Bom dia. Hoje gostaria de comentar como Bolsonaro se apresenta como um inimigo inusitado da nossa democracia. Sempre que vejo suas reações, vem à mente a cena do filme Em Busca do Cálice Sagrado. Para quem não viu ou não se lembra:
1) Jairzinho é assim: cai o cabela, perde uma perna, é humilhado, mas ele rola no chão, luta com uma mão, dá canelada e acaba mordendo o calcanhar, já no chão. Ele está diminuindo de tamanho desde o início do ano.
2) Depois de um certo fôlego em função do 13o e emprego sazonal de final de ano, não parou de cair em popularidade. Está cada vez mais cercado pela Câmara de Deputados e STF (talvez, agora, pelo TSE), mas continua reagindo, grita com o cachorro, dá tapa na mesa.
3) Agora, começa a enfrentar o início da reação popular ao desemprego, risco de vida em virtude da pandemia que ele decidiu deixar contaminar a todos e queda de renda. Os uberizados e "trabalhadores de aplicativos" resolveram protestar. As torcidas organizadas, também.
4) Fico pensando como a vida dá dribles nos generais que se acham bons de política: pensaram que a reação seriam os saques e distúrbios causados pelo desespero e, eis que, surgem as torcidas e os entregadores de comida e remédios. Não deve ser fácil para quem se acha estrategista
5) Mas, Jair é este caso de tiozão despreparado que fala de tudo no churrasco do vizinho. Alguns, incautos, ficam ouvindo as grosserias para entender onde o tiozão quer chegar. Os mais sem noção ficam até o final do churrasco, ao lado dele. Mas, a maioria vai se afastando
6) O tiozão não se importa muito: continua falando alto e abrindo as latinhas de cerveja. O irmão diz para ele maneirar em função da pressão arterial alta e ele grita dizendo que é atleta. O irmão se afasta. Enfim, Jair é esse cara que não larga o osso.
7) Eu acho que é justamente aí que os setores progressistas se embaralham. Tratam o tiozão como mais um convidado, respeitam além do limite do razoável. No fundo, não sabem como lidar com gente tão desagradável e desqualificado. Grita com ele? Expulsa da festa?
8) Conheci muita gente assim: gente boa, com educação, respeitosa e cheia de regras morais de convivência. Acontece que quando lidam com um desqualificado, não sabem como reagir. Pensam que devem tratar como um ser normal, que está num dia ruim. E, de repente, perdem o controle
9) Minha tese é esta: Jair Bolsonaro não se mantém onde está porque é estrategista ou porque tem muita força. Ele se mantém porque a mente de quem se opõe aos seus absurdos não sabe como reagir: "e se ele resolver quebrar tudo da nossa festa?". Tentam ignorá-lo, mas ele fala alto
10) Enfim, este é um novo tipo de inimigo para uma oposição democrática que perdeu o gosto pela briga. Talvez, no fundo, o tiozão conheça melhor o dono da festa que o inverso.
