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O novo clip de Cassiane, cantora evangélica, prega q reza e fé podem resolver tudo. No vídeo, a história de uma crente que sofre abusos e violência doméstica de seu marido. Com marcas de agressão, ela reza, sai de casa e seu marido se cura pela Bíblia. O quê há de errado?
1) A agressão que ela sofre se dá pelo fato dela reclamar que o marido bebe, ou seja, se ela não reclamasse, não apanharia, o que reproduz a ideia de que a culpa é da mulher. Reforça-se a ideia de que a mulher deve ser submissa ao marido, mas a culpa NUNCA é da mulher.
2) Ao invés de o vídeo denunciar a violência doméstica e ajudar a conscientizar as mulheres evangélicas (que são hj 40% das vítimas) a buscarem ajuda, naturaliza a agressão e reforça a ideia de mulher submissa, e que basta rezar, perdoar e ler a bíblia que a violência cessa.
3) A letra fala em Deus, perdão, universo, alfa e ômega enquanto o marido bebe, pega dinheiro para comprar cerveja e bate na mulher. E quando mostra as marcas da agressão a Cassiane canta que "Deus toca-me com brasas do altar", como se aquela privação fosse justificável. Não é.
4) No final, a mulher sai de casa, deixa uma bíblia com uma mensagem dentro, dizendo "O timbre santo do Senhor hei de te perdoar... Oro por vc. Perdôo vc". Dai o pecador se arrepende e Cassiane canta "a voz que acalma o mar faz os demônios saíram e pode curar."
5) A última cena mostra o marido procurando a mulher com a bíblia na mão, dando a entender que está "curado", que se tornou crente e ela o perdoa. Felizes para sempre? Infelizmente, não, a violência doméstica atinge todas as famílias, sendo necessário enfrentar o problema
Cassiane é uma excelente cantora, e música é bonita, a mensagem de Deus toca os corações, respeitamos isso, mas o problema é a mensagem que passa para as vítimas de violência doméstica, de se omitirem, rezarem, não buscarem ajuda e esperarem que Deus cure seus maridos.
Se 40% das vítimas de violência doméstica se declaram evangélicas, isso indica que o número é bem maior, pois muitas nem denunciam. A religião pode ajudar no apoio psicológico e vítimas e agressores, mas é necessário enfrentar o problema e não oculta-lo dentro das Igrejas.
Muitos pastores tentam impedir que mulheres denunciem seus agressores e as orientam a "orar" e esperar que Deus cure. Mas são muitos os casos, e o silêncio e a omissão só agravam a situação. Feminicídios ocorrem quando não se consegue deter agressões anteriores.
É errado achar a mulher evangélica é sempre submissa. Temos pastoras feministas, como @lusmarinacg e muitas outras que questionam essa opressão, assim como organizações evangélicas feministas que se insurgem contra o machismo nas Igrejas. É preciso apoia-las.
Temos que garantir a liberdade religiosa e o respeito a todas as religiões, mas as instituições religiosas não podem ser instrumento de silenciamento nem de reforço da violência machista e misógina contra mulheres. Lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive nas Igrejas.
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