Thread by @leoffmiranda

De que adianta ter o celular de última geração se você não sabe como usá-lo?

É a mesma coisa com posse de bola: não é ter ela o que faz o time ser ofensivo. É como se usa. Quem e como usa.

Foi justamente onde o Palmeiras, que teve 74% de posse contra o Santo André, pecou. Fio👇

Há anos a torcida do Palmeiras quer um time propositivo. Que ataque de forma organizada e rápida. Os técnicos que passam por lá sabem disso. Mano Menezes deu entrevistas falando em mudança de estilo e Luxemburgo deixa claro: seu time é propositivo.
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A intenção de Luxa é clara: o time vai ficar no campo do adversário.

O que indica é o posicionamento. O goleiro trabalha bem avançado, a dupla de zaga abre, os laterais avançam até o outro lado e só os volantes têm autorização para buscar a bola. O resto fica esperando lá.

Esse jeito de jogar é cheio de boas intenções, mas tem um efeito contrário: cria a própria retranca do Palmeiras.

O adversário fica atrás porque entende que o Palmeiras não consegue criar espaços na defesa adversária. A bola vai sempre ficar longe do gol. Toca, toca...e nada.

A posse de bola só funciona se ela for acompanhada de movimentos sem a bola. Não adianta o cara ter a maior qualidade do mundo: sem ninguém livre, bem posicionado e disposto a jogar, não tem como.

O passe é, antes de tudo, uma interação.

Aqui, Menino tem a bola. Com quem ele consegue interagir?

Três jogadores estão na frente dele: Luiz Adriano e Rony, colados nos zagueiros e distantes. Willian se movimenta, mas tem um adversário fechando a linha de passe. Veja como o centro do campo está desocupado.

Como os laterais estavam mais livres e pisando a linha de fundo, a solução foi lançamentos. O Palmeiras fez 27 lançamentos hoje. Já havia feito 30 contra o Água Santa e emendou 13 só no primeiro tempo contra o Corinthians.

Só que de nada adiantar lançar a bola se o time não cria espaço para deformar e desorganizar uma defesa fechada.

Olha o espaço tem na entrada da área. Se alguém recebe ali, um adversário é arrastado e finalmente a defesa se quebra. Mas não. Todo mundo avança sem saber o porquê.

Beleza, então como soluciona?

Não é fácil. É preciso ocupar lacunas no campo, no momento certo para dar a opção ao companheiro e com o corpo posicionado para enganar e não possibilitar a retomada ao adversário. Aqui você vê o Diogo correndo no pontilhado, mas no tempo errado.

É um jogo de percepção.

Olha como o Santo André tá fechadinho. Por onde dá pra entrar? Quem está com a bola precisa pensar nisso ao mesmo tempo que alguém se posiciona na única lacuna que existe, entre o lateral e o zagueiro.

O Lucas Lima fica parado nessa jogada, mas com dois passos para fora, ele poderia arrastar aquele lateral atento à bola para que o Willian fique livre e indique o passe ao companheiro. Afinal, passe é interação. Quem recebe precisa "chamar" a responsa.

O Willian até percebe isso, mas precisa da ajuda do companheiro. Não adianta colocar o Lucas Lima ou o Gustavo Scarpa só porque são meias. Pra quem eles passam?

Por isso não adianta apenas querer um time propositivo, com posse, que se inspire no Barcelona...

Tudo isso não depende do resultado. Resultado é muito pequeno perto dos noventa minutos de um jogo. E hoje o Palmeiras não foi bem na maior parte deles. Teve muita posse...mas não soube como mexer com com ela.

Por fim, não gostaria que esse fio gerasse críticas exageradas. Respeito, antes de tudo e sempre. Tudo o que conquistei foi com respeito. É uma visão construtiva como a que faço desde 2013 na imprensa.

O Santo André chutou 13 vezes. O Palmeiras chutou 14.

Claro que o aleatório faz parte. Mas se a ideia da posse de bola era ser um instrumento de defesa (quem tem a bola esconde ela), o Santo André não finalizaria a mesma coisa que o Verde.

Entendeu?

https://twitter.com/ofifizao/status/1288689623682691073

Finalizando, os números do jogo 👇