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Collor aparentemente está tentando limpar a imagem dele com os eleitores mais jovens, chegando até a fazer selfsearching. Pois bem. Vamos relembrar um pouco do que foi o governo Collor na área econômica. Aqui vou explicar brevemente o primeiro Plano Collor
Uma característica importante para 1989 era que o país não tinha eleições para Presidência da República há 29 anos. O impacto foi a eleição de 89 ter sido altamente fragmentada, tendo 21 candidatos para a presidência , 8 destes com chances efetivas de serem eleitos.
Isso é importante por dois motivos: (1) para entender qualquer proposta vencedora e o que isso significa do ponto de vista de como o Plano Collor foi formulado, qual o plano de fundo desta proposta vencedora e (2) em que termos o Plano Collor foi aprovado.
Collor tinha discurso de um "político moderno", que traria inovação tecnológica, iria transformar o país. E isso vindo do contexto nacional da "década perdida", de baixo crescimento econômico, desemprego, dívida, inflação galopante, e de planos econômicos fracassados.
O mercado ficou bastante satisfeito pela vitória de Collor, mas, ao mesmo tempo, havia uma incerteza enorme devido à falta de informação e conhecimento sobre o que o presidente efetivamente faria no âmbito das políticas, e agravado pelo fato de ele esconder a equipe econômica.
Assim, essa incerteza levou a uma enorme instabilidade. Entre dez/89 e mar/90 todos os indicadores econômicos entraram em queda livre. A inflação continuou crescendo:(+1700% a.a. em 1989, sendo que em dez/89 o IGP estava em +60% a.m.), assim como a taxa de juros e o câmbio.
Dia 15 de março, Collor assume como presidente e no dia 16 de março é anunciado o Plano Collor. Três dias antes de Collor assumir, Sarney, como uma de suas últimas ações como presidente, decretou feriado bancário nacional de uma semana.
O Plano Collor, assim como os planos anteriores, tinha como meta o controle inflacionário, porém dentro dos pressupostos da proposta vencedora das eleições e dentro da pressão que existia para que os países latino-americanos reestruturassem sua dívida externa.
A interpretação para a inflação envolvia: (1) inércia, ou seja, os preços eram repassados para a economia tendo a inflação passada como parâmetro; (2) demanda, alimentada pelo gasto das famílias e pelo excessivo gasto público; (3) especulação financeira.
O Plano Collor pressupunha mecanismos de defesa para cada tipo de inflação: (1) inflação inercial: desindexação salarial, pois a indexação salarial se tornou um mecanismo básico de alimentação à inércia inflacionária; (2) inflação de demanda: política fiscal contracionista; +
(3) inflação financeira: reforma monetária, pois, ao controlar o acesso à moeda, na verdade buscava reduzir drasticamente a quantidade de recursos disponíveis na economia.
Além disso, outras características importantes foram: (i) o congelamento de preços, que não tinha qualquer intenção de controlar a inflação, mas sim reduzir os impactos das medidas do plano; (ii) a redução do gasto governamental; e (iii) o início da abertura do comércio.
A medida que mais chocou o público foi a reforma monetária, que consistiu na implementação de uma nova moeda nacional (do Cruzado Novo para o Cruzeiro). A proporção de troca entre o Cruzado Novo e o Cruzeiro era 1:1.
O objetivo era controlar o processo de conversão monetária, ou seja, controlar o acesso à nova moeda. Assim, o governo fez com que todo o dinheiro existente na forma de papel moeda em poder do público poderia ser automaticamente convertido, +
porém tudo que existia na forma de depósito no banco + formas diferentes de poupança poderiam ser convertidos até o valor de 50.000 Cruzeiros (+/- o equivalente a 1.500 US$). O resto do dinheiro ficaria com acesso restrito, não podendo ser convertido à nova moeda até após 12m.
O pensamento era que se só existisse circulando na economia o suficiente para que as famílias consumam e para que as empresas tenham capital de giro para manter o negócio, não existe dinheiro sobrando para ter especulação.
Esta medida, assim, tem uma dupla função: evitar que houvesse inflação pressionada pelo excesso de consumo das famílias (como uma consequência da diminuição dos preços) e, principalmente, para evitar que existisse inflação financeira.
A consequência imediata do plano foi um pânico generalizado, pela interpretação do público que o governo estava “roubando o dinheiro da população”.
Se percebe o pânico, primeiramente pela forte queda do comércio. Assim, o impacto imediato do Plano Collor é uma enorme recessão.
A recessão refletia uma falta enorme de liquidez. Por conta disso, o governo cria, já em abril, um mecanismo chamado de “torneira de liquidez” (“torneira” porque o governo poder controlar, abrir e fechar), na qual o governo Collor foi, lentamente, liberando liquidez na economia.
Ou seja, permitir que diferentes partes da sociedade pudessem converter seu dinheiro na nova moeda. Entre abril e maio, o governo libera liquidez para todas as pessoas consideradas mais “frágeis” na sociedade. (Isso gerou um novo problema, pois distorceu os preços relativos)
Como não havia controle sobre como os indivíduos efetivamente usariam o dinheiro (se iria para consumo), parte dele não volta para a economia, ou seja, não gerou a retomada de crescimento. O ano de 1990 teve uma recessão de 4,6% - em termos anuais foi a maior recessão do Brasil.
A partir de julho/ago, começa uma pressão sobre os preços, que vem do setor externo e uma pressão do câmbio (aumento do preço das commodities e aumento da instabilidade da economia mundial), além de uma pressão pelo aumento das tarifas de importação.
A inflação volta a subir, e no final de dez/90, já fica na casa dos 19%am. Por conta disso, em janeiro de 1991, o governo lança o Plano Collor II, que é uma mistura entre uma tentativa de remendar o que deu errado no Plano Collor I e de ampliar a agenda liberal do governo.
A história não é preto no branco. Muito do que aconteceu no gov Collor teve grande influência no sucesso do Plano Real, q sucedeu esses fatos. Mas Collor não é santo, e a gente devia aprender a não fazer político virar meme. Já sabemos onde isso dá.

Olha a cara de pau do sujeito
Muitas famílias entram na justiça até hoje pra recuperar o dinheiro que foi lhes tirado. Mesmo depois de 30 anos o confisco ainda nos assombra. Pessoas tiraram as próprias vidas por falta de perspectiva na época. E ao invés de tratar o assunto c seriedade, esse sujeito faz meme.
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