Thread by @teofb

A pontaria do Flamengo entrou em pauta nos últimos dias, especialmente com estatísticas que mostram o baixo rendimento ofensivo até aqui.

É inegável que o time vem tendo dificuldades para colocar a bola para dentro, mas o que os números têm realmente a dizer?

Segue o fio...

No Brasileirão 2019, o Flamengo fez gol em 15,4% de suas finalizações.

É um rendimento acima de todos os times da Premier League na última temporada e muito acima da média de 9,0% que vimos no Campeonato Brasileiro.

O time sabia a hora de chutar e ainda chutava muito bem.

Mas antes de olharmos para 2020, é preciso fazer algumas ressalvas...

Ainda é perigoso tirar qualquer conclusão sobre o campeonato e o rendimento dos times. Afinal, a amostragem é baixa. Ou seja, temos poucos jogos até aqui e qualquer análise estatística tende a flutuar muito.

Por exemplo, na comparação com os 5 primeiros jogos de Jorge Jesus, a vitória por 6x1 contra o Goiás "contamina" a leitura. Afinal, o Flamengo fez 9 gols nesses 5 jogos, sendo 6 em uma única tarde mágica no Maracanã.

Com mais jogos, as coisas se estabilizam.

No mais, é injusto comparar 38 rodadas de 2019, passando por picos de performance e um time de nível MUITO alto, com o início de um trabalho estrangulado pela pausa da pandemia.

De qualquer maneira, como é o assunto do momento, vamos falar um pouquinho de números...

Há algumas semanas apresentei aqui a ideia de um "funil ofensivo"

Quem trabalha com marketing vai entender rapidamente a ideia... É como um "funil de vendas".

Quebrando em etapas, a gente entende os padrões de cada time.

https://twitter.com/teofb/status/1292123231667748865?s=20

Há times que criam pouco, mas finalizam bem, por exemplo. Outros times têm pouco a bola, mas, quando têm, chegam muitas vezes perto do gol adversário.

Nosso funil começa, então, com a POSSE. Times que têm mais a bola, têm mais chance de criar...

Mas ter a bola não é suficiente. A PROGRESSÃO mede quantas vezes um time entra no último terço (a zona de ataque) para cada minuto com posse de bola.

Depois, o VOLUME mostra quantas finalizações o time consegue para cada entrada no último terço.

Não basta chutar. A QUALIDADE busca entender em que condições o time chuta.

A ideia é pegar o xG (gols esperados) para cada finalização. É melhor do que olhar para "chances criadas", pois, além desse critério ser subjetivo (o que é uma "chance", afinal?), nem toda chance é igual

A CONVERSÃO trata, então, do resultado real: quantos gols o time para cada "gol esperado" pelo modelo estatístico?

Esse número é afetado pela qualidade dos atacantes, pela qualidade dos goleiros e pela sorte — e é o mais afetado pela amostragem pequena.

Vamos, então, entender o que está acontecendo com o Flamengo... Até aqui o time tem a maior posse do campeonato, consegue progredir um pouco menos e tem um volume quase igual ao do ano passado. Vem finalizando em condições piores, mas o problema claramente está na conversão...

Se o rendimento na criação fosse igual ao que estamos vendo, mas ataque rubro-negro aproveitasse suas chances na mesma proporção do ano passado, o Flamengo poderia ter marcado 8 gols — e não 3 — em 5 jogos.

Como já disse, muitos fatores influenciam esse resultado. Ritmo de jogo, nível de concentração, refinamento técnico e... sorte!

O tempo de inatividade, a falta de torcida e o gramado ruim do Maracanã certamente também não ajudam.

O Grêmio tem um problema parecido. Não tem tanta posse, mas progride bem no campo, finaliza bastante e em boas condições. O problema é que a conversão é ainda pior que a do Flamengo, deixando o aproveitamento igual: 3 gols em 5 jogos.

Já o Vasco, vive situação oposta. O time tem pouca posse e, quanto tem, não invade tanto a defesa rival. Finaliza pouco, mas em boas condições. Mesmo assim, marca o três vezes mais gols por jogo do que Flamengo e Grêmio porque tem um índice de conversão absurdamente alto até aqui

Aliás, lembra que eu disse lá no início que o índice de 15,4% de finalizações entrando no gol, alcançado pelo Flamengo em 2019, era bastante alto?

O Vasco no momento tem 23,3%!! Totalmente fora da curva e, provavelmente, impossível de manter no longo prazo.

Outro caso interessante é o Goiás. O time tem pouquíssima posse, mas chega bastante ao ataque quando tem a bola. O problema é que se precipita e finaliza em condições péssimas, mas vem tendo uma conversão altíssima! Por isso, fez 5 gols em 4 jogos

Números são muito úteis, mas é preciso ter cuidado para não tirá-los do contexto. O Flamengo realmente vem mal no quesito, mas ainda é cedo para conclusões definitivas. É preciso de tempo para trabalhar, mas também para que as tendências estatísticas se estabeleçam.

Ah, se você chegou até aqui, provavelmente se interessou pela ideia do "funil ofensivo" e pode ter curiosidade de olhar outros times. Segue a tabela completa até aqui.