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De muitos fenômenos novos na internet pós-pandemia, o que mais me sensibiliza é o "obituário compartilhado". Visto como espaço narcísico, as redes se defrontam agora com uma massiva dor daqueles q perderam os seus, q são tratados como um saco preto parafusado dentro de um caixão.
Passei a seguir os replies com as palavras "meus pêsames" e "meus sentimentos" no Twitter. Os relatos se multiplicam. E deixam um rastro de profunda melancolia, sentimento que atravessará os próximos anos entre os que conseguirem passar pela covid-19.
Ouvi atentamento o Joel Birman falar sobre isso na live da Abrasco. E gostaria de resumir a fala dele por aqui. ELa tá aqui:
Ele diz que entramos num estado de "angústia permanente", ativando nossas defesas psíquicas para se antecipar a uma ameaça futuro, causada por um vírus invisível. Daí ficamos numa situação de desamparo.
O desamparo pode ser mitigado por instâncias como a família, o estado. De certa forma, os países asiáticos e europeus protegeram os seus cidadãos, apelando para o discurso científico e medidas de cuidado, reduzindo esse impacto psíquico.
No caso dos EUA e Brasil, não. O Estado decidiu aprofundar essa angústia, engatilhando o sentimento de desalento, que é quando passamos a acreditar que ninguém pode nos ajudar. Esse desalento criou uma "hemorragia de angústias", nos deixando desnorteados.
Essa expressão, hemorragia de angústias, é bem apropriado para etiquetar as múltiplas dores, dificuldades de pensar o futuro, certos masoquismos, que leio toda noite, ao me dedicar a essa escuta dessa gente "normal", que usa das redes para ser acolhida em tempos dificeis.
Birmam aponta os sintomas dessa melancolia permanente, que gerará um pagamento caro para nossa saúde mental. O primeiro deles é o "eu me deixo fazer sofrer". Uma espécie de síndrome do pânico, um medo imediato da morte.
O segundo, a hipocondria, como se o vírus estive em todos os lugares e só no restaria uma vigilância excessiva de pequenos movimentos do nosso corpo.
Há tantos outros sintomas. E, dada a sua complexidade, sugiro que vocês mesmo escutem o que o grande professor Joel Birman tem a dizer.
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