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Flamengo e Botafogo mostraram ainda precisam de muitos ajustes. Aliás, quem não precisa no momento atual do futebol brasileiro?

Mesmo com um jogo que oscilou e foi morno em muitos momentos, deu para tirar algumas lições.

Segue o fio…
Muito tem se falado nas mudanças táticas impostas por Dome, mas o impacto da escalação contra o Atlético-GO contaminou um pouco o debate. No primeiro tempo contra Atlético-MG e Grêmio, assim como na maior parte do jogo contra o Coritiba, vimos um time muito parecido com o de JJ.
Parecido na escalação, estrutura e movimentações. No desempenho, ainda falta bastante, claro. O time ainda se mostra um pouco “preso” e erra mais do que estamos acostumados.

Contra o Botafogo, vimos as ideias do novo treinador mais claramente em campo.
O time abandonou o 4-4-2 e começou num 4-3-3 com Diego e Everton à frente de Arão no meio-campo. Na frente, Pedro Rocha fazia o lado esquerdo, Gabigol jogava pela direita e Bruno Henrique era o centroavante.
Do outro lado, o Botafogo veio num 5-4-1. É possível que as informações vazadas sobre os treinamentos e escalação tenham direcionado Autuori, pois o Botafogo veio com um time moldado para direcionar o ataque rubro-negro.
Com a formação, o Botafogo trancava o corredor central e forçava o Flamengo a jogar pelos lados. Junto com isso, povoava a área com muitos jogadores. Ou seja, canalizava as jogadas até o fundo e se garantia cortando os cruzamentos.
Com isso, o Flamengo forçava o jogo especialmente pelo lado esquerdo, mas os cruzamentos sempre encontravam muita gente de branco contra pouca gente de vermelho e preto na área.
Autuori mantinha duas sobras na zaga, deixando BH sempre contra três, o que significava que dois jogadores do Flamengo sobrariam em outra parte do campo. Como os meias alvinegros vigiavam os laterais e os volantes marcavam os meias individualmente, as sobras ficavam lá atrás.
Isso significava que o Flamengo não precisava usar a “saída de 3”, pois já tinha superioridade numérica na saída apenas com os zagueiros. O problema era fazer a bola circular para manipular a defesa adversária, bagunçar e criar espaços. Para isso, Arão era a chave.
Quando queria girar o jogo de um lado para o outro, o Flamengo fazia uma “circulação em U”, sempre por fora do bloco de marcação alvinegro. Com isso, o jogo era lento e a defesa do Botafogo tinha muito tempo e espaço para se adequar.
Pegue esse lance como exemplo. O Flamengo só troca passes por fora e o Botafogo está sempre confortável. Arão até tenta achar Diego por dentro, mas o camisa 10 é marcado de perto por Honda e precisa recuar de primeira.

Imagine, no entanto, se no início do lance Arão se adiantasse alguns metros. Ganharia o espaço por trás da primeira linha de marcação e receberia de frente. Caio Alexandre ou Honda teriam que dar combate, deixando Diego ou Everton livres e iniciando uma reação em cadeia.
Foi mais ou menos isso que aconteceu na primeira grande chance do Flamengo. A bola circulou por dentro e encontrou Pedro Rocha num mano a mano confortável. A jogada rápida não permitiu que o Botafogo se firmasse na área e quase saiu o gol.

A grande questão, então, era ganhar esse espaço. As oportunidades foram muitas no primeiro tempo, mas o Flamengo simplesmente não fazia esse movimento. Continuava jogando por fora e não forçava o Botafogo a tomar decisões difíceis na marcação.
Antes que peguem esse tweet e decretem “já temos um culpado”, é bom entender o contexto todo. Como disse o craque @carlosemansur em sua coluna dessa semana, “o time selecionado pelo analista não vai a campo. O do treinador, sim.”

O treinador sempre tem motivos para suas escolhas. A solução proposta aqui é mais um exercício de visualização do que um decreto de erro estratégico assinado em cartório.

Como sempre, não existe resposta certa no futebol. Só existem propostas para solucionar os problemas do jogo
Nada é tão simples. Cada ação gera uma reação. Se Arão tentasse toda hora a movimentação para ganhar esse espaço, poderia acabar arrastando Babi (que às vezes o marcava individualmente) e congestionar ainda mais o jogo, por exemplo.

Nesse caso, talvez o espaço se abrisse para que um dos zagueiros — com a devida permissão do treinador — carregasse a bola para dentro do campo de ataque, forçando o Botafogo a desfazer seus duelos individuais e iniciando a tal reação em cadeia.
Além disso, é bom levar em consideração a característica individual dos jogadores e é necessário tempo para se adaptar. Com JJ, Arão costumava pegar o jogo de frente e Gerson fazia mais essas movimentações nas costas da primeira linha da marcação adversária, ganhando esse espaço.
Por fim, tudo isso exige coragem e é mais difícil ousar quando o time não está tinindo, confiante em tudo que faz.
A melhor chance do Botafogo no jogo veio justamente num contra-ataque depois que o Fla tentou forçar um passe por dentro com Arão, que foi acompanhado por Babi até a entrada da área alvinegra.

Mesmo com todas as dificuldades, o Flamengo criou. Se estabeleceu no campo de ataque, teve chances, mas esbarrou em pequenos erros técnicos e decisões lentas. O time ainda não está no ponto ideal.

Os 10 minutos finais do primeiro tempo, aqueles “minutos do Flamengo”, quando o time costumava subir o tom, amassar o adversário e decidir tantos jogos em 2019, foram de angústia.

Os dois times parecem ter cansado e o jogo ficou lento demais.
Mesmo assim, no geral, o primeiro tempo foi agradável se comparado ao resto do campeonato até aqui. Ninguém no Brasil está jogando muita bola no momento.

O problema foi a volta do intervalo…
Domenec inverteu os atacantes. Pedro Rocha, que deu calor em Kevin durante todo o primeiro tempo, foi para a direita e deu uma sumida. Bruno Henrique passou para o lado esquerdo e Gabigol foi para o comando do ataque...
Depois de alguns minutos, Autuori desfez a linha de cinco, mas passou a se fechar ainda mais. Jogou o ritmo lá para baixo.

Aí apareceu o grande problema atual do time (). Mais uma vez, ficou refém do ritmo e o jogo ficou muito, muito chato.
O Botafogo se segurava e só saía na boa. O Flamengo quase não acelerava e a transição da defesa para o ataque levava um século. Parecia que nada aconteceria.
Nos últimos 15 minutos, vimos uma mecânica mais parecida com a de 2019. Thiago Maia entrou emulando a dinâmica antiga do meio-campo e foi bem. Além disso, o Flamengo ganhou mais um atacante para povoar a área. Agora sim, o time melhorou e conseguiu encurralar.
Em um mesmo lance, tanto Arão quanto Thiago Maia se movimentaram ganhando espaço nas costas....

Quando conseguia acelerar, o Fla criava, incomodava a defesa do Botafogo, mas continuava esbarrando em um dia ruim do ataque e em um pouco de azar.

No finalzinho, um gol para cada lado. Ambos em lances totalmente isolados.

Empate justo em um campeonato nivelado por baixo até aqui. Todo mundo precisa melhorar. Flamengo e Botafogo jogaram com as cartas que têm no momento. Foi o que deu, mas sabemos que os times podem mais.
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