas semanas para ficar claro o problema.
E antes que a discussão seja “agora é mais leve” estes números sao novas *internações*, não casos. Caso leve não interna.
Depois de 2 semanas temos dados da Omicron que sao menos especulativos e ja da para dizer alguma coisa.
Um pouco sobre a minha interpretacao do que importa ou nao.
A variante B.1.1.529 ou Omicron foi encontrada na africa e esta se tornando predominante por la. Ja foi identificada em varios outros paises.
O que importa: 1. Infecta / Transmite mais? 2. Mais grave / interna / morre mais? 3. "Escapa" da imunidade anterior (vacina ou natural)?
Como quantificar o impacto da COVID-19 em mortes? Vários dados tem sido utilizados, mas em demografia a expectativa de vida é um dos mais utilizados.
Estudo recente publicado no international journal of epidemiology fez uma análise em 29 países (academic.oup.com/ije/advance-ar…)
Como esperado, o impacto foi muito grande e foi muito variado entre os países.
Na ilustração abaixo a expectativa de vida ao nascer (esquerda) e aos 60 anos de idade (direita), para mulheres e homens.
Em muitos paises voltamos a expectativa de vida de antes de 2015.
Mais interessante é a mudança em 2020 quando comparada a média 2015 a 2019.
O ganho médio era de 0,2 a 0,3 por ano.
Países com bom controle da pandemia (topo da figura) mantiveram a tendência.
Os da parte inferior chegaram a perder quase 2 anos de expectativa de vida (EUA).
O padrão de aumento da mortalidade para COVID no leste europeu com a chegada do outono tem sido bastante preocupante.
O aumento é consistente em vários países da região e continua aumentando em quase todos eles.
Em alguns a mortalidade ja se compara aos piores momentos dos picos anteriores, enquanto que em outros ainda é um aumento mais comedido.
Com certeza um fator de destaque da região é que a taxa de vacinação da maioria é relativamente baixa, apesar de passar de 60% em alguns paises.
Hoje ficou com imensa vergonha do vigilância epidemiológica do estado de são paulo.
Minha paciente de 83 anos com um TEP relacionado a vacina da AZ. documentado. 1. Quase impossível notificar. Péssimo serviço. 2. O CVE acha que tem que dar a 2a dose.
É muita falta de experiência clínica expor novamente a paciente a algo que pode ter levado a um evento potencialmente fatal por incerteza do vínculo epidemiológico completo.
O PRIMEIRO PRINCÍPIO DA MEDICINA é “não faça o mal”.
Uma dose, uma paciente, por que é tão difícil?
Que puder por favor ajude a divulgar e compartilhar, quem sabe pressão social da um pouco de bom senso a esses malucos.
É óbvio que a única alternativa da paciente é ficar com vacinação incompleta aos 83 anos, ou alguém tomaria novamente algo que pode matar? @jdoriajr