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O Flamengo ficou um minuto com a posse até Pedro abrir o placar no Maracanã. Foram 16 passes de 8 jogadores diferentes!

Dois passes que foram fundamentais para criar, de fato, o gol: do Diego e do Arrascaeta. Porque foram passes de primeira.

Segue o fio 🧶 👇
Geralmente, o jogador bota a palma do pé e controla a bola antes de dar o passe. O passe de primeira corta etapas. O jogador só toca uma vez na bola.

Fazer isso é MUITO difícil.

Tem que calcular a força exata no pé e botar o movimento certinho na perna pra alcançar a bola.
O passe de primeira é importante porque ele deixa o jogo rápido.

Velocidade significa dificuldade pra marcar. Pensa no defensor: como tira a bola de quem não te dá tempo pra pensar?

O Flamengo toca rápido. Por isso o Fluminense pensou num plano pra anular esses toques rápidos.
O Flamengo tem um desenho bem típico para construir as jogadas: uma espécie de 3-3-4. Zaga e Arão + Gérson e laterais num setor. Na outra setor, quatro jogadores que fazem tabelas e se movimentam o tempo todo. O desenho fica muito evidente no Setor Norte ou superior no Maracanã.
O Fla não faz assim porque é bonitinho. Tem uma intenção por trás: chamar o adversário pra marcar Arão e Diego e desproteger a defesa, tirando gente da cola do Gabigol, Arrasca, Éverton e B. Henrique.

É matemática. O Fla cria espaço para que seu talento faça a diferença.
Inclusive, o movimento que o Willian Arão faz tem nome: é a saída de três. Criada por Ricardo La Volpe na década de 1990, ela ficou popular com Pep Guardiola e hoje o mundo inteiro pratica, incluindo o Brasil. Explico bem nesse texto aqui 👇
globoesporte.globo.com/blogs/painel-t…
O Fluminense sabia bem disso e não caiu na armadilha. Deixou o Arão jogar, como você vê aqui. Também não ficou todo lá atrás esperando a bola chegar no gol.

A estratégia era cortar a alimentação dos quatro jogadores de frente do Fla marcando quem dava o passe para eles.
Aqui, o Diego recebe a bola e o Hudson avança e fecha a linha de passe dele.

Vendo bem, o Flu tá correndo um risco enorme: Arrasca, Vitinho e Pedro no mano-a-mano e Gabigol com dois zagueiros mais lentos que ele. A aposta é não deixar o passe chegar neles. Risco calculado.
Aqui, o Arrascaeta recebe o e o Flu marca ele com dois jogadores e as opções de jogo (Filipe Luís e Pedro) com um jogador cada.

De novo o risco...olha o espaço na frente do gol....é proposital. Se você corta a raiz, que é o passe, não tem como alguém chegar lá de surpresa.
Trace uma linha imaginária. Tem quatro do Flu contra três do Fla: isso é superioridade numérica. Todo mundo colado no adversário pra evitar um passe de primeira e um toque rápido. Só afasta a bola do gol e gasta tempo.

Esse tipo de situação tem nome: são encaixes por setor.
Sabe o que é legal? Esse tipo de marcação surgiu exatamente no Fluminense, no Carioca de 1951.

O técnico Zezé Moreira queria um jeito de fazer Ademir de Menezes, do Vasco, não receber sozinho a bola. O Flu marcava tão bem que ganhou o Carioca com o apelido de "Timinho".
Os encaixes de marcação viraram tradição no futebol brasileiro.

A ideia também fez a cabeça de dois pontas habilidosos e de grande consciência tática naquele ano de 1951.

Um deles era o Telê Santana. O outro era o Zagallo.

Precisa falar mais? 👇
globoesporte.globo.com/blogs/painel-t…
Os encaixes que o Flu fez explicam a dificuldade do Flamengo nos dois jogos. Foi o mesmo que Odair Hellmann fez no Internacional, na Libertadores. Um dos adversários mais difíceis do Fla...

É aí que entra o passe de primeira: ele quebrou todinha a marcação!
O Vitinho recebe a bola, é encaixado e gira por fora. O Flu acompanha, e o passe acaba no Arrascaeta, que estava sozinho por um erro do Nenê, que deveria estar perto para fazer essa pressão e encaixar o entorno do setor da bola.
Ainda assim, o Flu tem condições de equilibrar. Tem dois jogadores que estão indo marcar o Arrascaeta já cientes do erro do Nenê.

Eles contam com o domínio e depois o passe, assim dá tempo de fechar a linha de passe pro Diego, que está livre por conta da vacilada do Nenê.
Só que o Arrasca só passa, e aquele tempo do domínio já era...

Aí a bomba vai pra zaga. O Ferraz, que tava encaixando o Pedro, não tem outra opção a virar de costas e olhar pro pé do Diego. Ele conta com um domínio do Diego pra ter tempo de dar um bote ou interceptar a bola.
O Diego passa de primeira e tira o Matheus Ferraz do lance. O zagueiro já estava de costas. Como ele vai virar o corpo na trajetória do passe?

O Pedro recebe totalmente livre e com tempo pra ajustar o chute e deslocar Muriel. Tudo por conta de dois toques de primeira.
Se alguém tentasse dominar, o Flu conseguiria se ajustar pro Pedro não ficar tão livre.

É por isso que jogar em poucos toques é fundamental contra defesas fechadas: você atrai defensores e tira deles a possibilidade de roubar a bola.

É fazer a diferença em pequenos espaços.
Pep Guardiola já falou diversas vezes da importância de se jogar em poucos toques. Inclusive elogiou o David Silva como um dos melhores meias nessa dinâmica: “Nos pequenos espaços, ele é talvez o melhor que eu já vi."

Isso é tão importante pro futebol europeu que muita gente não entendeu o porquê do Arthur ter saído do Barcelona. A resposta é que ele não tocava de primeira. Pegava a bola e dava longos domínios antes.
Explico isso com bastante detalhes aqui 👇globoesporte.globo.com/blogs/painel-t…
Por falar em Barcelona, eles têm toda uma cultura de treinos e de jogo para estimular jogadores a darem poucos toques na bola. Uma coisa que começou com Cruyff e ganhou contornos definidos com Van Gaal em 1997. Conto isso aqui 👇
globoesporte.globo.com/blogs/painel-t…
O Zé Ricardo já me explicou que o toque é uma herança do futsal. Jogando futsal você é obrigado a tocar de primeira porque o espaço é pequeno e a marcação tá sempre próxima. Quanto mais se engana os defensores, mais o time consegue chegar no gol. E mais vezes chega ao gol.
Se você olhar o espaço entre o Diego, Pedro e Arrascaeta, de fato parece uma mini-quadra de futsal. Quatro do Flamengo contra quatro do Flu.

Na realidade, atacar no futebol hoje é transformar o campo numa quadra de futsal. O jogador precisa pensar e jogar rápido, sem delongas.
Tem muito gol de primeira na Europa. VE os clubes pagam cada vez mais por jogadores assim.

Aqui no Brasil tem menos. Nosso jogo é mais lento e cadenciado.

Mas a importância do toque de primeira, como o passe do Arrasca e do Diego, é a mesma em qualquer jogo no mundo: imensa.
Publiquei o fio com mais detalhes e explicações (especialmente sobre o passe do Vitinho, que vocês citaram) lá no @globoesportecom

globoesporte.globo.com/blogs/painel-t…
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