Há quem interprete a nova barbaridade proclamada por Bolsonaro como cortina de fumaça. Nomeou genro de Silvio Santos, criando novo Ministerio, agradando simultaneamente PSD e mídia chapa-branca. Daí, insuflar bolsominions a invadir hospitais seria diversionismo.
Será?
+
Será?
+
A teoria da cortina de fumaça vem desde o início do governo, mas não me convence. Primeiro, porque proclamar absurdos sempre foi o modus operandi bolsonaresco, desde que entrou na política. Não havia o que cobrir com cortinas de fumaça. O ultraje é o que o Bolsonarismo entrega.
+
+
Foi assim que se construiu o “mito”. Para a patuscada, sedenta por um discurso ultrajante, isso é um maná. Mobilizar incessantemente a turba é a finalidade principal desse governo-movimento. As políticas públicas propriamente ditas, importam pouco.
+
+
Autodestrutivo como governo, funciona como movimento. Como políticas públicas importam pouco, Weintraub na Educação é perfeito. Sua incompetência é irrelevante aqui, pois ele cumpre a tarefa que lhe cabe: guerrear. Como o próprio ministro disse na reunião, é um militante.
+
+
O mesmo ocorre noutras áreas. Na Saúde, o pragmatismo de Mandetta não servia, pois não produzia narrativa útil ao Bolsonarismo. A efetividade da política pública não importava. Já a Cloroquina, dá uma narrativa, pouco importando sua ineficácia clínica que, aliás, vira trunfo.
+
+
Como é absurdo governo prescrever cloroquina, a comunidade científica e a imprensa criticam. É o governo ganha inimigos contra os quais se bater, o que lhe dá uma narrativa. Pouco importa a implausibilidade da narrativa, pois ela convence quem não busca argumentos plausíveis.
+
+
Não se trata de razão, mas de fé e paixão. Trata-se, portanto, de irrazão. O irrazoável, o irracional é o que mobiliza a turba. Podem ser só 20%, ou menos, os que seguem firmes no transe, mas quanto mais alucinado o transe, melhor, pois o movimento ganha força.
+
+
Assim, não há o que esconder com cortina de fumaça. A insanidade, sendo eficaz para mobilizar, é a parte principal da ação do governo-movimento. O acordo com o Centrão é instrumento para resguardar o governo – é parte secundária que, por isso mesmo, pôde esperar até agora.
+
+
E como o subserviente e obediente general tornado ministro da Saúde topou sacramentar a cloroquina, resolve mais o problema do que qualquer ministro normal. O mesmo na Educação, nas Relações Exteriores, nos Direitos Humanos, na Cultura.
O Meio-Ambiente cumpre dupla função.
+
O Meio-Ambiente cumpre dupla função.
+
Isso porque serve tanto à narrativa insana que mobiliza a turba, como a agradar materialmente uma base interessada na desregulamentação geral, na falta de fiscalização, no desmate. É o útil e o agradável no mesmo processo – daí ser outro ministro forte.
+
+
E a destruição do que levou décadas para se construir na Educação, na Cultura, nas Relações Exteriores, na Ciência, também é útil, pois serve de combustível para essa guerra simbólica e prática, contra os que produzem ideias e valores dissonantes, ou que revelam dados incômodos.
