Esse tweet, feito por um dos sujeitos que mais estimulou as narrativas históricas da nova extrema-direita, é a posição síntese de quem defende estátua.
Basicamente diz: "eu quero que valores do século XV sejam reproduzidos no século XXI".
Basicamente diz: "eu quero que valores do século XV sejam reproduzidos no século XXI".
Na verdade, podemos dizer que a estátua de Colombo de Boston carrega, no mínimo, três temporalidades:
1) Séc XV: A do objeto representado (o próprio Colombo).
2) Séc XX: A da representação (a estátua foi erigida em 1979 e financiada por um grupo da direita americana)
1) Séc XV: A do objeto representado (o próprio Colombo).
2) Séc XX: A da representação (a estátua foi erigida em 1979 e financiada por um grupo da direita americana)
3) Séc XXI: A do tempo presente imediato da recepção.
"Ah, mas o Narloch não defende as ideias do século XV".
Será mesmo? Então vamos pegar a história da estátua de Colombo em Boston.
"Ah, mas o Narloch não defende as ideias do século XV".
Será mesmo? Então vamos pegar a história da estátua de Colombo em Boston.
Segundo a Wikipedia, quem comissionou a criação da estátua foi um grupo católico chamado Knights of Columbus, no ano de 1979. E olhem que delícia de verbete:
"The Knights promote a conservative Catholic view on public policy issues, including opposition to same-sex marriage,abortion, and birth control.Between 2008 and 2012, K of C gave at least $15 million to lobbies opposed to same-sex marriage".
Nem toda a comunidade católica de Boston aparentemente curtiu a ideia de botar Colombo como símbolo:
"Conversely, other Catholics in Boston apparently did not appreciate the use of Columbus; in 1922, the Irish-American cardinal William Henry O'Connell removed a statue of...
"Conversely, other Catholics in Boston apparently did not appreciate the use of Columbus; in 1922, the Irish-American cardinal William Henry O'Connell removed a statue of...
... Columbus from the Cathedral of the Holy Cross".
Se a figura de um explorador do século XV era polêmica na comunidade católica de Boston, quem encampou a criação da estátua?
Aí entra a figura de Arthur Stivaletta, empreiteiro local, filantropo e ultra-conservador.
Se a figura de um explorador do século XV era polêmica na comunidade católica de Boston, quem encampou a criação da estátua?
Aí entra a figura de Arthur Stivaletta, empreiteiro local, filantropo e ultra-conservador.
No seu verbete na Wikipedia, somos apresentados a um nacionalista chauvinista, que queimou as bandeiras do Vietnã, do Irã e da União Soviética em praça pública (algumas delas, na frente da estátua de Colombo que ele mandou fazer).
Logo, a pergunta volta: por que, em 1976, foi construída uma estátua de Colombo? Que usos do passado foram feitos a partir dela?
Narloch não se preocupa com isso (e nem os outros jornalistas que acham que questionar símbolos é "revisionismo").
Narloch não se preocupa com isso (e nem os outros jornalistas que acham que questionar símbolos é "revisionismo").
Ninguém é obrigado a levantar essas dúvidas, claro, mas um falsário sempre se entrega.
Ao evidenciar o objeto da representação (o século XV), se apaga a representação em si (século XX). Com isso, nornalizam-se os valores do tempo de Colombo e não as disputas pelo passado do...
Ao evidenciar o objeto da representação (o século XV), se apaga a representação em si (século XX). Com isso, nornalizam-se os valores do tempo de Colombo e não as disputas pelo passado do...
... século XX.
Disso decorre a dúvida: Narloch está omitindo os valores de um setor anticomunista católico americano, ou promovendo os valores da conquista e dizimação de comunidades originárias das Américas no século XV?
Disso decorre a dúvida: Narloch está omitindo os valores de um setor anticomunista católico americano, ou promovendo os valores da conquista e dizimação de comunidades originárias das Américas no século XV?
Genocídio do século XV ou Anticomunismo do século XX?
Qualquer que seja a resposta, uma coisa é certa: não espero muita honestidade de quem foi o criador da fake news do "Zumbi tinha escravos".
Qualquer que seja a resposta, uma coisa é certa: não espero muita honestidade de quem foi o criador da fake news do "Zumbi tinha escravos".
