Thread by @CancerJack

Por que será que tanta gente tem empatia e defende o Jeff Bezos, mas não consegue se colocar no lugar de uma pessoa miserável que passa fome todos os dias? Sigam esse fio.

Por diversas vezes eu critico o fato de Jeff Bezos existir e na sequência, muitas pessoas vem defendê-lo com diversos argumentos. Primeiro, alguns pontos devem ser esclarecidos. Minha crítica primordial não é sobre os bilionários e sim sobre o sistema.

O sistema vigente no mundo gera anomalias como pessoas que acumulam dinheiro na casa dos bilhões e pessoas que vivem em situação de miséria. Segundo o Banco Mundial, em 2015, 10% da população mundial vivia com menos de US$1,90 por dia.

Para ser didático sobre acúmulo de riqueza, proponho um exercício mental. Imagine que, desde a chegada de Cristóvão Colombo na América, no dia 12 de outubro de 1492, você ganhasse US$5.000,00 por dia (cerca de R$26.100,00).

Se esse dinheiro você não gastasse, só acumulasse, hoje, depois de 192.756, você não teria US$1 bilhão. A cifra exata seria US$963.780.000,00. Infelizmente, ninguém vive 528 anos e, mesmo que vivesse, precisaria gastar parte do dinheiro para sobreviver.

Segundo a Revista Forbes, Jeff Bezos, aos 56 anos, acumulou US$113 bilhões. Bem, ele tem 20.646 dias, o que equivale a dizer que ele vive com US$$5.473.215,15 por dia. Por mais que ele seja um filantropo, isso é uma anomalia criada pelo sistema.

Então, por que uma pessoa assalariada tem mais empatia por Jeff Bezos do que com uma pessoa passando fome e vivendo com menos de US$2,00 por dia? O que faz ele defender o bilionário e não o miserável.

Se analisarmos um pouco, percebemos que o assalariado de classe média que defende a meritocracia está muito (mas muito mesmo) mais próximo da situação do miserável do que do bilionário. O assalariado, mesmo que não aceite, é extremamente vulnerável.

Por exemplo, o Banco Mundial estima que entre 40 e 60 milhões de pessoas passem a viver em extrema pobreza (Menos de US$1,90 por dia) em 2020, como resultado da pandemia de Covid-19.

Na vida do assalariado de classe média ou até do pequeno empreendedor, qualquer revés pode o transformar em um miserável rapidamente. Já, se tudo der certo na vida dele (tudo mesmo, incluindo ganhar na loteria), ele nunca irá se tornar um Jeff Bezos.

Mas esse é o sonho do Capitalismo: se você trabalhar, se esforçar e for competente, um dia você vai tomar um Macallan 1926, no Golf Club com seu amigo Jeff Bezos. Anos e anos de doutrinação fazem as pessoas acreditarem no sonho.

A má notícia é que, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a mobilidade social no Brasil é um grande problema e, em média, demora 9 gerações até que um descendente de uma família pobre chegue à classe média. oecd.org/brazil/social-…

E, já dizia Schpenhauer, a vontade (o querer) é uma espécie de Deus e é essência do ser humano. Devido ao desejo de sempre querer mais, a vontade acaba levando ao sofrimento humano.

O Capitalismo teve sua função. Na Idade Média o sistema vigente era o Feudalismo, onde nobreza e clero tinham tudo e o resto não tinha nada. Isso mudou quando a burguesia disse: pera aí, eu também quero meu quinhão.

Nada mais justo. A burguesia, artesãos que trabalhavam nos burgos em volta dos castelos, merecia um sistema mais justo e conseguiram. O Capitalismo tirou os trabalhadores de uma situação gerada pelo Feudalismo.

Mas alguns capitalistas se tornaram reis, imperadores, papas, etc. Foram poucos. Segundo a Oxfam, os 2.153 bilionários do mundo possuem uma riqueza maior do que 4,6 bilhões de pessoas, aproximadamente 60% da população global.

No Brasil, segundo a ONU, o 1% mais rico concentra 28,3% da renda total do país, conforme ranking sobre o desenvolvimento humano. Mas no Capitalismo, os 99% acreditam que podem chegar lá e se tornar o 1%, o que é um paradoxo.

Jeff Bezos, Bill Gates, entre outros, são filantropos. Ajudam muita gente, não só com doações, mas também gerando empregos, movendo a economia. A crítica não é um juízo de valores morais dessas pessoas e sim do sistema.

O Bill Gates, por exemplo, é a favor de taxar grandes fortunas enquanto outras pessoas, que não são bilionários (ainda estão sonhando em ser), são contra.
infomoney.com.br/carreira/com-f…

E ele não está sozinho! O bilionário Warren Buffett concorda que os bilionários são subtaxados.
economia.uol.com.br/noticias/reute…

Já o Jeff Bezos anunciou doação de 8% do seu patrimônio para o combate ao Aquecimento Global, enquanto tem gente que defende o sistema e nem acredita que o Aquecimento Global exista!
infomoney.com.br/negocios/jeff-…

E nesse momento, que esse fio vai chegando ao fim, metade me acusa de socialista e a outra metade me pergunta qual a solução. A resposta é NÃO, eu não sou socialista e NÃO eu não tenho a mais puta ideia de qual seja a solução.

A única coisa que eu sei é que não é aceitável uma pessoa acumular US$100 bilhões e a outra passar fome. também sei que não é aceitável qualquer pessoa que não seja um bilionário sentir empatia pelo Bezos e não pela pessoa passando fome.

Ah, e esse fio não é para te fazer mudar de ideia. É para te fazer pensar, refletir e tirar suas próprias conclusões.