Thread by @apyus

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Não basta Sergio Moro ser honesto, é preciso parecer honesto

No 29 de julho de 2020, Dias Toffoli defendeu que o Congresso Nacional aprove uma lei estipulando que juízes e membros do Ministério Público cumpram com uma quarentena de 8 anos antes de disputarem cargos públicos.
g1.globo.com/politica/notic…

De imediato, o presidente do Supremo Tribunal Federal recebeu o aceno positivo de Rodrigo Maia.
www1.folha.uol.com.br/poder/2020/07/…

A iniciativa foi vista como uma forma de evitar que Sergio Moro dispute as eleições presidenciais de 2022. O autor do projeto e o próprio presidente da Câmara negaram que a lei retroagiria de forma a prejudicar o ex-juiz federal.
oantagonista.com/brasil/lei-sob…

O procurador Júlio Marcelo de Oliveira, no entanto, lembrou que, a exemplo da Lei da Ficha Limpa, “regras de inelegibilidade se aplicam no momento do registro das candidaturas a todos os que nelas se enquadrem”.
oantagonista.com/brasil/a-pegad…

Ainda que possua características próprias, a discussão não é inédita.

Em 2018, em reação ao caso do procurador Marcelo Miller, que advogou para Joesley Batista antes mesmo de deixar a Procuradoria-Geral da República, o Senado aprovou uma quarentena de 3 anos para que juízes e promotores atuem na advocacia privada.
oglobo.globo.com/brasil/senado-…

Desde então, o texto aguarda votação na Câmara. Agora, como explicou Toffoli, o objetivo é evitar a “utilização da magistratura e do poder imparcial do juiz para fazer demagogia, aparecer para a opinião pública, e depois se fazer candidato”.
camara.leg.br/proposicoesWeb…

Em 2018, as urnas elegeram figuras como a procuradora Bia Kicis, e os juízes Wilson Witzel e Selma Arruda. A campanha quase contou também com a participação de Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF relator da ação penal que prenderia Dirceu e Genoino.
bbc.com/portuguese/bra…

Ainda que não tenha disputado qualquer cargo, nenhum caso chamou mais atenção que o de Moro.

Em 1º de novembro de 2018, apenas quatro dias após a eleição de Bolsonaro, o juiz federal que ainda arbitrava a Lava Jato deu razão ao que os principais críticos especulavam, e aceitou comandar o Ministério da Justiça do presidente eleito.
g1.globo.com/jornal-naciona…

Em maio passado, Gilmar Mendes acusou o ainda ministro da Justiça de ter vazado a delação de Antonio Palocci para prejudicar Fernando Haddad, que disputou o segundo turno de 2018 com Bolsonaro.
epoca.globo.com/guilherme-amad…

O ministro do Supremo não apresentou provas. Mas o próprio noticiário registrou suspeitas.

No dia em que Bolsonaro confirmou a vitória, Rosângela Moro celebrou o feito no Instagram.
veja.abril.com.br/politica/rosan…

No dia em que o marido dela aceitou ser ministro, Hamilton Mourão deixou escapar que, na verdade, o convite fora feito por Paulo Guedes antes mesmo de a eleição se concluir.
valor.globo.com/politica/notic…

Gustavo Bebianno também confirmaria que, na votação do segundo turno, ouviu do economista que o juiz federal já tinha sido sondado para o cargo em “5 ou 6 conversas” com o próprio Guedes. E que Moro “estaria disposto a aceitar esse desafio“.
noticias.uol.com.br/politica/ultim…

Não há registro de quando ocorreram essas “5 ou 6 conversas“. Mas sabe-se que Guedes, cinco dias antes da realização do primeiro turno, simplesmente sumiu. Oficialmente, cumpria agenda no banco Bozano, do qual era sócio.
exame.abril.com.br/negocios/sumid…

Por coincidência (ou não), a data em que a imprensa se toca do sumiço do “Posto Ipiranga” é a mesma em que Moro torna pública a delação em que Palocci garantia, dentre outras coisas, que Lula sabia do esquema de corrupção que depenara a Petrobras.
brasil.elpais.com/brasil/2018/10…

Quatro dias antes, uma simulação de segundo turno no Datafolha mostrava Haddad 6 pontos percentuais à frente do candidato do PSL.
veja.abril.com.br/politica/bolso…

Na noite da data em que detalhes da delação de Palocci rodaram as manchetes e as redes sociais, Bolsonaro já ressurgia no mesmo Datafolha dois pontos percentuais à frente do candidato do PT.
g1.globo.com/politica/eleic…

A canetada de Moro não deve ter sido o único fator a pesar na decisão do eleitor. Dois dias antes, Edir Macedo se decidiu pelo apoio ao candidato que venceria, o que certamente virou votos evangélicos.
veja.abril.com.br/politica/bispo…

E é razoável concluir que a magnitude das manifestações #EleNão mostrou aos antipetistas que um voto nulo poderia resultar numa quinta vitória seguida do petismo.
bbc.com/portuguese/bra…

Mas é fato que, em agosto de 2018, Moro adiara para novembro um depoimento de Lula, conforme escreveu, “a fim de evitar a exploração eleitoral dos interrogatórios, seja qual for a perspectiva“.
poder360.com.br/lava-jato/para…

Contudo, no 2 de outubro de 2018, a apenas cinco dias da votação do primeiro turno, Moro não se incomodou com o risco de a delação de um ex-ministro dos governos Lula e Dilma Rousseff atrapalhar a campanha petista.

Trinta dias depois, ou menos de sete meses após prender o principal adversário de Bolsonaro, e após “5 ou 6 conversas” com Guedes, Moro tornou público o que estava disposto a fazer mesmo antes de o segundo turno terminar.
g1.globo.com/sp/sao-paulo/n…

Vale discutir se o prazo de 8 anos proposto por Toffoli seria razoável, e de fato soa exagerado. Mas, odiando ou amando qualquer um dos citados nessa retrospectiva, o que ocorreu em 2018 não pode se repetir. Nunca mais.

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jornalismo.art/sergio-moro-se…

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