Vou simplificar o tema, tentando ser o mais didático possível para até quem está passando o pano pro MBL consega entender o que foi o Apartheid. Conhecimento a gente pode propagar, já empatia é mais difícil pq a maioria das pessoas vivem fechadas em seus mundinhos. Segue o fio. 
Em 1652, os holandeses, aquele povo de boas por quem nutro simpatia, estabeleceu a colônia do Cabo. É, eles eram bem filhos da puta com esse negócio de Cia Holandesa das Índias Orientais.
Bem, eles chegaram onde hoje é a África do Sul, invadiram o lugar e escravizaram a população. Tudo porque ali era um bom lugar para fazer escala no caminho para o oriente, onde eles buscavam mercadorias para venderem na Europa.
Os bôeres, como eram chamados esses holandeses e também alguns huguenotes franceses e calvinistas alemães ficaram no poder, explorando essa colônia até o século XIX. Em 1814 o Reino Unido tomou a colônia para eles e em 1834 a escravidão foi abolida em todo Império Britânico.
Isso não agradou muito os bôeres. Então, esses holandeses pegaram seus escravos e migraram para o norte, onde invadiram mais terras, mataram mais gente (negra, é claro) e adquiriram mais escravos, criando duas repúblicas: Orange e Transvaal.
Percebam que os lugares onde eles se estabeleciam tinham donos, mas eram negros e como vocês já devem imaginar, para os bôeres, gente negra nem é gente.
Entendam também que os britânicos bonzinhos que aboliram a escravidão não eram tão bonzinhos quanto o início dessa história nos faz acreditar. Na colônia do Cabo, os negros eram separados dos brancos. Óbvio.
Para um negro sair de seu bairro e entrar em outro, onde os brancos moravam, eles precisavam ter um passe. Ah, se fosse andar de noite, também precisavam de passe, porque como dizia o Michael Moore, branco se caga de medo de negro.
Para piorar as coisas, os holandeses (bôeres) acharam diamante e ouro nas repúblicas do norte. Lógico que os britânicos cresceram o olho e começou uma guerra. Uma não, duas.
Na primeira, apesar dos esforços britânicos, os bôeres conseguiram permanecer independentes. Na segunda Guerra dos Bôeres, os ingleses venceram e anexaram a repúblicas do norte.
Em 1910 os bôeres e os britânicos chegaram em um acordo e criaram a União Sul-Africana. Nessa nova nação, negro não dava pitaco. Tudo bem que eles já estavam lá milênios antes dos europeus, que tinha idioma, cultura... mas nesse novo país, negro não tinha assento no parlamento.
Os descendentes dos bôeres, chamados agora de afrikaners, tinham idioma próprio, partido próprio e cultura própria que podemos resumir em "pau no cu dos negros". Sim, a ideologia dos afrikaners era baseado em raça superior. Estão entendendo? Lembra o que isso?
A partir de 1910, os afrikaners entram no poder e as políticas de segregação são ampliadas. Agora os negros, que eram maioria (mais de 60% da população) só podiam ter terras em suas "reservas", que eram menos de 10% do território.
Tipo, se combinar direitinho, todo mundo sobrevive! #sóquenão
Os mestiços então, nem tinham direito a ter propriedade. Mais de 90% do território era reservado aos brancos. Foda-se né gente?
Nessa, os indianos que viviam por ali (já que a Índia fora colônia britânica) também foram classificados como "cidadãos de segunda classe" e não podiam ter terras. Nem votar. Nem porra nenhuma!
Se vocês acham que essa galera que tava no poder era filha da puta, pera que piora. Tem uma escalada na filhadaputagem!
No anos pós Segunda Guerra Mundial, mais especificamente em 1948, o partido dos Afrikaners, Partido Reunido Nacional, elege o pastor da Igreja Reformada Neerlandesa, Daniel François Malan, como 1º Ministro. O cara era um nazistão! Fuça dele registrada para focar o ódio!
Nessa época é implantado institucionalmente o Apartheid como política de estado na África do Sul. Na prática, tornava mais rígida a política de segregação.
Afim de melhor compreensão, Apartheid é um termo afrikaner que significa "separação". Ou seja, para a minoria branca, tudo de bom. Para a maioria negra, tudo de pior.
O partido do Pastor Malan, se fundiu com outro partido afrikaner e passou a se chamar Partido Nacional e se tornar maioria. Lógico, todos os brancos votavam neles e os negros. Bem, negro não votava e (spoiler) isso durou até 1994.
Bem, sob o governo do Pastor Malan, a população foi dividida em 13 "nações". Brancos, Mestiços, Indianos e 10 gripos "raciais" de negros. Todo mundo tinha que ter um RG falando de qual grupo era.
O segundo passo é dividir esses grupos em assentamentos. Saca a estratégia "dividir para conquistar"? Pois é. Tinha uma favela para cada grupo e as mansões dos brancos ricos separadas também.
Daí foram proibidos casamento entre negros e brancos que, logo depois virou uma lei mais severa: PROIBIDO QUALQUER TIPO DE RELACIONAMENTO SEXUAL ENTRE NEGROS E BRANCOS. Nome dessa lei era LEI DA MORALIDADE se não me engano. Feita pelo cidadão de bem.
Lembra que eu falei da escalada? Então, passou a haver legislação sobre ônibus para negro e para branco (veja, não é lugar dentro do mesmo ônibus, são ônibus diferentes) e o mesmo para praias, restaurantes, parques, escolas, hospitais...
Os negros lutavam pelos seus direitos e se organizavam. O Congresso Nacional Africano, desde 1912, fazia esse trabalho. Advogados negros ajudavam os povo em questões judiciais e tentavam abrandar penas injustas e ampliar a liberdade civil.
Eis que em 1960, um evento iria mudar o cenário sul-africano. Um protesto em Sharperville, bairro negro no subúrbio de Joanesburgo seguiu pacificamente pedindo o fim da Lei do Passe. Lembra dela?
A Polícia branca achou que caminhar reivindicando um direito básico era altamente perigoso. Por isso, reprimiu a manifestação COM METRALHADORAS!!!!
Repetindo, COM MALDITAS METRALHADORAS!
O Massacre de Shaperville, como ficou conhecida essa chacina, acabou com 69 mortos e a radicalização do CNA. A partir dali, a luta negra tinha um braço armado: Umkhonto we Sizwe, ou "A Lança da Nação".
A Lança da Nação era comandada por, entre outros, um advogado negro que até então era pacífico, chamado Nelson Mandela.
Segundo Mandela, a política de não violência do Congresso Nacional Africano seguiu até onde foi possível. Quando as condições não mais permitiram esse caminho, a opção foi pegar em armas.
A partir de 1961, o grupo armado perpetrou "atos terroristas" contra alvos industriais e militares por meio de sabotagens e bombas. Essa tática visava evitar baixas humanas.
Mandela teve apoio de vários líderes africanos, entre eles Haile Selassie, imperador da Etiópia, o famoso Jah Rastafari (sim, ele era Jah encarnado).
Na Etiópia, recebeu treinamento de guerrilha e demolição. Foi para a Argélia onde aprendeu como os argelinos lutaram contra os franceses.
Em 1962 Mandela foi preso. Hoje, sabe-se que a localização dele foi passada pela CIA para o governo sul-africano porque os americanos tinham "medo que Mandela se aliasse aos comunistas".
Óbvio, melhor se associar aos racistas filhos da puta escrotos do que com os comunistas, certo gente? É, parece que não mudou muita coisa por aqui!
No julgamento, em seu discurso intitulado "Estou Preparado para Morrer", Mandela confessa os crimes de sabotagem, mas nega que quisesse escalar a luta para uma guerrilha contra o governo. Foda-se! Os brancos sentenciaram ele a PRISÃO PERPÉTUA".
Mandela ficou preso de 1962 a 1990. Durante esse tempo, a violência escalou, pessoas morreram, o Congresso Nacional Africano tornou-se ilegal, o mundo passou a olhar mais de perto a situação do país, mas...
Líderes ocidentais, entre eles Margaret Tatcher, primeira-ministra do Reino Unido e queridinha da direita conservadora, faziam vistas grossas ao regime de segregação racial.
Em 1994, os negros puderam votar pela primeira vez e elegeram Nelson Mandela como presidente. Aquela era apenas a 3ª eleição para indianos e mestiços. Já para os brancos, era a 27ª.
Quando chegou ao poder, ao invés de revanche, Mandela optou pela integração. Isso pode ser visto no ato de criação da Comissão da Verdade e Reconciliação - encarregada de apurar, mas não de punir, os crimes ocorridos durante o apartheid.
Um amigo meu foi a África do Sul recentemente e me relatou como ainda hoje, apesar dos mais de 25 anos de democracia, o país ainda é extremamente dividido pela questão racial. Isso é nítido para qualquer turista que passe uma semaninha por lá.
A África do Sul é o país mais desigual do mundo, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Os negros são 80%, mas as terras, por exemplo, continuam (85%) nas mãos dos fazendeiros brancos.
O podcast Café da Manhã, da @folha apresentado pela @mageflores e pelo @rodrigovizeu fez um excelente programa sobre isso. open.spotify.com/episode/2eU7yV…
O Mandela tinha defeitos? Evidente! Todo mundo tem! Sem exceções! Mas a biografia dele e a luta dele pelos direitos do povo negro, são para pouquíssimos!
Daí, vem um bando de FILHO DA PUTA, maldito, sem o mínimo de empatia, sem escrúpulos, com uma tara incrível pelo comunismo, falar que "AH, MAS O MANDELA ERA TERRORISTA! ELE E O LULA SE MERECEM!"
Com o perdão do meu francês, mas CHUPA MINHAS BOLAS PELUDAS!
O MBL sim devia ser proibido no Brasil. Esse tipo de gente tinha que ser execrada e não votada. No mais, é #FogoNosRacistas e quem passar pano será bloqueado!
