O QUE FOI O PLANO CRUZADO? A thread com um resumão
O Plano Cruzado foi decretado em 28 de fevereiro de 1986 pelo Presidente José Sarney, como um novo programa de estabilização da inflação. O plano estabelecia o cruzado como padrão monetário nacional e tinha taxa e conversão fixada em mil cruzeiros por cruzados (corte de 3 zeros).
Os salários foram convertidos em cruzados, tomando como base o poder de compra médio dos últimos 6 meses, com abono de 8% concedido a todos os assalariados (decisão de cunho político para redistribuição de renda, para a melhor aceitação dos trabalhadores para com a nova moeda).
Além disso, tinha o ajuste automático dos salários com o gatilho de 20% da taxa de inflação. O que isso significa? Que caso o acumulado do índice de inflação batesse 20%, os samários seriam reajustados nessa mesma porcentagem. Iremos voltar à esse ponto daqui a pouco.
Com exceção das tarifas industriais de energia elétrica, os preços foram congelados por tempo indeterminado nos níveis ao consumidor prevalecentes em 27 de fevereiro de 1986, sem qualquer compensação pela inflação passada, nem tampouco pela perda futura.
Conseguimos aqui enxergar uma enorme incoerência interna ao plano, pois ele previa um gatilho de reajuste salarial conforme o aumento da inflação, ao msm tempo em que os preços eram congelados. Ora, se o preço do produto não pode mudar, então como o índice de inflação aumentaria?
Além disso, a taxa de câmbio foi fixada também nos níveis desta data. Relações média-pico foram anunciadas para a conversão dos aluguéis residenciais, com reajustes semestral e anual (uma indexação ainda maior da economia).
A ORTN (título público federal) foi substituída pela OTN, cujo valor nominal ficaria congelado por 12 meses. Ou seja, basicamente se suspendeu a remuneração por correção monetária dos títulos públicos.
O Plano Cruzado não estabeleceu metas para políticas monetárias e fiscal para complementar o programa de estabilização, deixando esta decisão para os responsáveis pela política econômica.
Podemos dividir a análise dos resultados do Plano Cruzado em três partes. A primeira (mar-jun de 1986), é caracterizado por uma queda substancial da inflação e também pelos primeiros indícios da existência de excesso de demanda na economia (manifestação da escassez de produtos).
O segundo período (jul-out de 1986), pode ser identificado pela total imobilidade do governo ante o agravamento da escassez de produtos e à deterioração das contas externas.
Nesse período foi criado o Cruzadinho, um pacote fiscal elaborado para desaquecer o consumo, que envolvia a criação de um sistema de empréstimos compulsórios (este teve pouca eficácia na contenção do consumo).
Finalmente, o terceiro período (nov/1986 a jun/1987), ratificou o fracasso do Plano Cruzado, com o retorno das altas taxas de inflação. Este último período contou com a implantação do Cruzado II, um pacote fiscal que pretendia aumentar a arrecadação do governo em 4% do PIB.
Isso teve impacto imediato de um violento choque inflacionário, trazendo de volta a indexação à plena carga. Em fevereiro de 1987, o governo cedeu às pressões pela liberação dos preços, suspendendo abruptamente quase todos os controles.
Com a escala móvel salarial, a economia se tornaria ainda mais indexada do que antes do Plano Cruzado. As vendas caíram em consequência da queda do salário real, da elevação das taxas de juros e do aumento da incerteza.
Apesar das minidesvalorizações diárias do cruzado, os saldos da balança comercial se tornaram negativos entre out/86 e jan/87 e, sem indícios de recuperação, o governo decidiu, em fev/87, suspender por tempo indeterminado os pgtos de juros da dívida externa aos bancos privados.
Ou seja, o Brasil declarou moratória da dívida. Os objetivos oficiais disso eram: estancar a perda de reservas cambiais e iniciar uma nova fase de renegociação da dívida externa. O objetivo extra-oficial era a reconquista do apoio popular, p/ uma nova tentativa de estabilização.
