Thread by @lucasmafaldo

Minha impressão é que as pessoas cansaram de discutir sobre o corona. O vírus não foi embora, mas não dá para avançar mais na compreensão do assunto.

Não é nem que o assunto tenha sido politizado. É que agora há dois universos mentais distintos e incomunicáveis.

Mas eu ainda tenho curiosidade pela realidade. Continuo achando que aquela previsão israelense estava certa: o vírus é mais contagioso do que o influenza e mais letal, mas é pelo menos dez vez letal do que as previsões alarmistas.

Também me parece que esse protocolo para...

... tratamento precoce tem grande chance de diminuir a letalidade na média, embora não seja uma cura garantida.

Além disso, certamente deve ser possível diminuir a letalidade aumentando a capacidade de reação do organismo (dieta saudável, exposição ao sol, etc.).

Outra coisa que me parece ser um dado de realidade: depois que o vírus atingiu o nível de contaminação comunitária, ele não vai mais embora. Nenhum país parece ter recurso para rastrear e isolar todos os casos depois que a coisa já está alastrada. Quem perdeu a janela...

... de fechar as fronteiras lá atrás, já elvis. Vai ter que conviver com o vírus.

E aí fica uma dúvida real: quanto tempo essa semi-quarentena generalizada é sustentável? Tanto psicologicamente (isto é: quanto tempo as pessoas aguentam?) como economicamente (quando acaba...

... a "munição financeira" dos governos?).

A minha dúvida já foi qual era a alternativa mais racional em termos de políticas públicas. Mas eu já aceitei que a racionalidade nesse assunto é impossível. A minha dúvida agora é saber o que vai quebrar primeiro.

A turma da ciência ainda não admitiu, aliás, que mudou inteiramente de discurso. A ideia era "achatar a curva" para chegar na imunidade de rebanho sem provocar um colapso hospitalar -- o que fazia algum sentido. Mas a curva foi achatada no mundo todo bem antes dessa imunidade.

A conversa inicial era que seria preciso chegar nos 70% da população para ter imunidade. Aqui em Ottawa parece estar em 1%. Das duas uma: ou se restringiu demais ou a doença era menos contagiosa do que se imaginava (e aí talvez a imunidade viesse com um percentual bem menor).

Ao menos tempo, ela não é tão pouco contagiosa ao ponto de poder ser extinta com o nível atual de isolamento. Aqui em Ottawa talvez a gente tenha uma das condições ideais para se isolar (pouca densidade, muita gente na área de tecnologia que pode trabalhar remoto). Ainda assim...

... os casos voltaram a crescer assim que começou uma reabertura moderada (com distanciamento social, máscaras, etc.).

Ou seja, mesmo um nível altíssimo de restrição não foi capaz de extinguir a coisa. Se o objetivo é ficar fechado até ela sumir, a gente vai ficar para sempre.

Logo, talvez a lógica operante seja manter essas medidas até a chegada da vacina. Porém, isso significa parar uma parte enorme da sociedade esperando algo que não tem garantia alguma de chegar. E se as primeiras vacinas tiverem problemas? E se demorar mais um ano e meio?

Aí volto para a minha dúvida: é possível ficar emitindo auxílio financeiro, programa de estímulo econômico para sustentar uma economia mundial zumbi por dois anos inteiros? Quando é que isso vai gerar uma revolta generalizada ou hiperinflação ou algo assim?

O outro lado dessa equação é o seguinte: a gente estava operando como se a globalização fosse uma força irreversível e qualquer restrição ao movimento de bens e produtos fosse impensável. Nem a direita nem a esquerda mainstream propunham nada muito radical nessa área.

Ou seja, no mínimo, isso tudo mudou radicalmente nossa impressão do que é possível e impossível.

Não ficou claro lá em cima: o vírus provavelmente te é DEZ vezes MENOS letal que as previsões alarmistas (tipo o Átila).

Outra coisa que eu acho que as pessoas não perceberam ainda: se você passar dois anos isolados, você provavelmente vai perder a chance de conviver com...

... pessoas que vão morrer também de outras causas. Por exemplo, um parente meu morreu (não de corona), há algumas semanas. Ou seja, o isolamento impediu visitas nos seus últimos meses. Se durar mais um ano, isso será multiplicado.

Em algum momento, as pessoas vão fazer esse cálculo e se revoltarem. A coesão social só tende a piorar, a meu ver.

Outra coisa que eu esqueci de comentar: é curioso quantos profissionais de saúde já morreram no RN, enquanto aqui no Canadá creio que houve poucas ou nenhuma mortes. Para mim, isso é sinal de que algo foi feito de bem errado nos protocolos dentro dos hospitais.

Parece haver indícios de que a carga viral é um fator na gravidade da doença. Por isso, profissionais de saúde seriam um dos principais grupos de riscos, já que podem ser expostos a uma carga bem maior que no dia-a-dia. Logo, o principal esforço deveria ter sido em protegê-los.

No mesmo sentido, atividades ao ar livre não deveriam ser proibidas, já que, mesmo se houvesse contaminação, a carga viral certamente seria bem mais baixa. Sem falar nos benefícios à saúde física e mental de passar tempo do lado de fora.

No entanto, a direção foi justamente o contrário: deixar todo mundo estressado, trancado em casa, apostando que a vitamina D virá inteiramente de suplementos, por tempo indeterminado.

Mas, claro, Bolsonaro é que é um genocida.