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Pediram pra eu contar minha experiência pessoal (como paciente) com a COVID.

Então senta que lá vem história.

Sim, pra quem não sabe, me infectei no final de abril, muito provavelmente em conseqüência aos diversos plantões (praticamente diários) que eu tinha na linha de frente.
Na época a sala de parada do hospital (onde também faço plantão) ainda não era uma área covid.

Ou seja: Não recebíamos paramentação para trabalhar lá.

Tínhamos que nos contentar com nossos próprios EPI e as N95 recebidas a duras penas e mta humilhação pessoal a cada 14 dias.
Como toda sala de parada, vários pacientes chegavam graves, desacordados, tendo que ser prontamente entubados e estabilizados.

Após o manejo inicial pra manter o paciente vivo, íamos coletar a história com os familiares e tcharam: paciente tinha sintomas de gripe.
E provavelmente foi assim que eu alguns colegas da área da saúde nos contaminamos.
Comecei o quadro com uma tosse seca chata que achei que podia ser da minha rinite (aqui está ela de novo pra confundir tudo).

Era só tosse, mais nada.
Mas que não tava melhorando em nada com antialérgico.

Comecei então a desconfiar de Covid.
Ainda passei 4 dias trabalhando com essa brincadeira chata de tosse seca.

Até que um dia acordei com muita dor no corpo, moleza, dor de cabeça e sem sentir cheiro e gosto de nada.

Aí não deu mais pra segurar...
Me autodiagnostiquei como covidada e me afastei do trabalho.
Fiz o SWAB (aquele exame do cotonete no nariz e na boca) que 5 dias depois veio a se mostrar positivo pra Covid.

Fiz também uma série de exames pra ver se eu havia sinal de alguma gravidade da doença, além da tomografia de tórax.
A tomografia de tórax mostrou um baby covid.

Sinal de vidro fosco sugerindo uma leve pneumonia viral.
Como vocês devem saber, a COVID vem causando hipercoagulabilidade em algumas pessoas, ou seja, uma predisposição a formar trombos.

Muita gente chegando no hospital com AVC ou oclusão arterial aguda após quadro de covid.

O exame que pode prever isso é chamdo D-DIMERO.
Então...

Meu D-DIMERO deu aumentado.

Daí além do coquetel pra COVID, com antibiótico e medicações sintomáticas, tive que tomar anticoagulante pra evitar eventos pró-trombóticos.
Não tive febre em nenhum momento da evolução do quadro, mas sentia o tempo todo como se tivesse.

Muita, mas muita moleza.

Além de uma leve falta de ar aos esforços.

Cheguei a saturar 93-94%, o que melhorava muito (ia pra 99-100%) quando deitava na posição prona (de bruços).
Com uns 12 dias de doença, já tinha melhorado muito. Já não tinha nenhum dos sintomas.

Fiquei apenas sem sentir gosto e sem sentir cheiro.

Voltei a trabalhar com 13 dias do início dos sintomas.
Mas como a COVID não tá aí pra brincadeira, 2 dias depois do retorno ao trabalho acordei com a PIOR dor de cabeça da minha vida.

Logo eu, que nunca tive dor de cabeça (sim, sou privilegiada 😆). Tinha começado a ter dor de cabeça com a COVID e já tinha passado.
Aí comecei a me preocupar.

Eu, mulher, jovem, residente de neurologia, com a pior cefaleia da vida e ainda com o D-DIMERO aumentado?

Pensei logo em TVC (trombose venosa cerebral).
Fui no hospital, recebi analgesia endovenosa e meu professor, que é neuvascular, me orientou a fazer uma Ressonância + Angioressonância de Crânio.

Fiz no dia seguinte e não deu nada.

Ufa.
Hoje, 1 mês depois, estou imune.
Tenho sorologia com IGG + (curada da COVID).
O gosto e o cheiro das coisas já voltaram uns 70%.

Mas como com a covid estamos aprendendo a dirigir com o carro andando, não dá pra relaxar agora.

Não se sabe direito ainda sobre reinfecção.
Continuo trabalhando na linha de frente (porque sou workaholic e porque amo o que faço 🙈) e tentando ser resistência nesse país governado por esss corja de assassinos, covardes, estupradores e ladrões.

#ForaBolsonaro
E pois é..

Essa história conto pra vocês como mais um alerta quanto a COVID.

É uma doença muito nova.
As consequências a curto prazo vemos todo dia. E não tá sendo algo bonito.

Além disso, ninguém sabe ainda suas consequências a longo prazo.

Temos muito a estudar ainda.
E reitero: Até hoje, ainda NÃO foi descoberto um remédio milagroso para curar a COVID.

Estudos avançam todos os dias, mas todos os remédios que vocês já ouviram falar são experimentais.

O melhor tratamento ainda é a PREVENÇÃO.

#FiqueEmCasa
Ah, um adendo.

Atualmente a sala de parada virou oficialmente uma área COVID.
Temos que ficar paramentados o tempo todo lá.

Até pq reconhecimento é bom, mas ter condições de trabalho para que possamos cuidar dos seus familiares sem preocupação é ainda melhor 🤗.
*neurovascular
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