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Eu quero tenta restabelecer algumas verdades. Porque tenho visto muita gente inteligente e de boa fé se engajando numa "rage" sem sentido contra Átila Iamarino. E a distorção do que rolou serve de base a tanto ranço.

Então vamos lá (thread):
Essa é a live que mais usam para infernizá-lo. Foi ao ar na noite de 20 de março de 2020. E, pelo que ele explica nela, preparada ainda naquela noite, após um anúncio catastrófico feito por Luiz Henrique Mandetta.
É importante a gente entender o contexto. Naquele ponto, o Brasil somava 793 casos de covid-19. E 11 mortes.

Vocês podem confirmar o que estou falando por este gráfico da Folha de S.Paulo:
arte.folha.uol.com.br/equilibrioesau…
Não faltava nas redes sociais perfis governistas dizendo que o novo coronavírus mataria menos do que a gripe comum. Dois dias depois, o próprio Jair Bolsonaro garantiria que a pandemia não acumularia mais do que 800 mortes no Brasil.
www1.folha.uol.com.br/equilibrioesau…
Até aquela semana, o governo britânico apostava na imunidade de rebanho. Ou seja: em nada fazer, de forma que o Sars-CoV-2 infectasse 70% da população, o que impediria a doença de ir adiante.
Mas os britânicos mudaram de postura após um estudo do Imperial College desenhar a tragédia em que aquela estratégia resultaria no Reino Unido e nos Estados Unidos. É com base no desenho americano que Átila esboça um rascunho para o Brasil.
O estudo dizia, e Átila apenas repassa a informação, que meramente apostar na imunidade de rebanho resultaria em 2,2 milhões de mortes nos Estados Unidos só por covid-19. Com os óbitos dobrando por outras doenças que não encontrariam tratamento em hospitais lotados.
E aqui vem a primeira desinformação que precisamos combater. Em nenhum momento Átila fala em início de agosto. Mas sempre em "final de agosto".

Agosto está só começando. Mas sigamos.
Aos 27 minutos, Átila arrisca uma previsão de casos para dali a uma semana. O gráfico na tela estima que o Brasil chegaria a 12 mil casos na sexta-feira seguinte.

Na vida real, chegou a 3,4 mil. MAS...
arte.folha.uol.com.br/equilibrioesau…
Mas o governo brasileiro já havia disparado, na semana da live, a instrução para que apenas os casos graves fossem testados, ou faltaria testes até para estes casos.
g1.globo.com/bemestar/coron…
Aos 50 minutos da live, Atila observa que a curva brasileira se desenrolaria com algum atraso em relação aos casos britânico e americano. Ou seja, iria além de agosto. Mas ele próprio esquece isto em seguida, e volta a falar em final de agosto como prazo.
Aos 51 minutos, ele traz a grande previsão catastrófica:

Se o Brasil nada fizesse, e apostasse na imunização de rebanho como os britânicos apostaram, fecharíamos agosto com 1,4 milhões de mortos por covid-19.
Aos 53 minutos, ele soma ao 1,4 milhão de mortos a expectativa de óbitos por outras causas que ocorreriam por simplesmente as vítimas não encontrarem atendimento médico. E fecha a conta em 2,6 milhões de mortos.

Mas, de novo, é o cenário em que NADA é feito.
Atila então passa a confrontar dois cenários, que ele chama de "mitigação" e "supressão".

Mitigação era o que o Brasil fazia até então: isolar os casos que identificava.

Aos 58 minutos de live, ele diz que essa estratégia implicaria em um milhão de mortos até o final de agosto.
A "supressão" seria fazer o que a China fez: isolar casos, população fica de quarentena em casa, há distanciamento social na rua, e os idosos nunca saem de casa.

Para esse cenário ele não faz previsão. Apenas diz que as mortes não passariam das milhares.
Uma semana depois, a própria Imperial College adaptou o estudo ao Brasil. E discordou de Átila em "apenas" 300 mil mortes, prevendo mais de 1,1 milhão de óbitos no cenário em que NADA é feito:
noticias.uol.com.br/saude/ultimas-…
Para o Brasil chegar ao melhor cenário, precisaria manter 75% da população em casa e testar todos os casos suspeitos. Batendo esta meta, as mortes não passariam de 44,3 mil por aqui.

Lembrando que, na data em que essa previsão foi feita, o Brasil tinha apenas 92 óbitos.
O Brasil nunca conseguiu manter 75% da população em casa, seguiu testando apenas os casos graves (às vezes nem isso), e ainda contou com um presidente sabotador que atrapalhou várias iniciativas para conter o avanço da pandemia (estamos há meses sem ministro da Saúde).
Mas de fato boa parte (entre 40% e 60%) da população ficou em casa, comércio e escolas fecharam, o uso de máscaras foi estimulado, hospitais de campanha foram levantados, e isolamento social segue sendo uma medida em vigor.
Quando agosto se iniciou, havia a confirmação de mais de 92 mil mortes. Pelo ritmo dos números, é possível apostar que o mês irá se encerrar com mais de 120 mil óbitos confirmados. Mas ainda há subnotificação, que segue uma incógnita.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, enquanto os números oficial contabilizavam 181.278 casos de covid-19, uma pesquisa do Ibope com teste sanguineo estimou que 1,32 milhão de paulistanos já tinham se infectado. É um número sete vezes maior.
www1.folha.uol.com.br/equilibrioesau…
Não faz sentido também multiplicar por 7 o total de óbitos, pois é razoável concluir que todos vieram de casos graves, cuja maioria é testada.
Mas, se com 11,1% da população infectada, São Paulo somava 9.354 óbitos. Posso concluir que, só na cidade, a tal aposta na imunidade de rebanho, que demandaria a infecção de 70% da população, implicaria em 59 mil mortes.
Se eu amplio essa proporção para toda a população brasileira, o que é bem leviano da minha parte, já que o resto do país não tem uma estrutura tão boa quanto a de São Paulo, os tais 70% da imunidade de rebanho implicariam em 1,03 milhão de mortos.
E, de novo, sem contar a subnotificação, que segue incógnita. Ou as mortes que ocorreriam por outras causas e seriam evitadas sem hospitais lotados.
Por fim, uma questão retórica: num mundo com tanta gente para ser odiada, por que alimentar tanto ódio contra alguém, ou mesmo contra uma classe de profissionais, que anda se empenhando tanto em combater o avanço do coronavírus?
Minha dica é meramente clicar na tag que levantaram contra o cara, e conferirem o tipo de gente que tem se engajado nela. Quero crer que, ao se tocarem do que estão guiando, vocês deixam isso para lá.
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