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Eu queria explicar alguns conceitos óbvios para muitos, mas ainda nebulosos para alguns...
O "troll" é o usuário que tenta crescer na web pela humilhação de terceiros. Como a coisa é feita tendo o humor como desculpa, muita gente apoia a iniciativa. Ao ponto de muitos, com o tempo, passarem a viver disso.
O "hater" é um troll ainda mais tóxico. O combustível dele não é o humor, mas a indignação. Ele acumula audiência garantindo que o público dele continuará indignado com algo, e enxergando nele alguém que traduz aquele sentimento.
A coisa, contudo, não é feita de caso pensado. Tanto que conheço vários "trolls" e "haters" que, com o tempo, perceberam o erro que cometiam e buscaram reparar a situação. Um grande exemplo? Filipe Neto. Um exemplo pequeno? Acho que posso citar eu mesmo.
Algo que devemos ter em mente: o troll e o hater não estão buscando diálogo, ou debate, ou esclarecer uma situação. Eles apenas buscam que alguém seja pego pela armadilha preparada por eles. E, para que a armadilha funcione, é preciso que eles conquistem a atenção do alvo.
Agora vamos a outro "conceito": o "algoritmo".
Há uns 15 anos, as empresas de tecnologia perceberam que ganhariam muito mais dinheiro entregando ao usuário não o conteúdo mais relevante do mundo, mas o mais relevante dentro do universo de cada usuário.
Há uns dez anos reclamamos que isso fazia com que cada usuário passasse a viver numa bolha virtual que apenas reverbera as próprias convicções, o que alimenta o radicalismo e polariza a sociedade.
Hoje, vivemos justamente numa sociedade polarizada entre grupos políticos radicais que, a depender da bolha virtual, chegam a acreditar até mesmo que a Terra seria plana.
Algo é preciso ter em mente:

– Por mais que sigamos milhares de perfis, o algoritmo nos entregará apenas o conteúdo daqueles que calcular mais relevantes para nós.
Outra coisa a termos em mente:

– Por mais que sejamos seguidos por milhões de perfis, o algoritmo só entregará o nosso conteúdo a quem ele calcular que nos tem como mais relevante.
Uma terceira coisa:

Numa tentativa de evitar que as redes sociais virassem um ambiente pesado, as empresas de tecnologia evitam disponibilizar um botão de "dislike".

Mas o efeito disso foi inverso...
Porque o algoritmo encara como ponto positivo a interação do usuário com o conteúdo. Como não há botão de "dislike", ao desgostar de algo, não resta muito ao usuário além de negativar o conteúdo deixando uma crítica dura nos comentários.
O efeito prático disso:

Os autores de conteúdo mais controverso são naturalmente tragados pelo algoritmo às bolhas que mais os odeiam.

Na outra ponta, os usuários dessas bolhas se habituam a interagir com quem comete linchamentos virtuais sem qualquer peso na consciência.
E a coisa já evoluiu a tal ponta que aos poucos extrapola as discussões virtuais, e toma as ruas.
Contra isso, já tentei de tudo um pouco: responder, ignorar, espernear, ser diplomático, surtar...

Mas só percebi algum resultado prático numa iniciativa também controversa: bloquear trolls e haters.
Porque controversa:

Pois a lógica alerta que, ao bloquearmos quem discorda da gente, iremos nos trancar cada vez mais naquela câmara de eco que apenas reverbera as nossas convicções.
E como evitei isso:

Assim como tenho sido generoso e, aos poucos, já bloqueei mais de 7 mil trolls e haters, também tenho sido generoso e sigo mais de 4 mil perfis.
Na seleção dos perfis a serem seguidos, busco não ter amarras ideológicas. E sigo de Janaina Paschoal a Lola Aronovich. E busco interagir com ambos os grupos de forma que o algoritmo não pense que eu só tenho interesse em seguir um dos lados.
Se noto o algoritmo excluir do feed algum perfil que muito me interessa, abro o dito cujo, interajo com algumas postagens, e logo a coisa se normaliza.
Em outras palavras, para não ser radicalizado pelo algoritmo, eu mesmo busco domesticá-lo, constantemente bloqueando comportamentos que não me interessam, e favorecendo aqueles que julgo saudáveis às minhas decisões.
É claro que, no meio disso tudo, algumas injustiças são cometidas. E, vez em quando, o "block" atinge alguém que estava apenas sendo irônico ou coisa do tipo. Então também sou generoso ao conjugar o verbo desbloquear.
O fato é que as grandes empresas de tecnologia não tomarão atitudes enquanto não sentirem no bolso o que sentimos na pele. E isso não ocorrerá antes de o Estado responsabilizá-las por tamanha negligência.
Até lá, precisamos cuidar da nossa saúde mental. E desconheço remédio melhor do que domesticar a selvageria do nosso próprio algoritmo.
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